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terça-feira, 23 de março de 2010

Ayahuasca é droga?

Matéria do blog Ciência em dia

Três perguntas para Draulio de Araujo e Sidarta Ribeiro, co-autores de pesquisa do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) sobre efeitos do chá do Santo Daime no cérebro e na mente.

1. A ayahuasca pode e deve ser classificada como droga? Perigosa, talvez?

Draulio de Araujo - A Ayahuasca pode ser classificada como uma droga, sim, usando o entendimento de que ela contém substâncias químicas que alteram os mecanismos de neurotransmissão cerebral de forma direta. Baseado na mesma definição também podemos incluir nesse conjunto, o tabaco, o álcool, o café, e o chocolate. No caso da Ayahuasca, que age sobre o sistema serotonérgico, não há comprovação científica sobre a eventual dependência química causada pelo seu uso.

Sidarta Ribeiro - Certamente é uma droga muito mais benigna para o organismo do que a heroína e a cocaína, pois não há overdose conhecida, nem adição pronunciada. Entretanto acredito que existam grupos de risco que não devam experimentar.

2. Foi sábia a decisão de permitir seu uso, legalmente?

Draulio - Creio que a decisão de permitir seu uso foi acertada, por três motivos. Primeiro, a Ayahuasca tem alguns efeitos interessantes que agora começam a ser desvendados pela ciência. Alguns estudos tem apontado em uma direção curiosa: a Ayahuasca parece ter um papel importante para livrar do vício dependentes químicos em outras drogas, como o crack e o álcool. Estas, sim, com um prejuízo individual e social tremendo.

Sidarta - Acho que sim. A Ayahuasca é essencial para algumas religiões, e seu uso no contexto religioso me parece muito benigno, como o peyote entre os Navajo. Tornar ilegal uma planta sagrada me parece absurdo.

3. Acredita que o assassinato do cartunista Glauco poderá de alguma forma alterar a percepção pública sobre a relativa inofensividade da ayahuasca?

Draulio - Alterar, sim. Para qual lado, não sei. Depende da maneira como esse caso evolua. Meu temor é que a falta de informação e o juízo preconcebido acabem por pautar as discussões.

Sidarta - Espero sinceramente que não, pois o caminho para o "problema das drogas" não é proibir, e sim regular. O assassinato do Glauco não pode ser debitado na conta da Ayahuasca, pois o assassino usava "n" coisas diferentes, e parece ter psicotizado ao longo do tempo.


Texto editado pelo RA.

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2 Comments:

At 23/3/10 15:26, Blogger Celso Dutra said...

E se a cocaína fosse usada em algum ritual sagrado, seria legal também autorizar o seu uso?

 
At 23/3/10 16:43, Blogger Otacílio Rodrigues said...

Grande CD! Particularmente, eu sou pela total liberalização das drogas, o que inclui a cerveja, o cigarro, o café, a coca-cola e - por que não? - a maconha e a cocaína.

Afinal, o que torna um indivíduo dependente ou não de qualquer substância (legal ou ilegal) é o seu caráter, a sua formação e, também, a predisposição genética, chave de grande parte dos transtornos psíquicos que acometem criminosos como o assassino do Glauco.

Senão, como explicar que entre os cerca de 10.000 frequentadores da igreja Céu de Maria (fundada por Glauco), apenas uma pessoa tenha sido levada a cometer crimes (dois assassinatos, roubo de carros, tentativa de homicídio contra policiais) sob a suposta influência de um chá de ervas que só é tomado nos rituais?

A grosso modo, essa relação de 10.000 para 1 representa muito bem a porcentagem de indivíduos que, depois de experimentar, se entregam ao vício das drogas, legais ou ilegais, proibidas ou permitidas.

Lembrando sempre que para o viciado não tem a mínima importância se a droga é liberada ou não, pois ele vai encontrá-la onde ela estiver. A diferença é que, com a proibição, os únicos fornecedores são os traficantes, que têm poder de vida e morte sobre os viciados.

Um grande abraço!

 

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