Madrugada em Resende
... Muitos se espantaram. É que algo começava a mudar em Vinicius. Mais do que mudar, começava a se confirmar dentro dele a necessidade de se aproximar de um público maior. O espaço do livro já era muito curto para suportar sua alma tão sequiosa de expandir-se. Ele havia sentido essa sensação anos atrás, por volta de 1935, provocada pelo sucesso alcançado por uma das primeiras músicas que fez ainda nos tempos de colégio:
"Lembro-me que uma das maiores emoções que tive na minha vida aconteceu por causa da música, 'Loura ou morena'. Eu estava indo do Rio para São Paulo, de trem. E o trem descarrilou na estação de Rezende. São coisas inesquecíveis. Eu ia com um amigo, o José Arthur da Frota Moreira, então eu disse a ele: 'Vamos saltar e conhecer a cidade'. Eram 3h, até chegar o socorro e tudo...E saímos por aquela cidade vazia, deserta. E numa daquelas ruas, de repente, escutei um cara assobiar 'Loura ou morena'. Foi meu primeiro sentimento de comunicação que tive na minha vida. Fiquei atônito, não sabia o que dizer. Era um soldado! Cruzou conosco, e vinha assobiando a minha música!"
Passados mais de quinze anos, quando regressava de Los Angeles, talvez todas as poesias já editadas em livros não tivessem lhe proporcionado a vibração causada pelo assobio daquele soldado numa deserta madrugada em Rezende...
Trecho retirado, na íntegra, do livro “Vinicius sem ponto final", de João Carlos Pecci (Editora Saraiva, capítulo 28, páginas 222 e 223).
1 Comments:
Oi, Cilim.
Boa homenagem que você fez ao grande poetinha Vinícius. Era ele um poeta de verdade com liberdade de usar ou não métrica e rima. Pena que ninguém fica para semente... e pensar que houve um "quero que me esqueçam" que o chamou de vagabundo (Vinicius nêsse tempo era embaixador do Brasil. Agora, me diga, como vamos esquecer um sujeito que faz uma afronta dessa ao Brasil? ...e, pense bem, era "presidente" do Brasil. Bom, por hoje tá bom. Abraços para todos.
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