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sábado, 15 de outubro de 2005

O Segundo de Maria Rita

Nelson Motta, no Sintonia Fina (link nos Favoritos do RA)

Maria Rita é um fenômeno, um monstro, uma das melhores cantoras do Brasil. Mesmo se fosse filha de desconhecidos seria. Na verdade, isso até dificulta a vida da MR. Falam sempre da mãe dela, mas o DNA do pai também é dos mais poderosos: o César Camargo Mariano é um dos músicos e arranjadores mais brilhantes da história musical.

O segundo disco é ainda melhor do que o primeiro, mas como o primeiro, o grande brilho não é do repertório mas da intérprete, e isso não é problema da Maria Rita mas da MPB. Tanto que uma das melhores do disco é do Jorge Drexler - que mesmo uruguaio é um dos grandes compositores de MPB do momento.

Maria Rita mantém sua base audaciosa e retrô ao mesmo tempo, com um afiado jazz trio acústico, que mostra grande harmonia e integração com a cantora.

Pitaco do RA: Acertou mais uma vez na mosca, grande Nelsinho. O problema da Maria Rita e de todas as jovens cantoras brasileiras é, sem dúvida, a falta de repertório, novo e de boa qualidade. Isso porque a melhor safra da MPB aconteceu no período entre 1960 e 1980, quando desabrochava a genialidade de Tom Jobim e Carlos Lyra (e toda a Bossa Nova), Caetano e Gil (e toda a Tropicália), Milton Nascimento e Lô Borges (e todo o Clube da Esquina), Belchior e Fagner (e todo o Pessoal do Ceará), Ivan Lins e Gonzaguinha (e todo o MAU, Movimento Artístico Universitário), Rita Lee e Raul Seixas (e todos do roquenrol tupiniquim), Roberto e Erasmo Carlos (e as feras da Jovem Guarda), Jorge Ben e os Novos Baianos (e toda a turma do samba-rock) e Paulinho da Viola e Martinho da Vila (verdadeiros ícones da retomada do samba de raiz).

Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Nara Leão e Maria Creuza (só para citar algumas) foram contemporâneas de todos esses movimentos musicais e gravaram - em versões consideradas definitivas - a grande maioria das pérolas produzidas por eles. Depois disso, mesmo tendo a maior boa vontade do mundo com Lenine, Marcelo Camelo, Paulinho Moska, Zeca Baleiro, Herbert Vianna, Cazuza e Renato Russo, não dá para comparar os pupilos (mesmo excelentes) com os mestres dos mestres.

Assim, chegamos ao insolúvel dilema de Maria Rita: se ela regravar os clássicos de Jobim, Gil, Milton ou Chico, continuará sendo comparada à mãe - aliás, isso já aconteceu no primeiro disco com 'A Festa', do grande Bituca (impossível ouvir e não lembrar de Elis); por outro lado, se continuar gravando só os seus contemporâneos, irá sempre padecer da irregularidade de um repertório que, por ter um pé no passado (às vezes, os dois), nunca terá a originalidade que marcou as carreiras das eternas musas da MPB.

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