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domingo, 26 de abril de 2009

Veja acerta o tom, mas erra o alvo


Está certo que só o voto - o bom voto! - pode salvar a democracia. Está certo também que os canalhas que infestam o Congresso Nacional e denigrem a sua imagem foram eleitos pelo povo. Está certo, portanto, que o povo tem escolhido muito mal seus candidatos.

Tudo certo. Mas, particularizando a questão, estamos falando mesmo de qual povo? Dos brasileiros que sabem ler e escrever, que já leram pelo menos um livro inteiro na vida, que lêem jornais e revistas, que assistem os noticiários da tevê, ou dos 16 milhões de analfabetos e 33 milhões de analfabetos funcionais (dados do IBGE) que existem atualmente no país?

Se a capa da Veja aí em cima mirou na população instruída, pode ser que atinja o alvo. Afinal, tem muita gente nessa turma que merece uma esfrega por ainda acreditar em Papai Noel, de barba branca e roupa vermelha. Mas se a idéia era mexer com os brios do povo brasileiro, é bom lembrar que o nosso imenso país desigual ocupa hoje o penúltimo lugar no ranking de alfabetização na América do Sul (ganha, por décimos, apenas da Bolívia!).

E é justamente isso - a total desinformação aliada à miséria - que leva milhões de eleitores a trocar, de quatro em quatro anos, seus votos por um saco de feijão ou um par de sandálias Havaianas falsificadas.

Como mudar isso? Votando melhor? Mas como, se esses milhões de miseráveis eleitores não têm a mínima noção do que seja consciência política, do que seja votar melhor? Para eles, o que conta é o pagamento pela venda do único bem que possuem, seus votos. Daí, a perpetuação no poder de gente como José Sarney, Jader Barbalho e outras centenas de excelências que sempre viveram às custas da ignorância de seus eleitores.

Mas, então, é impossível mudar o Brasil? A meu ver, a única saída passa por uma eficiente política nacional de educação, que reduza - de modo gradual, mas constante - os ancestrais índices de analfabetismo. É claro que só isso não basta. É preciso também implementar programas de desenvolvimento regional nas áreas mais carentes do país, como a construção de fábricas, de açudes e, claro, de escolas.

Para realizar essa verdadeira revolução, precisaríamos, antes de mais nada, de um presidente que fosse um misto de Juscelino com Darcy Ribeiro, obcecado com obras, desenvolvimento industrial e, ao mesmo tempo, com educação. Brizola, que não realizou o sonho de ser presidente, poderia ter chegado bem perto desse ideal, não fosse o populismo exacerbado. Fernando Henrique, que exerceu dois mandatos, era para ter feito muito mais, tanto pela indústria, quanto pela educação. Já o Lula acha que ler é perda de tempo. Para ele, uma bolsa família vale mais que uma sala de aula.

Pelo atraso secular (e bota secular nisso!), o Brasil só toma jeito com um choque de ordem comandado por um líder com as características acima, que fique na presidência por dois mandatos seguidos e que eleja o seu sucessor. O Congresso, amigos da Veja, não vai mudar enquanto não houver uma redução drástica na taxa de analfabetismo. Não é à toa que o Chile - que quase não tem analfabetos - chegou aonde chegou.

E aqui voltamos ao xis da questão inicial: é necessário que a elite alfabetizada, unida em torno de um mesmo propósito, eleja - quando houver essa opção! - alguém empenhado em mudar o país pela educação e pelo trabalho. Só isso pode por fim ao assistencialismo que perpetua a ignorância e garante a farra desmedida e impune dos nobres congressistas brasileiros.

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