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quarta-feira, 10 de agosto de 2005

O ovo frágil de Colombo

Texto de Gerald Thomas

Ainda temos em quem acreditar? Ou melhor: ainda temos no que acreditar? São tantas as notícias e são tantas as versões e são tantos os países... Eu que transito de lá pra cá, já entrei e saí do choque cultural faz décadas. Já não me choco quando me vejo conversando aqui sobre determinado assunto e percebo que ninguém entende (ou se interessa) do que estou falando. O inverso também procede. Chego em Nova York, reúno os amigos e dá preguica de ter que lhes contar como foi a estréia do espetáculo no Rio, por exemplo. Mal sabem como localizar o Rio ou São Paulo no mapa. Mas e os brasileiros? Saberiam localizar a Eritreia no mapa? Pois é. Em Nova York ninguem sabe quem é José Dirceu, Marcos Valério. No Brasil poucos sabem quem foi Peter Jennings.

Estou emocionadíssimo, quase descontrolado. É assim que eu fico quando morre alguém conhecido ou de quem eu gosto ou admiro. Morreu o âncora canadense/americano com quem convivo através da televisao há décadas, Peter Jennings. Dos âncoras americanos das redes abertas, Jennings não era tão amado quanto Tom Brokaw (NBC), mas certamente era mais esperto que o endurecido Dan Rather (CBS). Enfim, os três não existem mais. Renunciaram todos. Brokaw se foi em novembro do ano passado, Rather teve de renunciar depois de uma gafe jornalística e, em abril, Jennings anunciou que estava com câncer no pulmão: cigarro.

Nem com todo o dinheiro do mundo e com a melhor medicina à sua disposição, Jennings se salvou. Eu não consigo lidar bem com a morte. O fato é que nos tornamos seres mais frios. A notícia da morte de alguém (como a de Johnny Carson, por exemplo) ou de um escândalo qualquer (esse, do mensalão) parece ter só um tempo de vida perecível (sem trocadilhos) em nossas mentes. Não temos mais espaco pra tanta informação, desde que a internet virou a internet e desde que temos mais de MIL canais de tv em casa, e os celulares fazem tudo, até sexo fazem.

Somos vigiados, ampliados, monitorados e, ao mesmo tempo, engatamos uma marcha qualquer de que ainda "emitimos uma opinião". Sim, nos auto-enganamos de que somos uma "voz" nessa coisa chamada democracia. Pois não há democracia porra nenhuma! Nem mais emoção há. Existe sim um grande desfile de emoções exageradas (falsas até, às vezes), muita farsa, muito TEATRO impromptu, improvisado, muito salafrário, ou seja, muito ator canastra. Pena.

Aterrissou mais uma Discovery ou sei lá como elas chamam. Mas se a Nasa fosse completamente honesta, acho que nos revelaria que o mundo não está mais de pé. Deve estar assim meio quebrado, como o OVO que Colombo colocou em pé. Estamos vivendo dentro de um truque. Um imenso truque. Um circo.

Publicado hoje no Blog do Gerald (link nos Favoritos do RA).

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