A história da Domingo é também a minha história
A revista Domingo foi minha fiel companheira durante os longos anos que vivi na capital. Como meu pai era assinante do Globo, eu comprava o JB apenas duas ou três vezes por semana. Mas o de domingo era sagrado, principalmente por causa da revista. Adorava as matérias de comportamento, de turismo, de moda, de cultura e de gastronomia, nas saborosas crônicas do grande e saudoso Apicius.
Tudo com a cara do Rio, descontraído, despojado, irreverente e sensual. E eu, nesses anos dourados, era carioca até a medula, orgulhoso da "minha" cidade, como costumava chamá-la. Aos meus amigos, dizia que só trocaria o Rio por Nova York e, mesmo assim, com passagem de volta. Vim parar em Resende. Meio por acaso, meio provisoriamente e já estou aqui há quase 18 anos, com dois filhos praticamente criados e a sensação - cada vez mais forte - de que daqui não saio, daqui ninguém me tira.
Mas nunca perdi o hábito de comprar o JB aos domingos e de conferir, antes de pagar, se a revista está mesmo dentro do jornal. Como leitor contumaz (e voraz), acompanhei todas as transformações da Domingo ao longo de sua história, desde quando o departamento fotográfico era de responsabilidade da célebre Agência F4 (a primeira agência de fotógrafos do Brasil), sob o comando do não menos célebre Rogério Reis (um dos personagens do filme Cidade de Deus), com quem eu vim a trabalhar - anos mais tarde - na Tyba, agência que reuniu os fotógrafos remanescentes das já extintas F4 e Câmara Três, onde iniciei a minha modesta carreira.
Depois da saída da F4, as sempre belas fotos da Domingo ficaram a cargo da Agência ZNZ, criada pelos irmãos Dario e Sérgio Zalis, este último, atual diretor-executivo da revista Caras e antigo coordenador do departamento de fotografia de O Globo. Foi a ele que eu comuniquei a minha decisão de deixar o jornal para ficar definivamente em Resende e criar os meus filhos em regime de dedicação integral.
Por tudo isso, a minha relação de amor e fidelidade com a Domingo tem razões que transcendem às de um leitor convencional. De alguma forma, profissionais que fizeram seus nomes na revista acabaram cruzando o meu caminho (ou eu o deles), numa fase da vida em que isso era perfeitamente normal, já que estávamos todos no mesmo barco. Hoje, o ritual de procurar a revista escondida dentro do jornal, é também uma maneira de manter o passado ao alcance das mãos. Um passado que sempre volta nas coloridas páginas da Domingo.
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