O bom, o mau e o feio
Crônica de Nelson Motta
Sob um sol escaldante, num palanque da Baixada Fluminense, foi muito divertido ver as caras dos deputados Júlio Lopes e Ronaldo César Coelho, arquetípicos mauricinhos cariocas e perfeitos representantes da Zona Sul, suando em seus Armanis e ouvindo Lula dizer que não tinha a cara deles, mas a do "povo sofrido" que estava ali para aplaudi-lo. O "povo sofrido" (ir à Baixada ao meio-dia para ouvir Lula falar é mais um sofrimento) certamente foi levado em caravanas patrocinadas pelos caras da Zona Sul.
Sobrou também para o prefeito petista de Nova Iguaçú, o gatinho Lindbergh Farias, anfitrião de Lula na inauguração das obras. É de origem nordestina, mas parece um surfista, é a cara de qualquer garotão de Ipanema – e graças a ela ganhou o apelido de "Lindinho" e derrotou nas urnas o casal Garotinho, que não é especialmente bonito.
O presidente do "país de todos" se orgulha de não ter a cara dos caras da Zona Sul e nem da Avenida Paulista – que pagam impostos para suas bolsas-família, bancam suas campanhas eleitorais e levam público para suas inaugurações e comícios – e, na ânsia de se identificar com as "caras sofridas", e ganhar seus votos, pareceu dizer que além de pobres eles são feios. E burros, para acreditarem nessas demagogias rasteiras.
Lula apenas repetiu George Bush, que recentemente, no interior do Texas, teve um surto populista diante de uma massa de broncos e jecas e disse que eles sim, eram os "verdadeiros americanos". Os outros americanos, que pagam impostos, doam milhões para campanhas e não são tão primários e crentes como os que Bush chamou de "verdadeiros", se ofenderam: seriam eles os "falsos"? Diante do bombardeio na imprensa, com marqueteiros em polvorosa e pesquisas contundentes, Bush reconheceu que pisou na bola. Lula ainda não.
Publicada no site Sintonia Fina (link nos Favoritos do RA).
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