Perguntas de um anônimo e solitário admirador
Ando incomodado com o apoio de artistas e personalidades que sempre admirei à proibição da venda de armas. E fico aqui sozinho, diante da
tela do computador, matutando: por que agora estamos em lados opostos?
Será porque eu acho que, num país onde as leis mais elementares nunca são respeitadas, a realização de um referendo como esse é pura perda de tempo (e de dinheiro), já que não trará benefício algum à população, que precisa - muito antes de ser obrigada a opinar sobre assunto tão controverso - de educação, segurança, comida e emprego?
Será porque eu acho que, depois de proibidas, as armas irão se transformar em lucrativas mercadorias de traficantes, a exemplo das drogas?
Será porque eu acho que quando as armas se tornarem mercadorias ilegais haverá sangrentas disputas entre gangues pelo controle do tráfico como acontece hoje com as drogas?
Será porque eu acho que com a polícia corrupta (pelo menos, em grande parte) que nós temos, a venda de armas continuará sendo feita clandestinamente em todas as cidades, apesar da proibição?
Será porque eu acho que se houvesse um cadastramento efetivo dos proprietários (e/ou portadores) de armas de fogo - renovado ano a ano, como acontece com o cadastro de contribuintes isentos do Imposto de Renda - não haveria necessidade da proibição da venda de armas e, muito menos, de referendos?
Será porque eu acho que se não é possível um cadastramento efetivo de todas as armas existentes no país é também muito pouco provável que a simples proibição acabe realmente com o comércio de armas e de munições?
Será porque eu acho que o Brasil real - do interior de Minas, do Tocantins, de Goiás, do Mato Grosso, de Pernambuco ou do Amazonas - é muito diferente da sofisticada e politicamente correta zona sul carioca, endereço da maioria dos artistas apoiadores do sim?
Será porque eu acho que a sofisticada e politicamente correta zona sul carioca se espelha nos valores do Primeiro Mundo, mesmo vivendo em um dos países mais corruptos, injustos e violentos do planeta?
Será porque eu acho que a adesão maciça dos popularíssimos artistas globais à proibição da venda de armas vai contra os princípios de uma campanha isenta e imparcial?
Será porque eu acho que é, no mínimo, suspeito que as poderosas Organizações Globo - televisão, rádios, jornais, Internet, livros e revistas (vide Época) - trabalhem tão ostensivamente a favor do sim apenas por uma questão humanitária?
Será porque eu acho que existem proibições de mais - e justiça de menos - neste nosso rico país de pessoas pobres, ignorantes e, cada vez mais, indefesas?
Será, finalmente, porque eu acho que cada um tem o sagrado direito de fazer o que quiser de sua vida, como comprar ou não uma arma e, em caso afirmativo, correr o risco de um dia usá-la indevidamente e acabar na prisão ou no cemitério?
Diante de tudo isso, reafirmo: o meu sim é para o não.
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