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sábado, 10 de dezembro de 2005

Saudades de quem?

Crônica de Nelson Motta

É incrível, mas já estou com saudades do Zé Dirceu. Sem nenhuma pena. Pelo mal que fez ao país e à democracia, mereceu perder o mandato e cada dia dos oito anos de exílio político a que foi condenado. Mas, em comparação com a turma voraz e rasteira que mamou no valerioduto, Dirceu tinha uma certa grandeza – até na ambição e na magnitude dos seus erros que, também com uma certa grandeza, reconheceu.

Dirceu tinha um projeto, uma idéia, um sonho de juventude, uma insanidade que fosse, talvez um delírio megalomaníaco e totalitário, mas seus motivos eram diferentes dos que moveram outros futuros cassados. Esses continuam chatos, repetindo que são vítimas de uma conspiração da "direita", mentindo deslavadamente, são muito pequenos, na estatura política e humana, não farão nenhuma falta. Na melhor das hipóteses, foram flagrados pagando suas contas com dinheiro alheio, às vezes público, cuidando de seus afilhados e de seus empregos, de suas campanhas, mantendo tudo como sempre foi e só mudando de partido.

Na planície severina os ladrões continuam soltos, os pequenos ratos paroquiais continuam roendo o dinheiro público, chantageando o governo por cargos e verbas. Eles sabem que não dá para a sociedade permanecer em estado de indignação e de alerta o tempo todo; depois do asco e do desprezo, vem o tédio. É nisso que eles apostam: vencer pelo cansaço moral. Não chega a ser sequer uma banalização do mal, falta grandeza até mesmo para isto, é apenas a continuação de um velho filme em que mudam as caras, os nomes e os partidos, mas os personagens e o enredo são sempre os mesmos. O trem pagador assaltado é sempre o nosso.

Dirceu dançou, já Severino, Valdemar e outros que fugiram da cassação pela renúncia, continuam mandando e se preparam para voltar, nos braços do povo.

Publicado no Sintonia Fina (link nos Favoritos do RA).

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