Os anos JQ
Crônica de Nelson Motta (via e-mail)
Todo mundo só fala em JK, todos os políticos querem ser JK, nunca haverá ninguém como JK. Mas... e depois de JK?
Depois foi Jânio Quadros, que era o oposto do otimismo, da simpatia, da tolerância e do desenvolvimentismo de JK. Provinciano, moralista, autoritário e deselegantíssimo, Jânio foi levado ao poder pela vassoura – para limpar o Brasil do mar de lama e de corrupção em que se transformara o governo JK, segundo as campanhas da imprensa e da oposição. Não se falava mais em progresso, em desenvolvimento, em futuro, só se pensava em investigar e punir o passado.
Ao eleger um demagogo como Jânio, os brasileiros aparentemente não estavam satisfeitos com Brasília, a bossa nova, o cinema novo, a Copa do Mundo, a indústria automobilística, o clima de cinquenta anos em cinco que o Brasil vivera com JK. A opinião pública estava indignada com as denúncias de roubalheira na construção da nova capital - e a urgência era pegar os ladrões, limpar o país da bandalheira oficial.
Inquéritos, demissões, perseguições, funcionalismo em polvorosa, Jânio proibiu biquínis nas praias, maiôs cavados para misses, corridas de cavalos em dia de semana e o lança-perfume. O governo JQ veio - nos braços do povo - para colocar ordem na administração, austeridade na economia e moral nos lares brasileiros. Deu no que deu.
É impossível não lembrar disso quando se vê o que está acontecendo agora. Ações, pirações e conspirações de políticos corruptos de quase todos os partidos provocaram uma tal indignação, pelo cinismo, pelas mentiras, pela certeza da impunidade, que hoje a maior preocupação de milhões de eleitores é apenas "limpar a casa". Assim se elegeu Collor, o caçador de marajás. Cuidado com eles: oportunistas, demagogos e malucos adoram surfar nas ondas bravias da indignação moral.
2 Comments:
Oi, Otacílio.
No alto dos meus setenta e cinco anos de idade, aprovo tudo o que você disse na sua postagem. È um retrato fiel do que realmente aconteceu. E, como você disse: deu no que deu.
Também concordo com cada palavra desta excelente crônica do grande Nelson Motta, nosso colaborador involuntário e contumaz. Como dizia o aclamado escritor russo Boris Nikolaievitch Bugaiev, os fantasmas do passado estão sempre esperando uma nova oportunidade de bagunçar a história.
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