Israel
Do blog do José Saramago
Não é do melhor augúrio que o futuro presidente dos Estados Unidos venha repetindo uma e outra vez, sem lhe tremer a voz, que manterá com Israel a "relação especial" que liga os dois países, em particular o apoio incondicional que a Casa Branca tem dispensado à política repressiva (repressiva é dizer pouco) com que os governantes (e porque não também os governados?) israelitas não têm feito outra coisa senão martirizar por todos os modos e meios o povo palestino.
Se a Barack Obama não lhe repugna tomar o seu chá com verdugos e criminosos de guerra, bom proveito lhe faça, mas não conte com a aprovação da gente honesta. Outros presidentes colegas seus o fizeram antes sem precisarem de outra justificação que a tal "relação especial" com a qual se deu cobertura a quantas ignomínias foram tramadas pelos dois países contra os direitos nacionais dos palestinos.
Ao longo da campanha eleitoral Barack Obama, fosse por vivência pessoal ou por estratégia política, soube dar de si mesmo a imagem de um pai estremoso. Isso me leva a sugerir-lhe que conte esta noite uma história às suas filhas antes de adormecerem, a história de um barco que transportava quatro toneladas de medicamentos para acudir à terrível situação sanitária da população de Gaza e que esse barco, Dignidade era o seu nome, foi destruído por um ataque de forças navais israelitas sob o pretexto de que não tinha autorização para atracar nas suas costas (julgava eu, afinal ignorante, que as costas de Gaza eram palestinas…). E não se surpreenda se uma das suas filhas, ou as duas em coro, lhe disserem: "Não te canses, papá, já sabemos o que é uma relação especial, chama-se cumplicidade no crime".
Visto primeiro no Catarro Verde.
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O VOTO ISRAELENSE E O VOTO PALESTINO
Também se especula se a reação israelense, agora, não guardaria relação com o vindouro processo eleitoral no país, como se esse fosse mais um dado a pesar contra Israel...
Que coisa, não? Até a democracia parece servir como argumento contra o país. O atual estágio da região, diga-se, tem sua origem nas urnas. Os palestinos arcam com as conseqüências de uma escolha. Preferiram ao Hamas ao Fatah; entre votar em quem reconhece a existência de Israel e em quem tem no seu programa a determinação de exterminar o país, escolheram a segunda alternativa — que alternativa não era.
E o que fez o Hamas, uma vez vitorioso das urnas? Ora, tomou as providências para se constituir como ditadura teocrática: a primeira providência foi travar uma guerra civil com os adversários do Fatah e expulsá-los da Faixa de Gaza. Melhor: os militantes daquela facção fugiram. Os que caíram prisioneiros foram sumariamente fuzilados. Sem nem mesmo um processo judicial. Porque é assim que o Hamas trata seus inimigos, sejam palestinos ou judeus.
“Ah, mas e o bloqueio? Sobre o bloqueio a Gaza, você nada diz?” Ora, digo, sim. O Hamas venceu as eleições sem renunciar a seu propósito de destruir Israel. Os palestinos fizeram tal escolha, não? E o que deveria fazer Israel? Criar facilidades para que seus inimigos gozassem de maiores e melhores meios para levar adiante seu intento? Um governo responsável faria o que fez o de Israel. Seria também a minha escolha se me fosse dado escolher.
Então, quando menos, ficamos assim: os palestinos têm todo o direito de votar em quem pretende destruir Israel, e os israelenses hão de preferir, certamente, aqueles que se mostrarem eficientes na tarefa de impedir que isso aconteça. O que lhes parece? E com uma diferença importante: pouco importa o vitorioso, o partido que vencer a eleição em Israel não dará um golpe nem tentará criar uma ditadura teocrática.
Por Reinaldo Azevedo
SIM OU NÃO À EXISTÊNCIA DE ISRAEL? ESSA É A PRIMEIRA QUESTÃO. EU DIGO “SIM”
O Hamas rompeu a trégua com Israel — a rigor, nunca integralmente respeitada —, e aqueles que ora clamam pelo fim da reação da vítima — e a vítima é Israel — fizeram um silêncio literalmente mortal. Hipócritas, censuram agora o que consideram a reação desproporcional dos israelenses, mas não apontam nenhuma saída que não seja o conformismo da vítima. É desnecessário indagar como reagiria a França, por exemplo, se seu território fosse alvo de centenas de foguetes. É desnecessário indagar como responderia o próprio Brasil. O Apedeuta e seus escudeiros no Itamaraty — que vive o ponto extremo da delinqüência política sob o comando de Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães — aceitam, de bom grado, que Evo Morales nos tungue a Petrobras, mas creio que defenderiam uma resposta militar se o Brasil passasse a ser alvo diário de inimigos. Há dias, Lula afirmou que o Brasil precisa ser uma potência militar se quiser ser respeitado no mundo. Confesso que, dada a moral ora vigente no Planalto e na diplomacia nativa, prefiro que o país tenha, no máximo, aqueles fogos Caramuru, os únicos que, no nosso caso, não podem dar xabu... Lula merece, no máximo, ter um rojão ou aqueles fósforos coloridos de São João para brincar.
É dever de todo governo defender o seu território e a sua gente. Mas, curiosamente (ou nem tanto), pretende-se cassar de Israel o direito à reação. Por quê? O que grita na censura aos israelenses é a voz tenebrosa de um silêncio: essa gente é contra a existência do estado de Israel e acredita que só se obteria a paz no Oriente Médio com a sua extinção. Mas falta a essa canalha coragem para dizer claramente o que pretende. Nesse estrito sentido, um expoente do fascismo islâmico como Mahamoud Ahmadinejad, presidente do Irã, é mais honesto do que boa parte dos hipócritas europeus ou brasileiros. Ele não esconde o que pretende. Aliás, o Hamas também não: o fim da Israel é o segundo item do seu programa, sem o qual o grupo terrorista julga não cumprir adequadamente o primeiro: a defesa do que entende por fé islâmica.
Será que exagero? Que outra consideração estaria na origem da suposição de que um país deve se quedar inerme diante de uma chuva de foguetes em seu território? “Não, Reinaldo, o que se censura é o exagero, a reação desproporcional”. Tratarei desse argumento, essencialmente mentiroso e de ocasião, em outro post. Neste artigo, penso questões mais profundas, que estão na raiz do ódio a Israel. Como se considera que aquele estado é essencialmente ilegítimo, cobra-se dele, então, uma tolerância especial. Aliás, exigem-se dos judeus duas reações particulares, de que estariam dispensados outros povos.
Como os hipócritas do silêncio consideram que a criação de Israel foi uma violência, cobram que esse estado viva a pedir desculpas por existir e jamais reaja. Seria uma espécie de suicídio. Israel faria por conta própria o que várias nações islâmicas — em grupo, em par ou isoladamente — tentaram sem sucesso em 1956, em 1967 e em 1973: eliminar o país do mapa. Dói na consciência e no orgulho dos inimigos do país a constatação de que ele adquiriu o direito de existir na lei e na marra, na diplomacia e no campo de batalha.
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