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domingo, 18 de abril de 2010

'Os jornais impressos acabaram'


Juan Luis Cebrián, fundador e primeiro diretor do El País (Foto Agência Estado)

Abaixo, alguns trechos da entrevista - publicada hoje no Estadão Online - com Juan Luis Cebrián, que esteve em São Paulo na semana passada para o lançamento do livro "O Pianista no Bordel":

Os jornais, tal como os conhecemos, acabaram. Adiós... (diz em tom teatral, balançando no ar um exemplar do 'El País'). Não significa dizer que deixarão de existir. Esse adiós resulta tão somente da constatação de que os impressos pertencem à sociedade industrial, e não estamos mais nela. Entramos na sociedade digital.

No ano passado, cerca de 600 jornais fecharam as portas nos EUA, alguns deles com muita tradição. Há cidades americanas que simplesmente ficaram sem o seu jornal local, o que chega a ser traumático. Em geral, jornais nascem defendendo bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das receitas publicitárias, preservam sua independência.

Como esse modelo ficará? Embora a edição digital do El País venha crescendo bastante, eu não posso lhe dizer que se trata só de uma bem-sucedida transposição do impresso para o online, porque não é verdade. São veículos diferentes.

Gastamos horas e horas de discussão para saber se devemos ou não cobrar por nossos conteúdos na internet ou oferecê-los de graça. A esta altura do jogo, me parece uma pergunta sem sentido. O que nos cabe perguntar é que tipo de jornalismo queremos ter na rede. Não está claro.

Hoje, as melhores imagens que tenho visto, do ponto de vista jornalístico, estão saindo dos celulares de amadores, e não das máquinas dos fotógrafos profissionais. Há um terremoto no Chile e as primeiras imagens que recebemos vêm de cidadãos anônimos. E o que dizer de reportagens feitas por leitores?

Se todos os indivíduos no mundo tiverem acesso a jornais e livros nos patamares dos países desenvolvidos, as florestas da Amazônia somem em dez anos. Eis aí um aspecto positivo da sociedade digital.

Google, Microsoft, Yahoo, Facebook, Twitter, são marcas que nunca existiram no campo analógico. Elas nem precisaram de campanha publicitária de lançamento, ou seja, nunca vi um cartaz dizendo "compre Google". Entramos nele porque as portas estavam abertas.

E há um aspecto desconcertante a considerar: nenhuma dessas marcas nasceu de um processo convencional, tendo uma estrutura por trás. Todas foram boladas por estudantes em quartos, sótãos e garagens das casas paternas, ou em dormitórios de universidades. Todas. Isso já reflete uma mudança cultural impressionante.

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