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sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Feijoada à la grega

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Chega de hipocrisia. Vamos seguir o exemplo da Grécia, berço da cultura e da democracia, que, por amor à verdade e aos números (e para entrar na UE), decidiu incluir o contrabando, a prostituição, as propinas, a pirataria, o tráfico, a lavagem de dinheiro, o mercado negro, o caixa 2, ou seja, tudo que o "nosso Delúbio" chamaria de recursos não-contabilizados, no cálculo do Produto Interno Bruto, que é o conjunto de toda as riquezas produzidas pelo país no ano. Afinal, se dinheiro não tem cor, raça ou ideologia, PIB precisa de bons antecedentes?

Se essas riquezas foram produzidas legal ou ilegalmente é um detalhe que não compromete o fato econômico. Essa montanha de dinheiro, ainda que sujo, foi produzida, existe realmente, entrou na roda, comprou bens, pagou salários, acabou até pagando impostos indiretamente. A Grécia acredita que, com esses critérios honestos e sinceros, o PIB do país pode aumentar nominalmente em 10%.

Imaginem o Brasil! Com certeza nosso PIB vai dar um salto espetacular e se aproximar do que realmente é. Ninguém mais vai se alarmar com o tamanho da dívida pública em relação ao PIB. Os cálculos de renda per-capita e programas sociais terão que ser refeitos. O que dirão investidores e economistas diante dos novos números? Provocarão um afrouxamento da política fiscal? Um aumento de investimentos e gastos públicos? Quem sabe até uma diminuição da carga tributária?

Mas diante dos números eloqüentes da verdade, o que seria mais vergonhoso: o crescimento ridículo do nosso PIB de fachada, penúltimo da pobre América Latina, só maior que o do Haiti, ou o novo PIB ampliado, incluindo as nossas incomensuráveis riquezas não-contabilizadas?

Ou a diferença entre os dois?

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