Aula de fotografia
As imagens acima fazem parte do meu primeiro ensaio fotográfico, feito numa época em que sequer sabia o real significado dessa expressão. Daí, a precariedade dos enquadramentos e da abordagem do assunto que, hoje eu sei, era riquíssimo para fotógrafos experientes (um contraponto cruel com a extrema miséria dos habitantes do lugar).
O que mais me marcou nessa visita à Favela da Maré – na verdade, tratava-se de uma aula prática de fotografia em grupo -, foi a expressão de felicidade das crianças registradas nos filmes que, mais tarde, eu mesmo revelaria num laboratório improvisado no banheiro de casa. Para elas, tudo aquilo - o cheiro insuportável, a ausência de condições mínimas de higiene, a falta de brinquedos e de áreas próprias para brincar – parecia ser absolutamente normal. Como se todas as crianças do mundo vivessem daquele jeito.
Por isso, encaravam com naturalidade nossas câmeras apontadas como se fossem armas. E traziam as mães, os irmãos, os primos, a família toda para sair na foto. "Tio, depois você traz pra gente ver?"
"Claro. Assim que estiverem prontas, nós voltamos", dizíamos, certos de que não cumpriríamos a promessa.
Vinte e cinco anos depois, como estarão esses adultos retratados quando crianças, alegres e despreocupadas, em meio às fétidas palafitas da Favela da Maré? Será que compareceram à inauguração do museu? Será que se lembram de ter, um dia, posado para as amadoras lentes de um grupo de jovens candidatos a fotógrafos?
Eu, de minha parte, nunca esqueci.
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