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terça-feira, 18 de outubro de 2005

A carta do Dirceu

Por Sérgio Lima, da Folha Online

Em carta enviada aos 512 deputados que irão julgar a sua cassação, o ex-ministro José Dirceu tenta desfazer a imagem de "arrogante" que ganhou no comando da Casa Civil e admite que questionou a própria inocência quanto às acusações que pesam contra o PT.

"Cheguei a ter dúvidas sobre minha responsabilidade involuntária em alguns dos fatos mencionados. Será que nos 30 meses em que chefiei a Casa Civil (...) não teria tido nenhum deslize que pudesse ser compreendido como falta de ética ou atitude indecorosa?", diz ele na carta enviada no sábado e ontem aos gabinetes dos parlamentares e a seus escritórios políticos nas bases eleitorais.

Logo em seguida, no entanto, Dirceu desfaz sua própria dúvida. "Reconstituindo minha agenda e rememorando tudo que fiz no governo, concluí que não tenho do que me envergonhar ou temer."

Ao ensaiar um mea-culpa, ele reconhece que grudou nele uma imagem de ministro autoritário e que desconsiderava os pleitos de parlamentares.

"Políticos que acumulam poder e reconhecimento social acumulam também ressentimentos, incompreensões, mágoas e ódios despertados pelos mais diversos motivos: audiências negadas, telefonemas não retornados, convites recusados, a falta de um sorriso ou de um cumprimento, uma pendência não resolvida, o atraso em um compromisso, o esquecimento de um nome ou de uma referência, uma resposta atravessada, um pleito não atendido e outros tantos desentendimentos ou decepções", afirma o deputado.

O ex-ministro da Casa Civil chega a dizer que são "justas" tais reclamações. Por outro lado, afirma que resultam de "incompreensão ou desconhecimento do acúmulo de pressões, problemas, conflitos e responsabilidades que pesam sobre os ombros de quem ocupa cadeiras estratégicas na estrutura de um governo".

Na carta, Dirceu reclama de sofrer um processo injusto. Diz estar sendo "crucificado" pela mídia e "prejulgado" pela opinião pública. Ecoando imagem usada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva recentemente, diz que "denúncia contra um político é como epidemia contagiosa".

O ex-ministro afirma que está à disposição das instituições para ser investigado por ações suas na Casa Civil. "Reconheço que existem razões objetivas para que minha passagem pelo governo seja minuciosamente investigada por todas as instâncias republicanas."

Ao final, faz um apelo. "Só peço uma coisa: se não tiver convicção de minha culpa, não permita que eu seja injustamente banido da vida pública do país pela segunda vez", diz, em referência ao exílio em Cuba nos anos 70.

Hoje deve ser lido o relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) que pedirá a cassação de Dirceu. O ex-ministro entrou ontem no STF (Supremo Tribunal Federal) para impedir a leitura até que a Justiça decida se susta ou não o processo contra ele.

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