A bananização da música
Crônica de Nelson Motta (via e-mail)
No fim do século 20, David Bowie previu que, no futuro, o comércio de música pela internet estaria nos computadores como a energia elétrica, o gás, o telefone e a TV paga estão nas casas e escritórios. O cliente teria uma assinatura e pagaria de acordo com o seu consumo. A música seria uma commodity, vendida a preço de banana. Tantos watts de eletricidade, tantos canais de tv, tantos quilos? litros? metros? bites? de música.
Hoje, além de um modelo de negócio em pleno florescimento em países onde prevalece a cultura de pagar pelo que se consome, a comercialização massificada e globalizada de música, legal e pirata, acabou com o que restava das antigas ilusões de importância, transcendência e glamour da música pop, que a indústria do disco desenvolveu - e sugou - à exaustão.
A vulgaridade se tornou um valor indispensável ao sucesso de massa. Os investimentos em promoção se tornaram muito maiores do que em criação e produção. Os melhores selos e gravadoras, criados por músicos, produtores e editores, terminaram em gigantescos conglomerados, dominados por advogados, financistas e marqueteiros.
A música, a melhor e a pior, se tornou irreversivelmente banal, como uma banana. O lado B, de bom, da bananização da música gravada, é a maior valorização da música ao vivo, quando se cria entre o artista e o público uma relação pessoal e intransferível, muito além do contato virtual e digital.
Há muitos anos, Caetano Veloso falava sobre fazer, ou não, músicas novas, e dizia que já havia música demais em toda parte. Imagine agora. Chico Buarque dizia detestar música ambiente porque, se é boa, distrai e atrapalha a conversa, e se é ruim, então para que tocar?
Mas, afinal, para que serve a música?
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