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sábado, 7 de janeiro de 2006

Últimas ilusões

Crônica de Nelson Motta (enviada por e-mail)

Morei em Nova York nove anos e assim que cheguei fui procurar o amigo Paulo Francis para lhe pedir suas bênçãos e conselhos. Ele rosnou e disse:

"Ótimo! Agora você vai perder suas últimas ilusões." E morreu de rir.

Pena que não se possa ouvi-lo, com sua voz e seu estilo teatral inconfundíveis, com seu afeto e ironia, que davam à frase toda sua terrível profundidade. Tinha toda razão. Vivendo o dia a dia no ventre da besta, constatando a lógica implacável do capitalismo, testemunhando o pensamento e a ação que movem os Estados Unidos, seria preciso ser um completo imbecil – ou um perfeito idiota latino-americano – para não entender como eles são e como nos vêem. Para o bem e para o mal, sem ilusões. Eles não odeiam o resto do mundo, apenas desprezam.

Hoje, os Estados Unidos são uma imensa classe média, tudo é feito para agradá-la, como consumidores e cidadãos. Seus valores e sua estética medíocres dominam a indústria e o comércio, a arte e o entretenimento, a política e a religião. Apesar de sua origem, digamos aristocrática, Bush é o perfeito representante do que a classe média americana tem de pior. Sua ignorância, intolerância e hipocrisia, são a cara do "americano médio".

Se líderes populistas primários como Hugo Chavez e Evo Morales (sinto calafrios ao ver Lula feliz ao lado deles) soubessem como são e como funcionam os Estados Unidos, saberiam que eles desprezam a Venezuela e não sabem onde fica a Bolívia. Nem querem saber. Não gostam de perder tempo. Nem dinheiro. Fidel, o ídolo deles, continua preparando seu povo faminto para uma ilusória "invasão americana". Sem pão nem circo, oferece passeatas e discursos. Ele sabe que o gringo não tem o menor interesse nisso. Por que teria?

Bolivarianos de todas as Américas uní-vos, porque o desastre é certo.

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