RA completa 13 anos no AR

sábado, 30 de junho de 2007

Bola da vez

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Ao rasgar a alma, expor as vísceras e se dizer vítima de tentativa de assassinato moral, o senador Renan Calheiros pode até ser muito inteligente, como diz sua ex-amada Monica, mas o estilo é brega demais. O veterano senador Gilvan Borges foi direto ao ponto, com autoridade: "Se for investigar todos os senadores a fundo e levá-los ao Conselho de Ética, não sobra um." Mas não é verdade: sobram todos.

Só os idiotas não perceberam que os Conselhos de Ética não foram criados para punir os parlamentares, mas para protegê-los. Se julgados pela Justiça, mesmo em seus foros privilegiados, eles estão submetidos às mesmas leis e critérios que todos os cidadãos. No Conselho, são julgados pelos colegas, entre o espírito de corpo e o de porco, a solidariedade corporativa e a formação de quadrilha. Não pode mesmo dar certo, na verdade é feito para não dar certo. Sabe como é, brasileiro é muito sentimental.

Com Renan e Roriz sob os holofotes - um tentando provar que tinha e o outro que não tinha dinheiro - o Senado passou a bola da vez e a turma da Câmara está festejando: é um duplo alívio nas atribulações de boa parte de seus membros. A cada novo escândalo, os envolvidos no anterior comemoram: já quase nem se fala em Zuleido e na Operação Navalha. Ninguém se lembra mais os nomes dos sanguessugas. A imprensa e o público estão viciados em escândalos, querem sempre mais, mais fortes. E os envolvidos também.

Ao se solidarizar com Roriz, Renan estava principalmente agradecendo ao correligionário e colega pecuarista por ter dividido o fogo da imprensa com ele. Sabe como é, uma mão suja a outra. Roriz, depois de muito chorar, rezar e pedir compaixão a seus pares, aguarda sereno e confiante o próximo escândalo.

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Vergonha de ser brasileiro



Para quem ainda não viu - ou quer rever -, vídeo do senador Joaquim Roriz se defendendo, em plenário, das acusações de roubo de dinheiro público. Classificação: Patético, execrável, deprimente. Não recomendável para patriotas com tendências suicidas!

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sexta-feira, 29 de junho de 2007

Bate-papo de 'mané' vai parar em Diário Oficial



Publicado na Folha Online

André e Luciana, funcionários da Justiça, conversam pelo MSN, um programa de bate-papo muito popular na internet. Falam mal de Cida, a diretora de um dos cartórios do fórum em que trabalham.

Até aí, tudo normal. Só que a conversa foi parar, na última segunda-feira, no "Diário Oficial" do Estado, bem no meio de um despacho do juiz Antonio Jeová da Silva Santos, da 7ª Vara Cível do Fórum Regional de Santana (zona norte de São Paulo), referente a um processo de despejo por falta de pagamento.

André Leôncio e Luciana Pires começam a conversar pelo MSN às 16h43 do dia 12 de junho. É ela quem começa a conversa: "E ai da pra falar...". E André responde: "To ocupado serviço pra caramba". Às 17h01, André diz que precisa continuar a fazer o serviço de Cida, que tinha acabado de chegar. André reclama que Cida não está executando suas funções adequadamente.

Ele diz que quer chegar a escrivão, mas que não agüenta mais e pretende pedir transferência. Luciana apóia o amigo - a quem chama de "mané" - e diz que vai falar "com o dr. Jeová" para ajudá-lo.

Eles comentam que o juiz está prestes a se aposentar e temem o que acontecerá com a chegada de um novo juiz.

A Secretaria de Comunicação informou por meio de sua assessoria de imprensa que o envio do que será publicado no "Diário Oficial" é informatizado. Cada funcionário autorizado a enviar o material tem uma senha de acesso e a Imprensa Oficial não faz checagem.

O TJ (Tribunal de Justiça) pediu à Imprensa Oficial que verificasse no sistema informatizado quem foi o responsável pelo envio do texto.

A assessoria do TJ informou que já foi instaurado um processo administrativo para apurar o responsável pela irregularidade. O processo será conduzido pelo juiz da vara, que aplicará as punições previstas no Estatuto do Funcionalismo, que vão de repreensão a demissão do serviço público.

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Ronaldos em férias


Ronaldinho acende pira...


e Ronaldo solta pipa

(Fotos das agências Reuters e AgNews)

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Martha Carvalho lança seu novo livro em Resende


Coquetel a partir das 19:30h na Casa da Cultura Macedo Miranda

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Todos são inocentes até julgamento, diz Lula

Ia escrever alguma coisa sobre a última bravata do nosso intrépido presidente quando chegou o e-mail diário do ex-Blog do Cesar Maia destacando, entre outros assuntos (tem uma imperdível análise da batalha do Alemão que depois eu publico), um comentário curto, grosso e direto sobre o discurso reproduzido ontem nas tevês:

"Em boa parte dos casos, a justiça decide apenas qual é a pena. Não se haverá condenação. Aliás, é assim em todos os crimes com flagrante. Esses marginais que espancaram a trabalhadora doméstica? Ainda não foram condenados. Servem como exemplo, Lula? Pare de falar besteira. O que antes passava como arroubos e improvisações, cinco anos depois é grotesco. Vai se perdendo o respeito!"

Pitaco do RA: Ave Cesar Maia!

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Vários brasis

Miriam Leitão, no Globo Online

O Brasil vive grave crise institucional. O Senado se dissolve diante dos eleitores pela incapacidade de fazer a coisa certa: punir quem feriu o decoro. Na economia, há setores que vivem boom: empresas capitalizadas na Bolsa estão aumentando seus investimentos. Os indicadores macroeconômicos nunca estiveram tão bem. No Rio, no Alemão anteontem, foram, pelo menos, 18 mortos e, nesta semana, os tiroteios pararam até o aeroporto. Há vários brasis no atual Brasil.

No Congresso, o espetáculo é desalentador. As explicações dadas pelos políticos apanhados em situação comprometedora desrespeitam a inteligência das pessoas. A rocambolesca história do senador Joaquim Roriz e sua meia bezerra paga com meio cheque de outra pessoa é completamente estapafúrdia.

Certos políticos parecem pensar que somos bobos para aceitar suas explicações pedestres. Roriz pode comprar meia bezerra, o que não pode é pagá-la de forma tão obscura. Ele pode pedir um empréstimo a um amigo com quem vai à missa, mas, de preferência, que ele não seja um concessionário de serviço de transporte público no Distrito Federal, que governou duas vezes. Que o cheque não seja descontado no banco que, por oito anos, esteve sob seu comando.

A Câmara aprofunda a crise ao insistir numa reforma política que aumenta a distância entre o eleitor e seu representante. A hesitação dos senadores, do governo e da oposição, no caso Renan, informa que o comportamento do presidente da casa é considerado rotina no Legislativo.

Enquanto isso, no mundo dos negócios, a venda de caminhões cresce 18% e as fábricas já estão com listas de espera; veículos leves crescem 5%, mas sobre uma base já elevada; o consumo das famílias cresce há 14 trimestres. O setor de shopping centers está em plena expansão: dos shoppings já consolidados, 40% se expandem. Além dos 621 shoppings já existentes, há 60 outros em construção no país. As vendas de computadores continuam ainda em pleno boom. Há esses e muito mais dados vigorosos na economia.

Por outro lado, há uma completa ausência de agenda para pavimentar o crescimento sustentado: não existem propostas de reformas, os investimentos para superar os gargalos logísticos não acontecem, a carga tributária continua alta, não há qualquer estratégia para lutar contra a avassaladora informalidade do país. o caos aéreo, dia sim, dia não, atormenta os viajantes e retira produtividade da economia. A violência produz cenas de país em guerra cotidianamente no Brasil.

Quanto tempo podem conviver tantas realidades diferentes num mesmo país? Uma economia pode ir bem, num clima de guerra urbana, caos logístico e crise intitucional? Pode a economia se descolar do governo e dos políticos e continuar empurrando o Brasil? São essas as perplexidades deste tempo confuso.

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Bando sabia da ação policial

Matéria publicada em O Dia Online

A operação começa na noite de terça-feira. Trinta homens do grupo de elite da polícia, o Batalhão de Operações Especiais (Bope), chegam ao Complexo do Alemão para se basear no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO). Mas naquelas mesmas horas, o vazamento da informação também começava a atrapalhar o planejamento coordenado pelo diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), Allan Turnowski. E assim, os bandidos iniciavam toda a preparação à espera da manhã seguinte.

Às 9h40, quando os 1.350 policiais chegaram ao Complexo do Alemão, estava tudo pronto. Duas horas antes, quando os policiais civis se reuniam no estande de tiro da corporação, no Caju, já se sabia que Tota e seus comparsas estavam com as armadilhas prontas. "As informações que temos é de que são 300 fuzis esperando para nos atacar", disse o delegado Ronaldo Oliveira, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA).

Na entrada pela já deserta Rua Joaquim de Queiroz, acesso à Grota, parecia que a informação se confirmara, tamanha a chuva de tiros que se iniciou. Cada metro avançado era uma vitória. E cada beco, uma agonia.

No meio do caminho, um caminhão-frigorífico

No Largo do Bulufa, a primeira novidade. Além dos trilhos, dessa vez os bandidos jogaram um caminhão-frigorífico dentro de um valão, impedindo o avanço dos blindados. A retroescavadeira teve trabalho, durante quase uma hora, para retirar a "barreira". O objetivo, no entanto, estava mais adiante: "Hoje nós vamos chegar no Areal. Lá é o inferno", resumia o delegado da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), Carlos Antônio Oliveira.

Ele comandava sua equipe e outros agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). O grupo, de quase 50 homens, contava ainda com o apoio de homens do 16º BPM (Olaria), do 18º BPM (Jacarepaguá) e do RPMont (Regimento de Polícia Montada), coordenados pelo coronel Álvaro Garcia. Durante as duas horas até o Areal, o tiroteio não cessou um minuto sequer. Alguns metros acima, com a casa de Tota avistada, o confronto se intensificou.

Rastro de sangue

Foram mais 40 minutos para conseguir subir. Policiais civis cercaram de um lado e PMs por outro. E o grupo que fazia a contenção do "chefão" da favela tentou fugir pela mata, na descida do Morro dos Mineiros. Uns conseguiram. Outros nove não. A troca de tiros foi deixando rastros de sangue pelos becos. A casa de Tota estava vazia. "Sabemos que ele ficou escondido no Caboclo (localidade atrás do Areal) com tiro na perna", explicou agente da Drae.

Mais acima, dois esconderijos estourados aumentaram a sensação de missão cumprida, com a apreensão do arsenal de armas e de drogas. "O Tota a gente pega na próxima vez", disse Oliveira.

Esconderijo de dois andares

Tota costumava se vangloriar, dentro do Complexo do Alemão, dizendo que jamais fugiria de sua casa, no Areal, já que lá ninguém conseguiria chegar. Ontem, porém, o bandido se viu cercado e teve de deixar para trás o confortável abrigo que vem construindo. O imóvel de dois andares, de pintura azul-clara, tinha tudo de típica residência de família de classe média. Ar-condicionado nos dois quartos, sala e ante-sala com três sofás, duas televisões de 29 polegadas, armários, mesas e camas modernas. A cozinha também não deixava a desejar: um fogão de seis bocas e uma geladeira avaliada em cerca de R$ 3 mil. Ainda há um gigantesco banheiro nos fundos da casa. No espaçoso terraço da residência, as obras não acabaram.

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quinta-feira, 28 de junho de 2007

Os números da guerra do Alemão


Jornais estampam imagens da batalha de ontem

O ataque ao Alemão contou com um efetivo de 1.350 policiais militares e civis.

19 pessoas morreram durante o confronto. No entanto, policiais não descartam a possibilidade de encontrar mais corpos de criminosos dentro das favelas. O chefe do tráfico local, conhecido como Tota, estaria ferido na perna.

Sete escolas e uma creche permanecem fechadas nos arredores do conjunto de favelas. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 4,6 mil crianças continuam sem aula.

As operações policiais já duram 59 dias, e contabilizam 84 feridos e 46 mortos.

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quarta-feira, 27 de junho de 2007

Morro do Alemão tem o seu 'Dia D'




























Fotos das agências Reuters e AFP

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Crespo diz que argentinos ganham a Copa América

Publicado no La Nación e traduzido pelo RA

Hernán Crespo não é um jogador qualquer: há mais de 12 anos veste a camisa celeste e branca da seleção argentina. Aos 31 anos, com várias voltas olímpicas no currículo, sua obsessão tem nome de mulher: Argentina. E é nessa direção que aponta a conversa com o repórter de La Nación. "A Argentina é sempre candidata, muito além dos homens e dos nomes. Pelo que significa a sua história, é candidata em todos os torneios."

Ao contrário do Brasil, os argentinos querem jogar todos os torneios. Por que isso ocorre?

Bielsa falava do "espírito amador" dos argentinos, porque todos nós queremos estar em nosso país. A seleção argentina é isso. Hoje, ela não serve de trampolim para um passe, muito pelo contrário. Existe um prestígio e temos que defendê-lo. Nós argentinos temos um algo mais: não nos importa viajar 20 horas para um amistoso. Queremos ir, jogar, ficar no banco, na arquibancada, não importa. Queremos participar. Na Europa não nos entendem. Faz mais de dez anos que fazemos isso e conservamos a alegria de jogar.

É uma vantagem jogar com um time brasileiro de reservas?

Ganhar do Brasil é sempre bom, muito mais que ganhar de seus jogadores. Seria ótimo que disputássemos a final, mas pelo que pude ver no programa, é mais provável que nos enfrentemos nas semifinais. Se tudo correr bem, é isso o que vai acontecer. Brasil é sempre Brasil, tem grande jogadores.

E dá para imaginar uma possível final?

Sinto que vamos ganhar a Copa América. Só depende que esse nosso grande plantel de jogadores se converta numa grande equipe.

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Eliana bomba no 'YouTube'

Da coluna Zapping, na Folha Online

O vídeo de Eliana cantando "Vai Tomar no C..." no YouTube era um dos brasileiros mais vistos da semana, até ontem de manhã, com 64.500 exibições.

Pitaco do RA: Excelente! Ainda não assistiu? É só clicar na setinha aí embaixo.

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terça-feira, 26 de junho de 2007

Eliana Dedinhos canta o clássico 'Vai tomar no cu'



Dica do RA: Para assistir o vídeo sem interrupções, deixe rodar a primeira vez até o final e repita.

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Lula endurece e gratifica

Ontem no Jornal Nacional - que aos poucos vai se tranformando no Jornal do Lula -, nosso destemido presidente deu mais um "duro" ultimato à Aeronáutica para que resolva o problema dos controladores de vôo (como diz o grande Cony aí embaixo, "eles que se entendam!"). Depois de dizer o óbvio ululante de sempre, Lula anunciou - também de modo "duro" e enfático - uma gratificação aos insubordinados, desde que eles se mantenham na linha. Mais ou menos como um cidadão que comete um crime e o delegado, ao invés de prendê-lo, endossa a sua conduta e ainda lhe dá uma grana para começar vida nova.

Este é o jeito Lula de "governar": quando é obrigado a pegar no batente - nos poucos intervalos entre uma viagem e outra para participar de reuniões que nunca levam a nada, tipo G8, G5, Mercosul etc -, nosso resoluto presidente se faz de morto e deixa que os problemas se resolvam por si mesmos. E quando a coisa complica, como agora, ele esbraveja, faz cara feia e "exige", na televisão e no rádio (em seu Café com Bobagens), que os envolvidos tomem as devidas providências. E aí, quando ninguém toma providência nenhuma, Lula promete uma gratificação a quem resolver o problema por ele.

Assim, com a economia no piloto automático, sem qualquer crise internacional à vista, com muitas viagens na agenda e nenhuma disposição de resolver as graves crises que o país enfrenta, nosso incólume presidente vai cumprindo o segundo mandato rebocado exclusivamente pelo seu carisma "de gente do povo" e pelas suas bravatas que não metem medo em ninguém. Afinal, todos sabem: cão que ladra, não morde.

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"Onde está o presidente?"


Folha Imagem

Carlos Heitor Cony, na Folha Online

Num desses telejornais, vi o desabafo de um cidadão que não obedeceu ao conselho da ministra do Turismo para relaxar. Tomou o microfone da jornalista e gritou: "Onde está o presidente? Há algum presidente neste país?".

A cena era patética e já conhecida de todos. Gente deitada no chão, pessoas doentes chorando, o diabo. Onde estava o presidente? A pergunta pode parecer exagerada (não a cólera), mas há razão para ela. A crise no setor aéreo pertence ao Executivo, cujo chefe maior está omisso, dando conselhos e invocando um trabalho que não aparece.

Lembro dois casos. JK tomou posse na Presidência e, dias depois, rompeu-se a barragem de Orós. Ele deslocou todo o governo para lá e só voltou ao Rio após tomar as medidas executivas para resolver o problema pessoalmente, embora não fosse engenheiro nem ainda tivesse tomado pé da chefia da nação.

Outro exemplo: Carlos Lacerda, ex-governador da Guanabara, teve um problema de rompimento na adutora do Guandu em construção. A cidade ficaria sem água. Lacerda pegou uma cadeira, sentou-se no local da obra e só saiu dali no dia seguinte, com o problema resolvido.

Tanto num como no outro caso, a presença física do presidente e do governador apressaram a solução do caso. Evidente que Lula não precisa bivacar no saguão dos aeroportos. Mas a presença dele nos segmentos em crise, tomando providências imediatas sem delegação a terceiros, daria um cenário novo ao apagão aéreo.

Passar a responsabilidade para a cadeia hierárquica do comando vem revelando inutilidade operacional e insensibilidade política. Dá a impressão que ele está fazendo tudo quando mantém os mesmos homens nos mesmos cargos e não toma a iniciativa que se espera de um chefe do Executivo.

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Jornais argentinos comentam nossas crises

Matéria da BBC Brasil

"Aeroportos do Brasil estão fora de controle"

O Brasil viveu na segunda-feira um dia próprio do filme "Apertem os Cintos - O Piloto Sumiu", com os aeroportos do país fora de controle, segundo afirma reportagem publicada nesta terça-feira pelo diário argentino La Nación.

"Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenava à força aérea que pusesse 'a casa em ordem' e dobrasse os controladores de vôo insubordinados, o aeroporto do Rio de Janeiro ficou paralisado por um tiroteio entre traficantes, e em São Paulo dois aviões chocaram suas asas quando estavam em terra", relata a reportagem.

O jornal observa que "o sistema de aviação civil do Brasil vive uma situação caótica há nove meses, com atrasos e cancelamentos de vôos devido a exigências sindicais dos controladores - sob supervisão militar - e falhas técnicas em radares, computadores e sistemas de comunicação".

A reportagem relata que, em seu programa semanal de rádio, Café com o presidente, Lula disse ter ordenado ao comando da aeronáutica "colocar a casa em ordem" e que o sistema de aviação civil brasileiro é "seguro".

"Mas enquanto as palavras de Lula eram emitidas pelo rádio, os dois principais aeroportos do país viviam sua própria realidade", afirma o jornal.

"Corrupción nao tem fim"

Assim, misturando espanhol e português, outro jornal argentino - Página/12 - relata nesta terça-feira o novo capítulo nos escândalos de corrupção no Brasil, com as acusações contra o senador Joaquim Roriz, ex-governador de Brasília.

"Correligionário de outro parlamentar acusado de corrupção, Renan Calheiros, presidente do Senado, Roriz também pode ser processado por violação da ética parlamentar", comenta o jornal.

A reportagem afirma que "a julgar pelos indícios disponíveis, a situação de Roriz é mais comprometida que a de Calheiros, que na semana passada não conseguiu que seus pares o absolvessem".

"Roriz foi pego por escutas policiais quando negociava com um cúmplice, o ex-presidente do Banco Regional de Brasília Tarcísio Franklin de Moura, atualmente em liberdade condicional, a divisão de US$ 1,1 milhão de origem desconhecida", relata o jornal.

Para a reportagem, o novo escândalo não afeta diretamente o presidente Lula, mas estremece a articulação do governo no Congresso, já que tanto Calheiros quanto Roriz pertencem ao PMDB, principal partido aliado do presidente em seu segundo mandato.

"O PMDB, além disso, é o maior partido dentro do Congresso nacional. Isto significa que sua participação na base aliada de Lula é essencial para levar adiante a agenda legislativa do Palácio do Planalto", afirma o jornal.

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domingo, 24 de junho de 2007

Especial 'O Rei do Gado'


O que pensam Fernando Gabeira, Verônica Calheiros e Mônica Veloso sobre o senador Renan Calheiros (Ilustração de Cadu Tavares)

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'Renan intimidou senadores e teve oposição fácil'

Entrevista do deputado Fernando Gabeira publicada hoje no Estadão:

Como tipificar a pior irregularidade cometida por Renan?

Aconteceu uma sucessão de irregularidades. A primeira foi ter uma relação tão confidencial com um lobista, que detinha segredo importante dele, que, como presidente do Congresso, dirige a votação do Orçamento que direciona recursos que interessam à empresa do lobista. A segunda foi que apresentou ao Conselho de Ética uma relação de documentos que foram desmentidos. Mentiu com documentos. A terceira foi fazer reuniões e controlar pelo telefone os debates no conselho que está julgando seu caso - enquanto ele continua na presidência do Senado.

Por que os partidos colocaram no Conselho de Ética do Senado os amigos do rei, em lugar dos parlamentares mais respeitados?

Os senadores mais importantes foram afastados. Entraram os suplentes, que não têm voto e que, por isso mesmo, estariam menos infensos à pressão da opinião pública.

E o que mais Renan fez de errado?

Em primeiro lugar, usou os suplentes. Segundo, ameaçou usar as confidências que detém, no sentido de intimidar. Há senadores que estão intimidados - aquela coisa do “eu não caio sozinho”. Terceiro, a oposição de hoje não tem as mesmas características da oposição de antes e é muito mais voltada para o acordo e a conciliação do que para o combate.

Não há uma fórmula para montar um Conselho de Ética sem o crivo das lideranças partidárias e da Mesa do Senado?

Foram feitas muitas tentativas. Uma delas foi levar a escolha do conselho para o plenário. Não conseguimos vencer. Mas é importante registrar que participar do conselho traz muitas dificuldades. Se você se dispõe a julgar pessoas com quem convive, começa a atrair uma certa hostilidade, a ser criticado por supor que seja melhor que os outros. O papel do parlamentar que participa do Conselho de Ética, num espaço em que a ética está sujeita a interpretações muito elásticas, é sempre incômodo.

O sr. se sente incomodado?

Na verdade, eu não exijo tanto. Eu procuro entender aquelas questões em que sinto que a imagem e a legitimidade do Congresso estão em jogo. Procuro evitar aqueles momentos que, no meu entender, conduzem ao suicídio institucional.

Julgar rapidamente os parlamentares acusados de corrupção é possível ou essa é uma discussão inútil?

Não considero que seja uma discussão inútil. Nós temos um caminho, a Frente contra a Corrupção, e há projetos, a serem apresentados, que vão dificultar a corrupção ou reduzir a impunidade. Mas dentro do Congresso a única forma que nós temos para equilibrar o jogo é o apoio da opinião pública. Veja você: dos 72 acusados na CPI do Sanguessugas, apenas 5 foram reeleitos. A bancada dos evangélicos foi reduzida em 50%, não porque fossem evangélicos, mas porque se envolveram com o caso dos sanguessugas.

De toda forma, a dissociação entre o Congresso e a sociedade é espantosa. O que pode aproximar os dois, de uma forma efetiva?

A sucessão de escândalos vai produzir mais comoções. Vejo essas comoções como expressões de um movimento contínuo que tende a produzir um resultado. Por que nós achamos que o Brasil é tão grotesco? Por que os caras (acusados) da Operação Navalha parecem os Irmãos Metralha? Porque as instituições melhoraram, a tecnologia avançou, os mecanismos de controle se aperfeiçoaram e a mídia é mais atuante. A contradição entre o Brasil moderno, que amadureceu, e o sistema político apodrecido fica mais dramática e exige uma solução. A única dificuldade é que as modificações do sistema político dependem dele mesmo. Os reformadores têm interesses que estão em jogo na reforma. Isso vai determinar limites.

O senhor, que nunca se meteu num “rolo”, consegue explicar por que os políticos se metem em tantos “rolos”?

Nossos políticos sempre foram, de alguma maneira, complicados. Mas, como os mecanismos de controle avançaram, está existindo um novo tipo de comportamento. Na verdade, o caso de Renan é o mais típico dos “rolos” brasileiros. Se você abstrair a questão sentimental, sexual, e examinar o que se passa entre eles, vai ver que o problema do político brasileiro é que ele enriquece ganhando um salário muito pequeno. E normalmente enriquece anexando a seu patrimônio pessoal a riqueza do Estado. Muita gente que entra na política brasileira hoje, entra com interesse de enriquecer.

Os políticos brasileiros de hoje são tão corruptos quanto os de antigamente?

A capacidade de investigação aumentou. Nos anos 50 não havia capacidade de interceptar ligações telefônicas como há hoje, não havia capacidade de filmar como hoje, não havia internet para fazer conexões entre o que se declara e o que se denuncia. Os mecanismos de controle é que evoluíram.

A internet parece ter-se tornado hoje o grande mecanismo de controle e investigação.

Acho que sim. É um grande mecanismo para reduzir os custos da governança e para controlar a governança através da transparência.

A corrupção na política brasileira é igual, maior ou menor que nos outros países democráticos?

Na Europa e nos Estados Unidos a corrupção é mais administrável. Lá, o sistema eleitoral é implacável com quem comete deslizes. É muito raro a pessoa voltar à cena depois de um processo de corrupção. Isso já acontece aqui no Rio Grande do Sul. Lá a impunidade é muito menor. O problema é o foro privilegiado, que dificulta muito punições. Todos os processos ligados a políticos vão para o Supremo Tribunal Federal. Isso significa absolvição.

Nos últimos 20 anos o Brasil viveu seu período democrático mais franco. O Congresso nunca teve tantos representantes populares. No entanto, nunca houve tantas acusações de corrupção. Como explicar essa contradição?

Não existe contradição entre os avanços da democracia e aumento da corrupção. Quando a democracia avança, os mecanismos de representação se ampliam. Temos hoje no Congresso uma representação muito mais diversificada, às vezes beirando o folclore. Não podemos pensar numa melhoria da representação como o único horizonte positivo. Pessoas com tendência à corrupção virão sempre, e em número cada vez maior. Temos de reduzir as possibilidades de que elas se corrompam. Em vez de mudar as pessoas que estão chegando, vamos eliminar as probabilidades de elas se corromperem.

Qual a relação entre corrupção e o tamanho da máquina do Estado?

De um lado, nós temos instituições que avançam e um sistema político apodrecido. Essa contradição se entrelaça com outra, que é o fato de a máquina do Estado ser muito grande e se tornar um obstáculo ao desenvolvimento. Em termos de legitimidade, é importante combater a corrupção e, também, reduzir e tornar mais eficaz a máquina do Estado. A dificuldade é que as pessoas capazes de promover essa redução hoje são as principais interessadas na não-redução.

Invasões de prédios públicos e de terras, greves no serviço público, caos dos aeroportos, invasões em universidades. Não está passando dos limites?

Existem limites para essas manifestações. A greve do Ibama é contraditória. Não se pode defender o meio ambiente e, simultaneamente, abandonar a gestão da área. A invasão de Tucuruí pelo movimento barrageiro é perigosa para o País. A invasão da reitoria da USP é uma forma de atuação política equivocada. Estou disposto a discutir a greve no serviço público. Disseram que estou me transformando num reacionário. Não sei se é reacionário quem defende o Estado de Direito. Houve um momento em que defendi a ruptura, não com o Estado de Direito, mas com o sistema ditatorial. Mas uma vez implantado o Estado de Direito, meu compromisso é com ele, já que não sou mais socialista nem pretendo derrubar o capitalismo.

É contraditório um partido ter, na oposição, estimulado todo tipo de protestos de servidores e, ao chegar ao poder, elaborar um projeto contra greve de servidores?

Existe essa contradição. O governo vai ter que se definir. Muitos quadros do governo têm simpatia por esses movimentos; o governo é agradecido a esses movimentos, que o colocaram no poder. Mas o governo tem de admitir que foi colocado no poder para gerir o capitalismo, e não para fazer uma transição para o socialismo. É este o acordo tácito que foi feito. Então, ele tem de ser o guardião do Estado de Direito. Se ele não fizer isso, quem vai fazer?

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'Homem é mesmo muito besta!'

Mulher de Renan Calheiros diz que marido foi vítima

Trecho de matéria publicada hoje no Estadão:

Três relatores, 12 horas de debates e 15 representantes de 7 partidos não foram suficientes na semana passada para desempatar as dúvidas que rondam o Conselho de Ética do Senado sobre o decoro parlamentar do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em compensação, o decoro conjugal do senador produziu comentários animados entre os parlamentares. Da casa oficial onde mora em Brasília, a mulher de Renan, Maria Verônica Calheiros, observou a espiral política que paralisou a pauta do Congresso Nacional e reduziu tudo em uma notável reflexão doméstica: “Não sei como meu marido caiu nessa... Homem é mesmo muito besta!

Verônica Calheiros é uma mulher de 43 anos. Fala com um timbre de voz infantil e prefere frases longas. Fez faculdade de Artes Plásticas, é evangélica e gosta de cuidar de suas mais de mil matrizes de orquídeas. Integra a crise no papel da esposa que perdoou uma retumbante traição do marido - uma espécie de Hillary Clinton tropicalizada. “Escolhi lutar pela minha família e faço o que for preciso para isso”, disse ela ao Estado, em conversa por telefone.

Há quem diga no Congresso que Verônica defende o marido publicamente para ajudá-lo a tirar o foco do escândalo político e transformá-lo em mero bafafá extraconjugal. Ela afirma que simplesmente enxerga o caso de alcova que abalou o Congresso como uma daquelas tentações que rondam o poder em Brasília. "Renan foi a maior vítima nisso tudo. Ele e a criança. Ele, claro, também tem culpa, porque todo ser humano é falho. Mas todos sabem que existe um assédio em cima dos representantes do poder. Fiquei surpresa por ele ter caído..."

Na semana em que Mônica Veloso mandou seu advogado contar no Senado como Renan Calheiros lhe mandava dinheiro vivo por meio do representante de uma construtora que toca obras públicas, a primeira-dama Verônica Calheiros seguiu sua rotina de ginástica e orquidários, mas continuou a defender a tese de que seu marido “pode até ter sido ingênuo”, mas foi vítima de uma mulher capaz de usar o poder do útero contra a República.

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'Hoje sou o terror de Brasília'


Ex-amante de Renan Calheiros diz que não é alpinista social

Trecho de matéria da Folha Online:

Pivô da crise que ameaça derrubar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a jornalista Mônica Veloso, 38, pensa em se mudar de Brasília: "Virei o terror da cidade".

Com uma filha de três anos, fruto do relacionamento com o senador, Mônica nega que tenha chantageado Renan e afirma que amou o peemedebista. "Amei, amei muito." Ela diz que os dois nunca procuraram se esconder e que, no início, Renan dizia que estava separado.

Após o escândalo, passou a ser reconhecida na rua. Diz ter apoio da família e dos amigos, mas afirma que "a sociedade, em geral, tende a recriminar" a mulher em casos extraconjugais. Ela nega que, antes de Renan, tenha namorado outros políticos.

"Não sou alpinista social", diz a mineira de Nanuque, criada em Belo Horizonte.

Com 1,70 m e 58 kg, ela começou a carreira fazendo comerciais em Cuiabá (MT), mas não gosta do rótulo de modelo. Não descarta posar nua e gostaria de comandar um programa de entrevistas na TV. Questionada se é uma mulher bonita, desconversa: "Fotografo bem".

Mônica faz questão de se dizer "extremamente religiosa" - embora, em seguida, admita que vá pouco a cultos. Ela se diz evangélica, batista, apesar de ser adepta do Vale do Amanhecer: "Sou crente nova".

A jornalista diz que não está namorando e que tem preferido se dedicar às duas filhas. Freqüenta a academia de duas a três vezes por semana, gosta de sair para jantar e diz que dispensa festas e dança mal.

Está relendo o best-seller "Quando Nietzsche Chorou", de Irvin D. Yalom. Cinéfila, inclui "Os Infiltrados", de Martin Scorsese, entre os preferidos: "Adoro filme inteligente".

Diz que adora moda, jóias e maquiagem, mas não é do tipo que "desconta o emocional" no shopping: "Vou para a análise".

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Hora de partir


Trecho de matéria publicada na Veja Online

Desde que o escândalo estourou, há um mês, é a primeira vez que o Senado parece perceber que as estripulias do senador Renan Calheiros estão afundando a própria instituição. É cedo para dizer que o Senado, finalmente, vai reagir, mas começam a aparecer os primeiros sinais nesse sentido. Com tudo o que já veio à tona – sobre suas relações promíscuas com o lobista, sobre as mentiras que contou aos senadores, sobre sua defesa, que requer sempre um complemento – Renan Calheiros perdeu as condições de manter-se na presidência do Senado. Ou Renan deixa o comando da Casa. Ou a Casa afunda com Renan. Os pedidos para que se afaste começaram com o senador Pedro Simon, do PMDB gaúcho. "Eu acho que este é o momento em que sua excelência, por conta própria, deveria renunciar ao seu mandato de presidente do Senado." Outros três senadores defenderam o mesmo. Renan não lhes deu ouvidos. Disse que renúncia é uma palavra que não existe no seu dicionário.

Paradoxalmente, o próprio Renan deu o impulso que faltava para que o Senado recuperasse um pouco de lucidez com sua defesa tão inconsistente. O senador entregou um pacote com extratos bancários, declarações de renda, notas fiscais, recibos e guias de transporte animal, as GTAs, que autorizam o trânsito de animais vivos. Sua idéia era provar que, entre 2003 e 2006, teve rendimentos de 1,9 milhão de reais com a venda de gado. Com isso, provaria que tinha recursos para bancar a pensão de 12.000 reais que pagava à jornalista Mônica Veloso, mãe de sua filha, sem recorrer aos favores financeiros do lobista da Mendes Júnior. Deu tudo errado.

Em apenas dois dias úteis de trabalho, a perícia da PF examinou os papéis e descobriu flagrantes inconsistências. Com as notas fiscais, o senador tentou provar a venda de 2.213 cabeças de gado, que supostamente lhe renderam 1,9 milhão de reais. Ocorre que as GTAs registram a venda de 1.702 cabeças de gado – das quais, para piorar, 549 nem pertenciam ao senador, mas a seus parentes. Resultado: o senador reuniu papéis que informam a venda de 1.153 animais, o que lhe renderia cerca de 1 milhão de reais. De onde vieram os outros 900.000 reais? Quando se confrontam as notas fiscais e GTAs com as declarações de imposto de renda do senador o resultado é dramático. É tal o volume de contradições que é custoso acreditar que Renan tenha apresentado esses papéis como peça de defesa. O conjunto mais parece obra de inimigos dispostos a desmascará-lo, porque nada bate com nada.

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Guido Salim Mantega Maluf

Clóvis Rossi, em Genebra, na Folha Online

De tanto correr velozmente para a direita, o lulo-petismo acabou marcando encontro com o malufismo. Se alguém se lembra, Paulo Salim Maluf foi o primeiro a lançar a tese do "estupra, mas não mata". Marta Suplicy correu atrás e cunhou sua versão reduzida e "light" da frase, o tal "relaxe e goze". Como todo mundo deve lembrar, a frase original é "se o estupro é inevitável, relaxe e goze". O desprezo ao público é idêntico. Agora vem Guido Mantega, o ministro da Fazenda, com sua própria teoria sobre o caos nos aeroportos.

"É a prosperidade do país, mais gente viajando, mais aviões nas rotas", viaja Mantega.

Paulo Salim Maluf, quando era prefeito, também criou a sua própria teoria do caos como fruto da prosperidade. Comentando os congestionamentos nas ruas de São Paulo (não em seus aeroportos), disse que era fruto do progresso, de mais gente ter carro. Mantega começa por passar distraidamente por cima do fato de que não há mais aviões nas rotas. Há menos, a partir do momento em que a Varig entrou em colapso e cortou várias rotas.

Depois, Mantega também passa distraidamente por cima do fato de que a prosperidade da China, para não falar da dezena de países que crescem bem mais que o Brasil, não causa congestionamentos nos aeroportos, pelo menos não no patamar indecente em que ocorrem no pobre país tropical.

Por fim, o ministro poderia, antes de falar bobagens, entender-se com seu chefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem a culpa da crise não é da prosperidade, mas do boicote dos controladores. Se se entendessem, talvez o distinto público tivesse o alívio de saber que as autoridades ao menos sabem o que de fato está acontecendo. Já esperar que, sabendo, resolvam o problema seria realmente pedir demais.

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sábado, 23 de junho de 2007

Aniversariantes do dia


Ferrari, 60 anos


Dercy Gonçalves, 100 anos

(Fotos Globo Esporte e Agência Estado)

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Novela ao vivo


Suplente Wellington Salgado (Folha Imagem)

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Descobrir se a mesada da amante do senador era paga por um lobista amigo virou apenas um detalhe. Sórdido, é verdade, mas foi só o ponto de partida para uma novela patética e às vezes hilariante, que estou acompanhando ao vivo pela TV Senado, em meu laptop sem fio, nas praças e cafés deste mundo tão distante aqui de Amsterdam.

De longe, tudo fica mais claro, os personagens mais definidos, a trama mais reveladora. É uma produção mambembe, os atores são canastrões, os figurinos horrorosos, os cabelos nem se fala. Receio que a sorridente holandesa que toma café ao lado me pergunte o que há de tão interessante e engraçado na minha tela, para me manter tão atento e provocar tantas gargalhadas e palavrões. Mas ela pergunta.

Seria difícil explicar que aquelas figuras são a elite política de meu país e que elas me revoltam, divertem e envergonham na mesma intensidade, nessa novela ao vivo. Mas tentei.

Arregalou os olhos quando lhe mostrei o presidente da Comissão de Ética, o intrépido Sibá, eleito sem um voto, representante dos povos da floresta. Europeu adora essas coisas de floresta.

Vendo o sergipano Almeida, feroz e ameaçador, ela achou logo que era um vilão. Tentei explicar a tropa de choque do presidente acuado, identificando seus combatentes.

É uma tropa chocante, as imagens não mentem, nem seria preciso dar as biografias dos personagens. Ela fica fascinada com a cabeleira do suplente Salgado e mais ainda quando informo que se trata de um educador - é formado em educação física e doutor em educação à distância. Ela ri e me chama de mentiroso.

Como não posso seguir "Paraíso tropical" daqui, vou me contentando com a novela da TV Senado: apesar da canastrice do elenco, a trama é eletrizante. É a cara do Brasil.

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Quem sai aos seus não pagodeia






Banda 'Over Six', do filhão Rafael (esq.), no CCRR sábado passado

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sexta-feira, 22 de junho de 2007

Horror Nacional

O Jornal Nacional que acabou há pouco foi de embrulhar o estômago de qualquer cidadão que acompanha a novela "Caos Aéreo" desde o início, ou seja, desde que dois ou três "controladores" causaram o mais grave acidente aéreo do país. As cenas dos aeroportos lotados de gente desesperada para chegar ao seu incerto destino falam mais que mil discursos oficiais. As entrevistas com os protagonistas da trama - os "sem-vôo" - são constrangedoras. O turista americano em Copacabana pergunta: "por que tantas desculpas para os atrasos e nenhuma solução?"; a brasileira em Cumbica, chique e articulada, responde com desdém: "o nome disso é 'incompetência'!"

Falar mais o quê? Analisar mais o quê? Esclarecer mais o quê? Perguntar mais o quê? Tudo já foi dito nesses nove longos meses aqui no RA e em todos os blogs, jornais e revistas do país e do mundo. À imprensa só resta repetir as mesmas palavras, as mesmas matérias, as mesmas cenas. No Jornal Nacional - que deu agora para puxar o saco do Lula (será por medo de que ele imite o Chávez e comece a fechar emissoras de televisão?) -, a repórter Zileide Silva emposta a voz para dizer que o presidente exigiu medidas duras (ui!) da Aeronáutica para acabar com a crise.

Muito bem, Zileide. Mas não foi exatamente isso o que o seu grande presidente disse três meses atrás, quando cobrou dia e hora para a resolução do problema? Pois é. Logo em seguida aparece o ministro Sato discursando em traje de gala à frente de um cenário de bandeiras multicores (digno de filme sobre ditaduras terceiro-mundistas). Suas palavras? As mesmas de três meses atrás, só que, dessa vez, ele pôde anunciar uma punição "exemplar" aos supostos chefes da rebelião: a transferência sumária para o controle de vôo de aviões militares! Seria cômico se não fosse trágico.

O restante do HN (Horror Nacional) foi dedicado, em grande parte, ao Rei do Gado, o quase ex-senador Renan Calheiros e, também, à corja de suplentes (os "sem-votos") que, aos poucos, vai dominando o Congresso. Como se não bastassem os bandidos eleitos, agora temos de engolir também gente da estirpe de um Sibá Machado ou de um Wellington Salgado dizendo aos repórteres (pobres repórteres!) o que é melhor para o Brasil (pobre Brasil!!) na atual conjuntura.

No final, o correspondente em Washington fecha a matéria lembrando que nos EUA não existem suplentes: quando um congressista morre, realiza-se uma nova eleição para o seu substituto. Ou seja, na gloriosa América não existe "sem-voto". Também não existe "sem-vôo", "sem-terra" e, muito menos, "sem-governo". Ainda que seja o Bush.

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A revolta dos bois


Charge do Néo Correia

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quinta-feira, 21 de junho de 2007

Da nova série 'RA no PAN'




Estádio Olímpico João Havelange

(Fotos enviadas por Cesar Maia)

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A verdade sobre o cerco ao Alemão

Do Ex-Blog do Cesar Maia (via e-mail)

Notas recebidas de um delegado da polícia (texto alterado na forma para evitar identificação):

1. Não há nenhuma ocupação do complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. O que há é um cerco com vistas a asfixiar os traficantes quanto ao abastecimento de drogas e armas.

2. São apenas uns 20 policiais em rodízio, o que não dá mais do que para uma asfixia parcial.

3. As armas são ativos, ou seja, não precisam ser trocadas por um longo período. As drogas podem ser comercializadas à distância durante um período médio e com o ir e vir de "moradores".

4. Quanto à munição, não há explicação depois de quase dois meses. Os paióis não resistem a tanto tempo com tiroteios freqüentes. Os traficantes estão usando munição à vontade. Aos PMs faltam munições para um treinamento de tiro flexível nos stands!

5. Portanto, não há dúvida de que a munição está entrando à vontade, seja por cumplicidade, seja por asfixia insuficiente, seja por buracos na rede.

6. A movimentação dos traficantes no alto do morro se dá como um passeio. Ou seja, não temem invasão.

7. Uma mudança: antes os traficantes esperavam a entrada da policia e atiravam à pequena e média distâncias. Agora estão atirando à longa distância, o que aumenta os riscos para a população e o leque de alcance das balas perdidas.

8. Ou a polícia ocupa logo o morro ou continuará enxugando gelo.

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Cinco vezes Luana











Fotos de JR Duran

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terça-feira, 19 de junho de 2007

A verdade dos fatos

No caso Mangabeira-Lula, não sei qual dos dois é o pior: se o primeiro - por ter aceitado o "convite" do Lula (na verdade, uma imposição do José Alencar), depois de ter pedido o impeachment do próprio e de declarar o seu governo o mais corrupto da história do país - ou o Lula, por ter convidado o Mangabeira para assumir uma secretaria (na verdade, um novo ministério) criado especialmente para ele, e por ter mantido o "convite" depois da saraivada de críticas disparadas pela imprensa e por políticos de todos os partidos, inclusive os aliados.

No Jornal Nacional, as cenas constrangedoras da posse, o discurso raivoso do Mangabeira (será que aquela cara de maluco é normal nele?) justificando o injustificável, e o discurso do Lula, brilhante como sempre, dizendo que "se o Brasil quer ter uma política de longo prazo é preciso pensar numa política de longo prazo". Incrível! Sensacional! Como é que ninguém pensou nisso antes? Coisa de gênio.

Lula só não disse que juntos com o novo ministro, tomam posse 80 novos funcionários públicos (seus assessores), todos eles sem concurso e com salários que deixariam qualquer trabalhador honesto morto de vergonha da vidinha que leva para pagar os inúmeros impostos que sustentam os cada vez mais numerosos bandidos do planalto. Como se isso não bastasse, Lula também criou outros 624 cargos de confiança para agradar a corja que o apóia nas canalhices que rolam diariamente no congresso (sem falar no recente aumento salarial de mais de 100% concedido a funcionários públicos).

E falando em canalhices, o Pecuarista do Ano, Renan Calheiros, disse, também no Jornal Nacional, que está tranqüilo em relação ao veredito do Conselho de Ética (que deve sair amanhã), pois "a verdade dos fatos prevalecerá". Se isso realmente acontecer, ele pode ir se despedindo da sua confortável cadeira de presidente do Senado, já que os fatos (descobertos e divulgados pela Veja e pela Globo) o incriminam até a raíz dos cabelos. Se tudo der certo, ou seja, se a verdade dos verdadeiros fatos prevalecer, logo teremos mais um bandido fora da vida pública. Pena que para um que sai, entram oitenta.

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sábado, 16 de junho de 2007

Últimas do Millôr

A China demonstra: Pra vitória definitiva do comunismo só estava faltando o capital.

O lucro, disse o banqueiro, é minha pátria. Justificando ter se naturalizado paraguaio.

Patriotismo é quando você ama seu país mais do que qualquer outro. Nacionalismo é quando você odeia todos os países, sobretudo o seu.

Essa popularidade que tanto apregoam é apenas o aplauso de quem aceita o muito ruim porque já desesperou do muito pior.

Nunca tantos deveram tanto a tão porcos.

Quer mais? Visite o Millôr Online.

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Bom dia, amigos do RA!


Café da manhã na padaria só não é melhor do que cerveja no boteco

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sexta-feira, 15 de junho de 2007

Imagens de sexta


Camila Pitanga arrasando na São Paulo Fashion Week





(Folha Imagem e Agência Estado)

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Uma ótima notícia

A Rede Globo exibe hoje o último capítulo de "Pé no Saco".

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Uma péssima notícia

A Rede Globo reprisa amanhã o último capítulo de "Pé no Saco".

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Da nova série "Cascatas Palacianas"



Renan: Na verdade, presidente, tudo o que tenho devo ao meu gado.

Lula: Faz sentido, copanhêro, faz sentido...

(Folha Imagem)

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A voz dos caminhantes

Papo de dois amigos na pista do Parque das Águas:

Caminhante A: Você ouviu o que o Lula disse sobre o irmão Vavá?

Caminhante B: Hum, não me lembro.

Caminhante A: Disse que o Vavá não tinha nível intelectual para ser lobista...

Caminhante B: Ainda bem que não se exige nível intelectual para ser presidente da República!

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As aventuras de Pequeno Bush



Desenho animado irreverente ridiculariza a vida política nos EUA

Do El País

A nova série de desenhos animados do canal a cabo Comedy Central - que lançou à fama "South Park" - está cheia de incorreção política. O que nos EUA é sinônimo de escândalo. "O Pequeno Bush, Residente dos Estados Unidos", além do próprio, tem diversos personagens da recente história americana, quase todos pequenos. São eles: o Pequeno Cheney (vice-presidente Dick Cheney), a Pequena Condi (secretária de Estado Condollezza Rice), a Pequena Clinton (Hillary Clinton), o Pequeno Rummy (ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld) e Barb (Barbara Bush, mãe do presidente Bush).

Em um dos episódios, Barb assedia sexualmente um menino e acaba abortando numa clínica em que Hillary Clinton, a Pequena Clinton, trabalha "para passar tempo" depois da escola. Pequena Condi não pára de pedir beijos a Bush e de lhe confessar seu amor, enquanto este só tem olhos para uma Laura Bush que é totalmente muda e inexpressiva. Tudo por obra e graça dos roteiristas da nova série, entre eles, Donick Cary, criador de "Os Simpsons" e do "David Letterman Show".

No primeiro episódio, o Dia dos Pais está chegando e Pequeno Bush quer lhe dar um presente muito especial, mas não tem idéia do que pode dar ao homem mais poderoso do planeta. "Já sei", diz. "Vou procurar boas notícias do Iraque, vou lhe dar algo bom dessa guerra." Pequeno Bush decide se alistar no exército. Para isso tem de passar num teste psicotécnico que consiste em escrever adequadamente o próprio nome e a data. "O nome está certo", diz o examinador. "Mas como data de hoje você escreveu 'tomate'." "Não faz mal: bem-vindo ao exército!"

O germe da série foi um sucesso no telefone celular de milhares de americanos, que recebiam em breves episódios de cinco minutos as aventuras de Pequeno Bush formando-se para um dia chegar a ser presidente. Quando o primeiro episódio foi publicado no site Break.com, teve mais de um milhão de visitantes. A Comedy Central percebeu o êxito dos episódios e encomendou uma primeira temporada de seis capítulos, que foi ao ar na noite de quarta-feira passada.

Sem dúvida, o personagem que brilhará com luz própria será "o melhor amigo de Pequeno Bush", o Pequeno Cheney, que não é capaz de pronunciar uma palavra e só se alimenta de sangue de pássaros vivos depois de arrancar suas cabeças. Mas Pequeno Bush não se atrapalha só com o governo republicano e as polêmicas eleições de 2000, o escândalo Halliburton ou a maneira como Bush e seus neocons manipularam a imprensa para evitar que as más notícias do Iraque chegassem aos cidadãos.

No episódio da próxima semana, Pequeno Bill (Bill Clinton) tenta devorar as gêmeas Lewinsky até que o sargento Hillary vem lhe dar uma surra. É o mundo animado de Pequeno Bush; teria muitas semelhanças com a realidade?

Publicado no UOL Mídia Global e editado pelo RA.

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quinta-feira, 14 de junho de 2007

Imagens de quinta


Às sete horas, um forte nevoeiro esconde o morro do Surubi


Enquanto a água fria do rio reage ao calor do sol da manhã

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Só o Rei (da censura) não gostou


Uma capa genial joga mais brasa (mora!) na fogueira das injustiças

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quarta-feira, 13 de junho de 2007

A voz do Calçadão

Entreouvido agora há pouco no balcão do Ôba Sucos:

- Pô cara, que família essa do Lula, hein? Só tem Ali Vavá...

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segunda-feira, 11 de junho de 2007

O macho e a amante

André Petry na revista VEJA

Mônica Veloso é uma mulher fotogênica, mas é mais bonita pessoalmente do que em fotografias. Às vezes, ela dá uns ares com a atriz Tânia Kalil, talvez pelo formato do rosto e pela expressão vagamente indefesa do olhar. Outras vezes, ela se parece com a atriz Deborah Secco, pela delicadeza do nariz e pela protuberância discretamente provocadora dos lábios. Mônica Veloso é uma mulher bonita e sensual. Tem 1,70 metro de altura, pesa 58 quilos. Para os antigos, é um pitéu. Para os de meia-idade, é uma gata. Para os jovens, é uma mina cabulosa. E não é que, com atributos para encantar todas as idades, Mônica Veloso virou pistoleira, chantagista, piranha? Virou a desonesta, a destruidora de lares, a mulher que seduzia políticos e poderosos à cata de um butim generoso, fisgando o senador José Renan Vasconcelos Calheiros?

Pobre Mônica. Como teve um romance com o senador, do qual nasceu uma menina, Mônica tornou-se agora vítima do machismo que sempre reserva à mulher o papel mais torpe da história. Se Mônica conta sua versão publicamente, o que ela é? Chantagista em busca de alguma vantagem. Se fica calada, o que é? A interesseira que vendeu seu silêncio a peso de ouro. Se exige que o senador ajude no sustento da filha, o que é? A biscateira que só pensa em dinheiro. Se não pede um tostão ao pai de sua filha, o que é? Ora, a calculista esperando a hora certa de dar o bote. Não tem saída. Mônica Veloso pode fazer o que quiser, mas estará sempre do lado errado. Porque do outro lado está o senador José Renan Vasconcelos Calheiros, o homem que confessa seu pecado, pede perdão à mulher e por pouco, muito pouco, não vira o ingênuo senhor que se perdeu nas curvas da sedutora maligna.

Mas, se o que interessa no escândalo todo não é o romance do senador com a jornalista, e sim a tenebrosa intimidade financeira do senador com um lobista de empreiteira, qual é a relevância de discutir os carimbos preconceituosos estampados sobre a imagem de Mônica Veloso? A relevância é a seguinte: isso explica por que o senador, desde a primeira hora do escândalo, distorceu a questão como se fosse um assunto privado. Trazendo a polêmica para o terreno da vida pessoal, o senador talvez soubesse, ou intuísse, que tinha uma vantagem já na largada: era o homem, o respeitável pai de família, contra a mulher, a jovem descasada. O senador foi tão covarde que jogou sobre a mulher até o peso não apenas de ser macho, mas também o de ser poderoso.

É injusto até com a história do Brasil, onde imperadores caíam deliciosamente nos braços de amantes inesquecíveis. Uma delas, menos conhecida do que a marquesa de Santos de dom Pedro I, era a condessa de Barral, bela baiana, filha de família ilustre, mulher inteligente e refinada, preceptora de princesas e paixão de dom Pedro II. Como se antecipasse em um século e meio a patacoada do senador em Brasília, a condessa de Barral escreveu: "São desgraças do Brasil / Um patriotismo fofo / Leis em parola, preguiça / Ferrugem, formiga e mofo".

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domingo, 10 de junho de 2007

Mônica desmente Renan


Entrevista da jornalista Mônica Veloso a Policarpo Junior na VEJA deste fim de semana e reproduzida no Blog do Noblat:

A senhora recebia dinheiro das mãos do lobista Cláudio Gontijo?

Sim, recebi durante quase dois anos.

Quando foi a primeira vez?

Foi entre fevereiro e março de 2004.

Os pagamentos seguiram até quando?

Até novembro de 2005.

O dinheiro pertencia a quem?

Não sei. Renan está dizendo agora que o dinheiro era dele, mas ele nunca me disse isso antes.

A senhora perguntou?

Não, eu recebia uma pensão e não fazia sentido perguntar de onde vinha o dinheiro. Isso parece importante agora por causa desse turbilhão, mas para mim não era. Eu pegava o dinheiro com o Cláudio e ponto. Não ia ficar questionando.

A senhora falava de dinheiro com o senador?

Nunca falávamos de dinheiro. Assunto de dinheiro era sempre com o Cláudio.

Onde a senhora pegava o dinheiro?

Na maioria das vezes, era no escritório da Mendes Júnior. Mas houve várias formas. Nos últimos meses da gravidez (a criança nasceu em julho de 2004) e no período do resguardo, o Cláudio me entregava os envelopes com dinheiro na minha casa, na minha produtora... Mas, depois disso, eu ia buscar o dinheiro na Mendes Júnior e o depositava na minha conta. Não tenho o costume de guardar dinheiro debaixo do colchão.

A senhora pegava o dinheiro na portaria do edifício da Mendes Júnior ou entrava no escritório?

Eu chegava ao prédio e me identificava na portaria. Eles anotam nome, identidade, hora e a sala aonde você vai. Se eles guardaram esses registros, é só conferir que minhas entradas estarão todas lá. Eu pegava o elevador até o 11º andar. Lá, me anunciava no interfone e a secretária abria a porta do escritório.

Como era repassado o dinheiro?

Cláudio me recebia na sala dele e me entregava o envelope. Alguns envelopes tinham o logotipo da Mendes Júnior.

Havia dia certo para pegar o dinheiro?

Era sempre no início do mês, mas não tinha dia certo. Às vezes era no dia 4, no dia 5, no dia 8. Eu ligava para o Cláudio e perguntava se podia passar lá.

O dinheiro não era depositado na sua conta?

Não, eu sempre pegava um envelope com dinheiro vivo.

A senhora disse que começou a receber dinheiro das mãos de Cláudio Gontijo entre fevereiro e março de 2004. Qual foi esse primeiro pagamento?

Eu estava deixando o apartamento onde morava e alugando uma casa no Lago Norte. Ficou combinado que o aluguel de um ano seria pago adiantado. O Cláudio foi ao edifício onde eu ainda morava e me deu um envelope com o dinheiro.

Quanto?

Salvo engano, 40.000 reais. Fui à imobiliária e paguei o ano inteiro do aluguel.

Que outros valores o lobista lhe repassava?

Na mesma data em que me mudei para a casa do Lago Norte, acertamos que as despesas decorrentes da mudança seriam de 8.000 reais por mês.

Com quem a senhora fez esse acerto?

Com o Cláudio e o Renan. Depois disso, o Renan nunca mais tocou em assunto de dinheiro. Quero deixar claro que a pensão não foi estabelecida para me sustentar. Sempre tive uma boa condição financeira. Tenho minha empresa de comunicação, tinha contrato com órgãos importantes do governo. Os 8.000 reais foram acertados para me adaptar às novas circunstâncias de uma gravidez que devia ser mantida com discrição. Eu morava num apartamento que me pertence até hoje e fui morar numa casa alugada para fazer essa adaptação.

A senhora sempre recebeu 8.000 reais?

Nem sempre. Houve um período em que o Cláudio pagou 2.800 reais de despesas com uma empresa de segurança. Essa despesa apareceu logo depois do parto da minha filha. Eu estava recebendo telefonemas com ameaças anônimas. Fiquei com medo, procurei o Renan e ele me orientou a tratar com o Cláudio. Eu fiz um levantamento das empresas e o Cláudio ficou com a parte financeira.

O contrato da casa no Lago Norte era por três anos. Por que a senhora saiu depois de um ano?

Porque as ameaças não pararam. Em março de 2005, resolvi alugar um apartamento, onde sentisse mais segurança.

Gontijo pagava esse aluguel?

Sim, era de 4.000 reais. De março de 2005 em diante, ele me entregou a pensão e o aluguel. Os envelopes passaram a ter 12.000 reais. Isso durou até novembro de 2005.

Em dezembro de 2005, o senador reconheceu a paternidade de sua filha e passou a pagar pensão de 3.000 reais. Por que o valor caiu de 8.000 para 3.000?

Porque o salário do Renan no Senado era de 12.000. Ele não podia pagar 8.000 de pensão e 4.000 de aluguel.

Mas o senador tem rendimentos agropecuários.

Não posso revelar mais detalhes sobre isso porque o processo judicial é sigiloso. Posso dizer que ele pagou 3.000 reais, descontados na folha salarial, até maio de 2006, quando fizemos um acordo. Como antes eu recebia 12.000 e passei a receber só 3.000, tinha uma diferença. Renan concordou em pagar 100.000 reais.

Os 100.000 reais não eram um fundo de educação para a filha de vocês?

Nunca houve esse fundo. Os nossos advogados chegaram a um acordo para compensar a diferença. Os advogados de Renan pediram que no recibo saísse que era um fundo. Na verdade, nunca foi isso. Eu não tinha outra opção. Ou aceitava isso ou não recebia nada. Não havia razões para rejeitar. O pagamento foi feito em duas parcelas de 50.000 reais, em dinheiro vivo.

Por que dinheiro vivo?

Os advogados dele (refere-se ao senador) é que apareceram com duas sacolas de dinheiro...

A senhora encontrou o senador num flat de Gontijo no hotel Blue Tree?

Sim, várias vezes.

O senador tinha um flat no mesmo hotel. Por que vocês usavam o do lobista?

Pergunte para o Renan.

Até quando a senhora se encontrou com o senador?

Nossa relação durou até dezembro de 2005.

Então, se o senador quisesse, até dezembro de 2005, ele mesmo poderia lhe entregar o dinheiro?

Nós nos encontramos até dezembro de 2005. Foram três anos de uma relação intensa, que começou quando ele ainda era líder do PMDB (o senador foi líder do partido de fevereiro de 2001 a fevereiro de 2005) e continuou depois que foi eleito presidente do Senado. Até dezembro de 2005, quando houve o reconhecimento da paternidade, foi uma relação tranqüila e, ao contrário do que disseram, não era eventual.

Mas então o senador poderia lhe repassar dinheiro sem recorrer ao lobista?

Ficávamos a sós, se é isso que você quer saber.

Qual é a sua relação com Gontijo?

Nenhuma. Não somos amigos. Conheci o Cláudio por meio do Renan em meados de 2003. Nunca o tinha visto antes. Ele não é da minha área, que é comunicação, publicidade. Depois de novembro de 2005, quando a pensão passou a ser paga com desconto no salário do Renan, o Cláudio sumiu. Nunca mais trocamos nem um telefonema.

Conclusão da VEJA: A alegação do senador Calheiros para ter recorrido ao lobista da Mendes Júnior é que, tendo um caso extraconjugal, precisava fazer os pagamentos de modo discreto. Recorreu ao lobista porque ele era amigo das duas partes. Mônica diz que não era amiga do lobista, e, se fala a verdade quando informa que seus encontros com o senador duraram até o fim de 2005, cai outra alegação. Se houve encontros até 2005, o senador poderia ter levado, ele mesmo, o dinheiro a ela. Tudo indica que, em sua solene defesa no Senado, Renan Calheiros mentiu para seus pares.

Pitaco do RA: Além das conclusões acima, VEJA também apurou - conferindo os extratos bancários que Renan apresentou em sua defesa - que, mesmo havendo recursos suficientes na conta bancária para bancar gastos (e que gastos!) com amantes e congêneres, não há nenhuma coincidência entre os saques do Presidente do Senado e os pagamentos efetuados a Mônica. Principalmente em relação aos 100.000 reais que, segundo a jornalista, foram pagos em dinheiro vivo (duas sacolas contendo, cada uma, 50.000). Portanto, a sua defesa no Senado - transmitida ao vivo para todo o país e assistida no plenário pela mulher (a oficial) e filhos - foi baseada inteiramente em MENTIRAS, ou seja, o tradicional método engana-trouxas (nós, o povo brasileiro) utilizado por políticos de todos os naipes e patentes ao longo de nossa vergonhosa história republicana.

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sábado, 9 de junho de 2007

A fome e a vontade de comer


Duas paixões em uma só revista

Jabá do RA: À venda na Revistaria Agulhas Negras.

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Polaróides históricas

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Com todo respeito e gratidão por alguns colegas que nos informam e divertem com suas crônicas, sinto muito, sentimos todos, a falta de mestres do cotidiano como Rubem Braga, Fernando Sabino, Antonio Maria, José Carlos Oliveira, Sérgio Porto, Nelson Rodrigues, que, com humor e ironia, registraram os personagens, dramas e comédias do Brasil de seu tempo e deram grandeza e leveza à crônica como gênero literário.

O grande diferencial deles, além da qualidade do texto, é que abordavam os mais variados temas, pessoas e situações. Mas, se escrevessem hoje, coitados, como todos nós, os melhores e os piores, não escapariam da vala comum dos escândalos e da política, de roubos e falcatruas, de mentiras e sem-vergonhices de parlamentares, funcionários, policiais e juizes corruptos e de bandidos em geral.

O drama da crônica, para eles, era a falta de assunto. Hoje eles abundam, mas são os mesmos para todos, quase obrigatórios. Se vivessem hoje, os mestres teriam que rebolar para encontrar um ponto de vista diferente, porque não poderiam ignorar o cardápio de acontecimentos e nem engoliriam calados o prato feito do noticiário.

Que falta faz o que Nelson Rodrigues escreveria sobre sem-terras, feministas e ambientalistas, sobre Lula, Delúbio e Zé Dirceu, mas principalmente sobre patéticos dramas político-passionais.

Hoje, os jornais, revistas e blogs estão cheios de cronistas, que tentam fazer sua parte, registrando o nosso turbulento cotidiano. Alguns são talentosos, escrevem muito bem e poderiam, como os velhos mestres, nos divertir e informar melhor sobre nosso tempo e lugar, sobre nós mesmos. Mas todos só escrevem variações sobre os escândalos políticos e policiais. Inclusive o signatário. Pobres leitores.

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Ações do terrorista Bush na Europa

Depois da Cópula do G8...


A farra com Prodi


E a farsa com Bento

(Fotos da Agência Reuters)

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Lessa diz que 'Pasquim' tirou aspas da nossa língua

Da Folha Online

Na primeira vez em que trocou e-mails com a Folha para esta reportagem, Ivan Lessa foi curto e rápido, ainda que bem-humorado. Lembrar os tempos do "Pasquim" não é algo que o jornalista, radicado há 28 anos em Londres, goste de fazer com muita freqüência. Dias depois, porém, ao receber pelo correio um exemplar do segundo volume da "Antologia", que chega agora às livrarias, ficou emocionado e retificou algumas declarações. Se antes declarara sem dor o fim do "jornaleco" (como o "Pasquim" era carinhosamente apelidado), numa mensagem sentimental acabou desabafando: "Não se pode ter saudade daquilo que não acabou. Taí. Eu mesmo, depois que o santo subiu de volta, fiquei meio comovido. Deve ser essa lua, esse conhaque, essa estátua de bronze do Drummond..." Ao folhear o livro, também concluiu que não lembrava de várias coisas que tinha escrito. Leia abaixo as respostas de Lessa, 72, à Folha.

FOLHA - A segunda parte da "Antologia" cobre os anos de 72 e 73. Segundo a edição, essa teria sido a fase mais interessante do jornal. E também a sua. Como andava seu ânimo profissional? E político?

IVAN LESSA - Sim, minha participação foi mesmo mais ativa. Mas a explicação é simples. Morava em Londres até 72, quando voltei para o Brasil e passei a trabalhar diariamente no "Pasquim". Meu ânimo profissional ia bem, obrigado. Tive outras ofertas mais tentadoras em termos de salário. Mas, no "Pasquim", na época vendendo pouco e em crise, eu estava entre velhos amigos. Ânimo político? Nunca tive, não tenho.

FOLHA - Como você selecionava as cartas a serem respondidas? Quantas você inventava? Depois que os leitores entraram no espírito da seção, ficou mais difícil?

LESSA - Eu pedia para a dona Nelma (secretária do jornal) a vasta pasta com as cartas. Tirava um punhado. Selecionava as que pareciam mais interessantes. Ou mais idiotas, se você preferir. E inventava apenas as obviamente inventadas. E a proporção é bem menor do que pensam. Ou dizem. Depois de um certo tempo, os leitores mais vivos entraram no espírito da coisa. Aí, é claro, ficou mais difícil. Dependia muito também de como andava minha paisagem interior. Sim, eu tenho uma paisagem interior, que anda, marcha, pula, isso tudo.

FOLHA - Entre os gêneros que você criou no jornal, as cartas inventadas, as falsas notícias comentadas e o horóscopo, de quais gostava mais?

LESSA - O que eu mais gostava de fazer mesmo era o "Pasquim Novela". O resto do que você menciona era ou muito triste ou muito chato. Não me lembro de falsas notícias. Toda notícia é, por definição, falsa. Ou farsa. Por aí.

FOLHA - E as que tinham subtexto contra a ditadura (sobre Papa Doc, a Inquisição ou Perón)?

LESSA - Era para poder falar de nós falando dos outros. É a única vantagem da censura: obrigar o cidadão a exercer as disciplinas das entrelinhas, das alegorias, das insinuações.

FOLHA - Como funcionava a relação com os chargistas na seção "Gip, Gip, Nheco, Nheco"?

LESSA - Eu escrevia os "gips" e eles "nhecavam". Em muitos eu tinha uma idéia ou sugestão para a ilustração. Mas muitas das frases davam para se agüentar em seus próprios pés. Acho.

FOLHA - Acredita que as pessoas vejam o "Pasquim" hoje com demasiada nostalgia?

LESSA - O "Pasquim" acabou. Para o bem ou para o mal.

FOLHA - Em entrevista à Folha, Jaguar disse que o jornal viveu mais do que deveria. Você concorda?

LESSA - Concordo. O "Pasquim" deveria ter acabado logo depois que começaram a botar azeitonas adoidadas em empadas alopradas.

FOLHA - Você acha que o "Pasquim" de fato revolucionou o jornalismo brasileiro?

LESSA - É, o jornaleco tirou as aspas da língua brasileira. Na medida do possível. Os outros méritos estão com todos os que escreveram ou desenharam ou tentaram uma contabilidade honesta com a publicação -chato ficar repetindo "Pasquim" ou "jornaleco", passemos então para os chavões.

FOLHA - Você lê jornais brasileiros? Acha que estão melhores ou piores do que na época da ditadura?

LESSA - Passo os olhos eletrônicos neles. Continuam ruins como sempre. Loas para tudo que contribua para desencorajar um brasileiro, ou brasileira, a praticar o (risos) jornalismo.

FOLHA - As pessoas ficam intrigadas com o fato de você ter partido para Londres e praticamente nunca mais ter voltado. Você sentiu necessidade de romper com o Brasil?

LESSA - Não senti necessidade. Apenas uma baita de uma vontade de me mandar e só voltar em caso de muita, mas muita emergência mesmo.

FOLHA - Você se diverte com os jornais sensacionalistas?

LESSA - Acompanhar os tablóides chega a ser engraçado. Mas há muita coisa para ler, para ver na TV, muito pato para se alimentar no laguinho dos parques. Eu confesso que só vejo a primeira página nas bancas, que é o quanto basta. Ninguém os leva a sério. Principalmente os que fazem os tablóides. Aí até que dá para fazer uma ponte com o "Pasquim".

FOLHA - Num dos artigos você diz que o mundo se divide entre as pessoas que dizem "ôba" e as que dizem "êpa". Onde você se enquadra nessa classificação?

LESSA - Êpa! O passar dos anos, a passagem dos ôbas...

LESSA - Sei que não teve uma pergunta treze. Mas sou supersticioso e aqui está a prova.

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quinta-feira, 7 de junho de 2007

Passeio no parque



















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