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segunda-feira, 4 de julho de 2005

Nada de genuíno nas tramóias de Delúbio e Zé Dirceu

Percorrendo a Grande Rede em busca da lista dos melhores poetas brasileiros do século 20, aterrisei no site da Geração Editorial (www.geracaobooks.com.br), onde encontrei o livro acima, lançado agora, no mês de junho. Escrito pelo jornalista Lucio Vaz - que tem 15 anos de experiência cobrindo o Congresso Nacional a serviço da Folha de São Paulo, de O Estado de Minas e do Correio Brasiliense -, o livro mostra que a compra de votos e o aluguel de legendas não é, nem de longe, fato novo na política brasileira. Só para se ter uma idéia do cabeludíssimo conteúdo de "A Ética da Malandragem" (Geração Editorial - 232 páginas - R$ 32,00), reproduzo um pequeno trecho referente a 1988, ano de disputa eleitoral envolvendo deputados federais, governadores e o então presidente Fernando Henrique Cardoso, candidato à reeleição:

"O dia seria quente na Câmara. Votações importantes estavam para acontecer naquela tarde de abril de 1998. Talvez por isso eu tenha ficado contrariado quando recebi a pauta do secretário de redação da Folha, Ruy Nogueira, por telefone, ao chegar no comitê de imprensa.
— Vaz (ele pronunciava “Vaich”, com o seu sotaque lusitano), quero que você acompanhe a reunião do PTB.
A bancada do partido estava decidindo, pela enésima vez, se deveria manter o seu apoio ou abandonar o governo Fernando Henrique. O motivo da nova revolta era a perda do Ministério da Agricultura. Pensei comigo: “Isso vai dar um pé de página”. Afinal, os trabalhistas costumavam fazer muito barulho, para valorizar o passe do partido, mas acabavam sempre ficando no governo. E não importava qual governo. Mas o Ruy sabia
pedir as coisas com jeito. Lembrou que eu conhecia bem a turma do PTB, que poderia haver bate-boca, e acabou me convencendo de que daria uma boa matéria. Já passava das 10 horas, hora marcada para a reunião. Desci até o local do encontro, na 2ª secretaria da Câmara, uma sala próxima ao Espaço Cultural, no subsolo do prédio principal do Congresso. (...) Atrás da porta, eu ouvi Pisaneschi anunciar a boa nova:
— O Gastone (Righi) vai dar a notícia a todos, mas eu antecipo o que ele me disse: “O Maluf ofereceu R$ 3 milhões (R$ 6,8 milhões hoje) para o PTB” — disse o deputado, antecipando uma informação que deveria ser dada pelo presidente do partido, em São Paulo. Paulo Maluf era pré-candidato a governador de São Paulo e tinha interesse em contar com o apoio do PTB na sua campanha. Mas a notícia não agradou a Vicente Cascione, outro deputado que eu conhecia muito bem.
— Se ele ofereceu R$ 3 milhões, ele vai dar R$ 1 milhão. E tem que ver o seguinte: esses R$ 3 milhões teriam que ser divididos entre quantos, entre dez? Se for para receber R$ 300 mil, eu não apóio ninguém — ameaçou Cascione, em tom decidido. Pisaneschi chamou mais um colega para o debate.
— Marquezelli, você, que tem experiência nisso... quanto o PTB tem que receber pelo apoio do partido?
— Na última eleição, pelo que me consta, o apoio do partido foi negociado por R$ 5 milhões (R$ 10 milhões hoje) — informou o deputado, um dos principais líderes da Frente Ruralista no Congresso. Era o mais perfeito relato de um aluguel de legenda. Algo que jamais seria admitido em público".

Como eu disse lá no início, a coisa é antiga e, cá pra nós, deve remontar à chegada de Cabral a Porto Seguro. A diferença agora é que se trata do PT, um partido - o único - em que todos acreditávamos livre da safadeza ancestral (quem não usou orgulhosamente uma estrelinha no peito quando o impoluto Lula disputava a presidência com o suspeitíssimo Collor?). E o pior de tudo é que, mesmo contra todas as evidências de culpa, os veneráveis petistas Genoíno e Zé Dirceu (entre outros) ainda insistem em negar tudo, repetindo, sem tirar nem pôr, a mesma tática de notórios bandidos da vida pública brasileira. Quem acreditou, durante anos a fio, na dignidade da estrelinha vermelha, merecia um pouco mais de respeito.

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1 Comments:

At 4/7/05 09:36, Anonymous Anônimo said...

Oi, Cilim.
Tá vendo como eu sempre tive razão de estar com um pé atrás com esses politiqueiros brasileiros? Questão de lógica: se não houver dinheiro, não há apoio, coisa que qualquer inexperiente pode ver. O PT não seria diferente. O pior de tudo é que atribuem as mazelas do governo ao Presidente da República que, se ainda está valendo, apenas representa o País em Juizo ou fora dele (está na Constituição). Elementar meu caro. Donde se vê que o Congresso (deveria ser escrito com letras minúsculas, no Brasil atual) é o único culpado do que ocorre no nosso País.O Lula não tem nada com as besteiras que vêm ocorrendo. Continúi pesquizando, Cilim! Estamos atentos, também.
Acácio.

 

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