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sábado, 14 de fevereiro de 2009

'Barriga' da Globo quase compromete o Brasil

Rui Martins*, no Direto da Redação

A moça brasileira tinha seus problemas e provavelmente se autoflagelou. É triste.

Mais triste é o quadro da nossa imprensa irresponsável que mobilizou o país, levou o ministro das relações exteriores Celso Amorim a criticar um país amigo e Lula a quase criar um caso diplomático. É hora de denunciar a nossa grande imprensa sem deontologia, sem investigação, que afirma e desafirma sem qualquer cuidado e sem checar as notícias.

A agressão racista contra Paula Oliveira não foi um noticiario iniciado em Zurique, local da suposta agressão. Estourou no Brasil, detonada por um pai – e isso é muito compreensível – preocupado com sua filha distante. E a maior rede de televisão do Brasil, a Globo, vista por mais de uma centena de milhões de brasileiros, não teve dúvidas em transformar o caso na grande manchete do dia, fazendo com que outros milhões de brasileiros, no Exterior, já acuados pela Diretiva do Retorno, se solidarizassem e imaginassem passeatas e manifestações.

Essa é a maior barriga da história do nosso jornalismo, que revela o descalabro a que chegamos em termos de informação ou desinformação. Equivale ao conto do vigário do Madoff, ou das subprimes do mercado imobiliário americano. Só que o Madoff está preso, mesmo sendo prisão domiciliar e vivemos uma crise econômica, em consequência dos desmandos dos bancos americanos. Mas o que vai acontecer com a televisão Globo e todos quantos foram atrás? Nada, vai ficar por isso mesmo.

Como um órgão de imprensa de tanta penetração pode se permitir divulgar com estardalhaço um noticiário de muitos minutos, reproduzido online, repicado por jornais, rádios e copiado por outras televisões sem primeiro checar no local? Que jornalismo é esse que se faz sem qualquer investigação, sem se ouvir as partes envolvidas? Sem deslocar antes um reporter para Zurique e entrevistar também o policial responsável pela ocorrência? Sem ouvir a própria envolvida, fiando-se apenas no relato de um pai desesperado? Sem pedir a opinião de um especialista em ferimentos e escoriações?

Quem vai pagar o dano moral causado a essa jovem, que sem querer se tornou primeira página nos jornais? Quem vai desfazer o ridículo a que se submeteu o nosso ministro Celso Amorim, que, baseado num noticiário de foca em jornalismo, sem ouvir acusação e acusado, ofendeu um país amigo exigindo que prestasse contas em Brasília por um noticiário tipo cheque sem fundo? Quem assume o fato de quase levar nosso presidente a ficar vermelho de vergonha por se basear em noticiário sem crédito, com o mesmo valor de uma ação do banco Lehmann?

E mais: o dano sofrido pela Suíça, em termos de imagem, justamente quando seu povo tinha justamente votado em favor dos imigrantes, quem vai reparar?

Essa barriga da Globo, secundada pela grande imprensa, é prova do que se vem dizendo há algum tempo – não há credibilidade nessa mídia. Publica-se, transmite-se qualquer coisa, e quanto mais sensacionalista melhor. Não há responsabilidde no caso de erros, de noticiário mentiroso, vale tudo, o papel aceita tudo, a televisão transmite qualquer coisa, desde que dê Ibope – e existe melhor coisa que nacionalismo ofendido? É o que os franceses chamam de "presse de boulevard", mentirosa, tendenciosa, com a opinião ao sabor das publicidades. Sem jornalismo investigadivo, sem confirmar as fontes, sem ouvir as opiniões divergentes.

Vão pedir a cabeça do redator-chefe? Não, assim que se recuperarem da barriga, da irresponsabilidade cometida, da vergonha diante dos colegas, vão jogar tudo em cima da pobre jovem, que deve ter seus problemas e que a nós não compete saber, isso é vida privada, não é Big Brother.

É essa mesma imprensa marrom, que induz nossos dirigentes ao erro, que também publica qualquer coisa contra o que chamam de “assassino desalmado” Cesare Battisti. A irresponsabilidade da imprensa é o pior inimigo da liberdade de imprensa, porque pode provocar reações legislativas limitando os descalabros cometidos.

Escrever num jornal, falar numa rádio ou numa televisão e mesmo manter um blog constitui uma responsbilidade social. Não se pode valer dessa posição para se difundir boatos, nem inverdades, nem ouvir-dizer, é preciso ir checar, levantar o fato, mencionar ou desfazer as dúvidas e suspeitas existentes. É também preciso se garantir o direito de ser mencionada a versão da parte acusada para evitar a notícia tendenciosa.

A barriga da Globo vai ficar na história do nosso jornalismo, será sempre lembrada nos cursos de comunicação, tornou-se antológica, e nela estão entalhadas, por autoflagelação, as palavras que a norteiam: sensacionalismo, irresponsabilidade e abuso do seu poder.

Existem, sim, problemas contra nossos emigrantes em diveros países, principalmente depois da criação da Diretiva do Retorno pelo italiano Silvio Berlusconi. Diariamente brasileiros são presos e mandados de volta, na Espanha, mas isso não mobiliza a nossa imprensa, não dá Ibope.

* O autor vive em Berna, na Suíça, e colabora com os jornais portugueses Público e Expresso.

Nota do RA: "Barriga", no jargão jornalístico, significa uma informação errada.



Jornais suíços criticam governo brasileiro

Da BBC Brasil

Os principais jornais da Suíça deste sábado fazem sérias críticas ao governo e à imprensa brasileiros no caso da advogada Paula Oliveira, que disse ter sido agredida por skinheads neonazistas em Zurique no início desta semana.

Em um artigo opinativo, o diário conservador Neue Zürcher Zeitung, um dos jornais de maior prestígio na Europa, cita o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos Paulo Vannuchi, apontando que eles taxaram como "fato, de forma irrestrita, as declarações da brasileira".

O texto também diz que a imprensa brasileira "passou dos limites, indo especialmente longe no julgamento de supostos incidentes neonazistas e racistas na Suíça".

O Neue Zürcher Zeitung afirma que a imprensa brasileira teria criticado publicações suíças, inclusive o próprio jornal. O artigo comenta ainda que a mídia no Brasil traz regularmente "notícias de fatos totalmente inventados, acusações que já destruíram a vida de outras pessoas", além de afirmar que "a gravidez inventada, segundo se conta" seria artifício comum entre as brasileiras "para pressionar maridos e companheiros".

O artigo termina afirmando que os suíços se surpreenderiam "com o nível de xenofobia, neonazismo e anti-semitismo no Brasil". "O país tropical está, de acordo com sondagens internacionais, entre os Estados com maior índice de xenofobia: 72% são, segundo pesquisa, contra a recepção de estrangeiros", comenta o periódico.

'Caranguejo'

Outros periódicos suíços não pouparam expressões irônicas para criticar o governo brasileiro. O 20 Minuten, o jornal de maior tiragem da Suíça alemã e distribuído gratuitamente, traz um artigo intitulado "Lula da Silva ‘caranguejeia' para trás".

Nele, o jornal comenta as reações reticentes do governo brasileiro na sexta-feira, após surgir a notícia de que Paula Oliveira não estaria grávida, como ela havia alegado. O 20 Minuten lembra que no dia anterior, o governo brasileiro demonstrou indignação e deu declarações públicas nas quais cogitou mesmo recorrer à ONU para pressionar o governo suíço.

A mídia brasileira também foi alvo do jornal Tages-Anzeiger, na reportagem "Eles expuseram o Brasil ao ridículo". O diário reproduz comentários de leitores brasileiros publicados nos jornais nacionais após a reviravolta do caso, nos quais "atacam as reações precipitadas do presidente Lula e do ministro Amorim".

'Borderline'

O mesmo jornal suíço também dedica outro artigo ao caso de Paula Oliveira, intitulado "A tragédia de O.: lenha para a sociedade borderline". Escrito por uma repórter da área de cultura, o texto classifica a história como uma "lição de manipulação da mídia", que demonstraria o interesse da sociedade "por personalidades portadoras de borderline".

A autora diz se tratar de um "caso evidente de uma mulher que utiliza o próprio corpo, de forma bastante consciente, para tornar uma suposta impotência em um chamariz para a mídia e, por consequência, em poder".

O texto afirma que ao se confirmarem as conclusões preliminares da investigação, a brasileira "deve ser diagnosticada como tendo um transtorno de personalidade borderline" e cita automutilação e necessidade de chamar a atenção como alguns dos sintomas deste tipo de transtorno.

O título do artigo se aproveita da inicial do sobrenome da brasileira e faz uma alusão implícita ao nome do romance "A História de O", clássico erótico sobre uma mulher que se submete voluntariamente a práticas de tortura.

Alguns jornais também publicaram entrevistas com psiquiatras e tratam o caso como um incidente com fortes indícios de ter sido causado por alguém com problemas psíquicos.

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1 Comments:

At 15/2/09 08:57, Anonymous Anônimo said...

A princípio a gente não quer acreditar que uma pessoa possa criar uma farsa como essa.
Quando vi as fotos, comentei com amigos que não havia manchas roxas, pois ela disse ao pai que foi espancada, chutaram-na várias vezes. E os cortes, superficiais.
Se ela abortou no banheiro da estação, como foi publicado nos jornais, segundo o relato dela para o pai, não deixou vestígios???
Os médicos suiços que a examinaram afirmaram que ela, no dia da agressão, não estava grávida.
O noivo ao chegar no banheiro da estação onde Paula estava e disse ter abortado naquele local, nada viu???
Paula não era ilegal na Suíça, trabalhava numa multinacional.
Se é como dizem que todas as pessoas que moram legalmente na Suíça são obrigadas a ter um plano de saúde, isso quer dizer que ela também tinha um. Então, por que procurar uma médica que estava em situação ilegal??? Não faz sentido.
Um reporter da Globo apurou e colocou no ar que a chefe dela afirmou que no dia da agressão conversou com Paula sobre a suposta gravidez e ela disse que no dia seguinte procuraria um médico para fazer a ultrassonografia.
Ela falava ao celular com a mãe, antes de ser abordada pelos três skinheads. Foi Paula quem ligou ou a mãe quem fez a chamada??
Soube que o Sr. Ricardo Noblat é amigo do pai de Paula, secretário de um parlamentar. Ora, era natural acreditar na história, no primeiro momento, e a Rede Globo noticiá-la como verdadeira.
O noivo, sumiu. Soube que mudou-se para casa de parentes com medo dos skinheads.
O casamento para março era porque Paula dizia que estava grávida??
Ela estava grávida ou não?? Síndrome da falsa gravidez??
Por que o pai não foi ao apartamento da filha para procurar os documentos que comprovavam a gravidez??
A medicina evoluiu. Com três meses de gravidez já é possível saber o sexo do feto??
Ninguém na estação a viu se dirigindo ao banheiro, apavorada com a agressão que sofreu??
Muitos pontos de interrogação, não é verdade??
Vamos aguardar o fim das investigações.
Meu sentimento com relação a essa moça, sendo brasileira ou não, é de pena.

 

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