O repórter como 'testemunha ocular da história'
Do Blog do Maurício Stycer
Armando Nogueira (1927-2010) deixou duas grandes marcas no jornalismo, o que não é pouco. Tanto o seu trabalho como cronista esportivo quanto seu papel na criação e consolidação do "Jornal Nacional" estão sendo devidamente lembrados no momento de sua morte. Menos citado, mas não menos importante, é o episódio que colocou o jornalista, por acaso, diante de um fato que entrou para a história do Brasil.
Repórter do "Diário Carioca", Armando Nogueira conversava com dois colegas do jornal na rua Tonelero, em Copacabana, na madrugada de 5 de agosto de 1954, quando testemunhou o atentado ao jornalista Carlos Lacerda, dono do jornal "Tribuna da Imprensa", maior opositor do governo Vargas. Os tiros dirigidos a Lacerda apenas o feriram, mas resultaram na morte do major Rubem Vaz, que o acompanhava.
A manchete do "Diário Carioca" no dia seguinte informava: "Disparou 6 tiros em Carlos Lacerda". E o subtítulo avisava: "Armando Nogueira, repórter do DC, assistiu e conta". A abertura da reportagem, escrita em primeira pessoa, foi reproduzida por Luiz Maklouf Carvalho no livro "Cobras Criadas":
"Eu vi o jornalista Carlos Lacerda desviar-se de seis tiros de revólver à porta de seu edifício, na rua Tonelero. Carlos Lacerda acabava de se despedir de um amigo – o major Vaz – e já ia entrando em casa quando um homem magro, moreno, meia altura e trajando terno cinza, surgiu por trás de um carro e, de cócoras, disparou toda a carga do revólver, quase à queima-roupa. Lacerda foi acertado no pé esquerdo; o major, atingido no peito, morreu pouco depois."
O "furo" de Armando Nogueira levou o "Diário Carioca" a esgotar a sua edição e ajudou a deslanchar a carreira do jornalista. Como se diz frequentemente, ao lado do faro e do talento, o grande repórter não prescinde da sorte.
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