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sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

PT caminha por um campo minado

A crise dos escândalos de corrupção que sacode o governo do Brasil, por intermédio de seus protagonistas

Yolanda Guerrero, do El País

Ninguém sabe com exatidão quando ou quem inoculou o vírus da ambição no Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil. Sabe-se, sim, que os sintomas tornaram-se visíveis há quase meio ano, depois que o deputado e presidente do Partido Trabalhista do Brasil (PTB), Roberto Jefferson, utilizou sua melhor oratória para denunciar no Congresso uma trama de subornos e corrupção no seio do PT. O próprio Jefferson havia-se envolvido em um caso de suborno em troca de licitações na empresa pública Correios.

Já encurralado, decidiu morrer matando e denunciou uma rede que envolvia altos membros do partido no poder. Acusou-os de pagar comissões ilegais a deputados para conseguir a maioria parlamentar que os votos não haviam dado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula possivelmente terá lembrado nos últimos meses as aclamações quase religiosas dos simpatizantes do PT há menos de duas décadas, quando fracassou algumas vezes em suas tentativas de chegar ao Planalto. Hoje, porém, Lula, embora permaneça ileso diante dos ataques, vê impotente como os assentos reservados a seus companheiros de lutas políticas ficam desertos.

Enquanto ainda se escreve o penúltimo capítulo da crise que transformou o PT em um campo minado, estes são alguns dos demitidos mais importantes, além de Dirceu:

Sílvio Pereira

Em uma carta enviada em 4 de julho, o ex-secretário geral do partido pediu ao então presidente, José Genoino, uma "licença" - eufemismo para demissão - por tempo indeterminado. Pereira viu-se arrastado por acusações de evasão de divisas e de financiamento ilegal das campanhas do PT, entre outros delitos. Tanto ele quanto Genoino foram alvos importantes das denúncias de Jefferson, que os acusou de aceitar em 2003 um empréstimo de R$ 2,4 milhões com o aval do publicitário Marcos Valério Fernandes.

Delúbio Soares

Um dia depois da saída de Pereira, aquele que exercia o cargo de tesoureiro do PT fazia o mesmo. A revista "Veja" havia informado sobre a existência de um empréstimo bancário a favor do PT feito por Valério Fernandes, assinado por Genoino e Soares. O presidente do partido negou num primeiro momento que conhecesse Valério, mas depois viu-se obrigado a admitir que havia assinado o aval, apesar de explicar que o fez sem prestar atenção, pela confiança que tinha no tesoureiro Soares, que era amigo pessoal do publicitário.

José Genoíno

Sua renúncia, somada às de Pereira e Soares, deixou o PT acéfalo. O até então presidente do partido havia sido acusado de ocultar e abençoar as milionárias compras de votos. Mas o estopim de sua saída foi a detenção, em um aeroporto de São Paulo, de um funcionário petista, José Adalberto Vieira da Silva, quando transportava centenas de milhares de reais.

Vieira, que ocultava parte do dinheiro na cueca, era assessor do irmão de Genoino, um deputado estadual. "Isto é um pesadelo", teria dito Lula ao saber do episódio.

Luiz Gushiken

Na maré de reestruturação do gabinete provocada pela crise, Lula manteve contra todos os prognósticos o então ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, que coordenou a campanha de 2002. Gushiken estava sob suspeita depois das informações de que uma consultoria de sua propriedade, a Globalprev, havia multiplicado por dez seu faturamento anual durante o primeiro ano do governo Lula.

Para evitar uma destituição que aumentasse a crise, Lula optou por uma solução salomônica: rebaixou Gushiken, cuja pasta deixou de ter nível de ministério. Transformou-se em chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. Quer dizer, simplesmente um assessor.

Publicado hoje no UOL Mídia Global

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