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terça-feira, 14 de março de 2006

Entre malas de dinheiro e garotas de programa

Trechos de matérias do Estadão, publicadas ontem e hoje:

Conhecido como Nildo, Francenildo Santos Costa foi caseiro da mansão alugada no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, por amigos e assessores que acompanham o ministro Antônio Palocci desde que ele era prefeito de Ribeirão Preto.

Nildo contou ao Estado que a casa alugada por Vladimir Poleto, ex-assessor da prefeitura de Ribeirão, era usada para partilha de dinheiro. Segundo o caseiro, Palocci era freqüentador assíduo do imóvel, onde todos o chamavam de "chefe".

Também aparecia por lá, com assiduidade até maior que Palocci, seu secretário particular no ministério, Ademirson Ariosvaldo da Silva. Na casa, segundo Nildo, eram realizadas reuniões para organizar a distribuição de dinheiro por Brasília, além de festas animadas por garotas de programa.

Encarregado de vigiar e limpar o local, Nildo tinha acesso livre a seus cômodos e disse ter visto malas e maços do dinheiro administrado por Poleto. E mais: numa ocasião, testemunhou quando Costa, o motorista, teria entregado um envelope com reais a Ademirson no estacionamento do Ministério da Fazenda.

O que chamou mais a sua atenção nos meses em que conviveu com os inquilinos de Ribeirão Preto?

A forma de pagamento. Era muito bom.

O pagamento era em cheque?

Nunca saiu cheque, não. Só em dinheiro.

Quem morava na casa?

Ninguém morava lá. Passavam só a noite.

Quem eram essas pessoas?

Vladimir Poleto, doutor Ralph Barquete, doutor Rui (Barquete, irmão de Ralph), Ademirson (Ariosvaldo da Silva, secretário particular de Palocci) e o chefe.

Quem é o chefe?

A gente não chamava de Palocci lá na frente deles. Eles achavam ruim. Tinha que chamar de chefe.

E eles chamavam Palocci de chefe ou só os empregados?

Não, era para todo mundo: "Olha, o chefe vem hoje. Vamos sair fora e deixar a casa para o chefe." Isso quando ele ia durante a semana, porque geralmente ele ia no sábado e no domingo.

O senhor conheceu o ministro pessoalmente?

Eu via de longe, porque a casa tem sensor de luz que se acendia quando ele aparecia. Via a cara dele de terno e tudo. Num sábado à tarde, cheguei a ver ele com doutor Rogério (Buratti, ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto) e doutor Rui Barquete.

Onde havia sensores de luz?

Dentro da casa, para clarear o terreno. Ele pediu para desligar os sensores em volta da casa, mas não teve como desligar. Era para ninguém vê-lo. No jardim tem luzes. Ele falava que não era para ligar a luz do jardim, que queria a casa escura do lado de fora.

Ele chegava sozinho?

Chegava sozinho, vinha num Peugeot prata, de vidro escuro, dirigindo sozinho.

De quem era o carro?

Era de uso do doutor Ralph.

O senhor morava na casa?

Sim. A casa fica do lado da garagem. Quem está lá dentro dá pra ver quem está lá fora.

O senhor via o ministro chegando?

É, a gente via.

Mas ele disse que nunca foi à casa...

Do lado dele, eu não sou nada, mas ele está mentindo.

Quantas vezes ele foi à casa?

Se for contar, que eu me lembre, umas 10 ou 20 vezes. Não foram três vezes como Francisco falou (à CPI dos Bingos).

O senhor via dinheiro na casa?

Via, via as notas, pacotes de R$ 100 e R$ 50 na mala de Vladimir. Ele trazia muito dinheiro. Eu sabia que tinha muito dinheiro porque ele saía do quarto e fechava a porta do quarto.

Quem pagava as contas?

Era Vladimir. Vinha uma verba lá de São Paulo.

De onde vinha o dinheiro?

Vinha da empresa do doutor Rogério. Era ele quem pagava as despesas, os empregados. Ele passava o dinheiro para Vladimir.

O senhor participou alguma vez da entrega de dinheiro?

Um dia o Francisco me chamou para ir ao ministério. Disse: "Vamos ali mais eu, que você está à toa mesmo." Chegamos lá, Francisco parou o carro no estacionamento, ligou para o doutor Ademirson. Esperamos uns 20, 30 minutos. Aí ele desceu e Francisco entregou o envelope. Eu vi Francisco pegando o dinheiro. Dava para ver que era muito dinheiro, não era pouco. Acho que R$ 5 mil, R$ 6 mil, R$ 7 mil.

O pagamento dos empregados da casa também era feito com dinheiro enviado por Buratti?

Era. Ele passava o dinheiro ao Vladimir, que pagava a gente.

O dinheiro vinha de São Paulo?

O dinheiro vinha lá da empresa de São Paulo, eles chamavam de verba.

Como era o pagamento de vocês?

Eles pagavam no dia 1º. Falavam que era até dia 5, mas pagavam antes. Davam R$ 750, R$ 770, mais um pouquinho. Vladimir era ótimo patrão.

Onde ele pegava o dinheiro?

Tinha vez que ele vinha com o dinheiro na mala, vinha do aeroporto, vinha de fora. Sempre pagavam na terça ou na quinta-feira.

Por que o senhor decidiu contar tudo isso agora?

É porque o Francisco depôs na CPI e citou a mim e minha mulher. Fiquei meio com medo e resolvi falar logo.

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