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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vale tudo por uma cena dramática em Realengo


Foto AFP

Do Blog do Mauricio Stycer

Escola Municipal Tasso da Silveira. Terça-feira, 19 de abril, 7h50 da manhã. Próximo ao portão, o repórter de uma emissora de televisão entrevista um aluno que volta ao colégio pela primeira vez desde o massacre de 7 de abril. Acompanhado da mãe, o garoto deve ter uns 10 anos e muito pouco a dizer.

Ao final da entrevista, o jornalista os orienta a recuar 20 metros, para o câmera poder filmá-los chegando. Ele explica: "Vem de lá, aí quando estiver perto do portão você se despede e dá um beijinho nele". A mãe faz exatamente o que ele pediu.

Enviado pelo UOL Notícias, passei dois dias diante do portão da Tasso da Silveira. Na segunda-feira, houve o retorno às aulas das crianças no 9º ano. Na terça, de todas as demais. Fiquei impressionado com a tensão e o desespero dos repórteres e câmeras de televisão.

Além do empurra-empurra para conseguir imagens banais, presenciei inúmeras situações como a descrita acima, em que os colegas agem como "diretores" de cena, orientando os entrevistados, com o objetivo de conseguir imagens mais dramáticas e falas mais fortes.

Uma repórter de TV, porém, perdeu o início da entrevista de Renata e não registrou o momento em que ela revelou ter decidido tirar a filha da escola. Aflita, na frente de todos os colegas, que continuavam conversando com a mãe, a repórter enfiou o microfone na cara de Renata e implorou: "Fala isso pra mim: 'Ela não tem condições de estudar aqui'. Entendeu? Fala pra mim".

Nem todo mundo à porta da escola é pai ou parente de aluno. A concentração de jornalistas atrai muitos curiosos. Que também são entrevistados e dão palpites sobre o massacre, sobre segurança nas escolas, sobre o que for. Ouvi uma senhora dando entrevista. A repórter tentou várias perguntas, sem conseguir tirar nada "forte". Até que mandou: "A senhora acha que o massacre prejudicou a imagem do bairro?"

A secretária de Educação, Claudia Costin, pediu aos jornalistas que não abordassem os alunos. O pedido, naturalmente, não foi acatado . Pior, vi uma repórter reclamando depois de entrevistar alunos. "Duas crianças que não falam absolutamente nada. Não rendeu nada".

Na expectativa de ouvir frases de efeito, dramáticas, ela não atinou para a graça do diálogo que teve com um menino. "Como foi esta volta às aulas? Foi difícil rever a escola? E encontrar os amigos? Como foi?", ela questionou. E o garoto, em uma palavra, disse tudo: "Maneiro".

Editado e publicado no Resende Afora.

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