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sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Amor e poder

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

"O amor é o culto do impossível", diz a psicanalista Betty Milan ecoando Lacan, porque o amor é totalitário, quer fazer de dois seres um só, assim como o poder almeja que todas as vontades sejam a mesma: a sua.

É duro, mas é verdade, quem já viveu o céu e o inferno de paixões avassaladoras e seus finais devastadores, sabe do que ela está falando: o sentimento devorador da impossibilidade de uma posse plena, de uma total integração de corpo e alma, anulando individualidades e vontades, e criando dependência como uma droga pesada, num processo no qual quanto mais se come mais fome se tem.

As mesmas razões para temer os venenos e servidões do amor valem para manter distância de seitas, igrejas, partidos, facções, torcidas organizadas e todas as formas de fanatismo que se expressam pelo radicalismo, a exclusão e a intolerância. Uma boa parte dos horrores do mundo nasce das boas intenções desses que se nutrem de certezas e de um sentimento de superioridade teológica, ética ou esportiva em relação aos "outros" - nós todos que não cultuamos seus deuses e heróis, seus políticos e atletas. São os que matam "por amor".

As próprias palavras já dizem muito: ao "torcer" a realidade e até a própria visão, pelo resultado, o torcedor só vê o seu time, não o jogo. Um "partido" é um pedaço, quebrado, parcial, que almeja ser o todo. "Militantes" são movidos pela disciplina e a doutrina próprias dos militares. Mas militares são guerreiros profissionais que defendem um país de todos - e militantes, fanáticos vocacionais que querem impor sua fé e sua vontade a todos do país, em nome de Deus, da Pátria ou do Povo.

Pela causa, pelas calças ou pelas calcinhas. Sempre por amor, que tudo absolve e justifica.

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