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sexta-feira, 29 de junho de 2007

Vários brasis

Miriam Leitão, no Globo Online

O Brasil vive grave crise institucional. O Senado se dissolve diante dos eleitores pela incapacidade de fazer a coisa certa: punir quem feriu o decoro. Na economia, há setores que vivem boom: empresas capitalizadas na Bolsa estão aumentando seus investimentos. Os indicadores macroeconômicos nunca estiveram tão bem. No Rio, no Alemão anteontem, foram, pelo menos, 18 mortos e, nesta semana, os tiroteios pararam até o aeroporto. Há vários brasis no atual Brasil.

No Congresso, o espetáculo é desalentador. As explicações dadas pelos políticos apanhados em situação comprometedora desrespeitam a inteligência das pessoas. A rocambolesca história do senador Joaquim Roriz e sua meia bezerra paga com meio cheque de outra pessoa é completamente estapafúrdia.

Certos políticos parecem pensar que somos bobos para aceitar suas explicações pedestres. Roriz pode comprar meia bezerra, o que não pode é pagá-la de forma tão obscura. Ele pode pedir um empréstimo a um amigo com quem vai à missa, mas, de preferência, que ele não seja um concessionário de serviço de transporte público no Distrito Federal, que governou duas vezes. Que o cheque não seja descontado no banco que, por oito anos, esteve sob seu comando.

A Câmara aprofunda a crise ao insistir numa reforma política que aumenta a distância entre o eleitor e seu representante. A hesitação dos senadores, do governo e da oposição, no caso Renan, informa que o comportamento do presidente da casa é considerado rotina no Legislativo.

Enquanto isso, no mundo dos negócios, a venda de caminhões cresce 18% e as fábricas já estão com listas de espera; veículos leves crescem 5%, mas sobre uma base já elevada; o consumo das famílias cresce há 14 trimestres. O setor de shopping centers está em plena expansão: dos shoppings já consolidados, 40% se expandem. Além dos 621 shoppings já existentes, há 60 outros em construção no país. As vendas de computadores continuam ainda em pleno boom. Há esses e muito mais dados vigorosos na economia.

Por outro lado, há uma completa ausência de agenda para pavimentar o crescimento sustentado: não existem propostas de reformas, os investimentos para superar os gargalos logísticos não acontecem, a carga tributária continua alta, não há qualquer estratégia para lutar contra a avassaladora informalidade do país. o caos aéreo, dia sim, dia não, atormenta os viajantes e retira produtividade da economia. A violência produz cenas de país em guerra cotidianamente no Brasil.

Quanto tempo podem conviver tantas realidades diferentes num mesmo país? Uma economia pode ir bem, num clima de guerra urbana, caos logístico e crise intitucional? Pode a economia se descolar do governo e dos políticos e continuar empurrando o Brasil? São essas as perplexidades deste tempo confuso.

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