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sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Coxas jurídicas

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Há alguns anos, quando morava em Nova York, encontrei num restaurante da Madison Avenue uma advogada brasileira comandando uma grande mesa, cercada por senhores comendo, bebendo e falando alto. Pelos ternos, as gravatas e o volume da voz, eram, sem dúvida, brazucas. Talvez fossem clientes dela e, pelas caras, certamente envolvidos em falcatruas e negociatas. Ou pior, talvez fossem parlamentares.

Parei para cumprimentá-la e ela me apresentou seus convidados. Eram juízes brasileiros, que estavam em Nova York para um seminário sobre legislação americana. Americana? Yes. Em pé junto à mesa, vi que o magistrado ao lado da advogada, sotaque nordestino carregado, bigodão e exalando testosterona, deslizava uma mão boba sobre a coxa da causídica. A saia, que já era curta, ficou justa, mas a moça agüentou firme, o magistrado apertou. Constrangido, fui embora me sentindo meio envergonhado pelo testemunho.

No dia seguinte, ela me contou que era um bando de juízes brasileiros que estava em Nova York por conta de dois poderosos escritórios de advocacia americanos, com muitos clientes e interesses no Brasil. As poucas palestras seriam feitas por advogados brasileiros, em português, apenas como pretexto para uma boca-livre de uma semana em um cinco estrelas de Manhattan. Nada ilegal, apenas indecente.

A advogada, uma bela morena paulistana, formada e radicada em Nova York, fora escalada para palestrar e ciceronear a turma na cidade. E contou, às gargalhadas, que seu maior trabalho foi convencer alguns meritíssimos que bolinação e beijo na boca não estavam no pacote.

Seria só patético e cômico, mas é trágico porque são esses homens que nos julgam e decidem o que está certo ou errado.

Quem julga esses juízes?

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