João Gilberto de volta aos palcos
Do Portal G1
Nos 50 anos da bossa nova, apenas um nome faltava para completar as comemorações que se espalham pelo país. O cantor e violonista João Gilberto confirmou oito apresentações para este ano, a partir de junho, para celebrar o gênero que ajudou a fundar, com seu cantar meio falado, meio baixinho, e seu jeito novo de tocar violão.
"João Gilberto não dá um show, dá um recital", diz Zuza Homem de Mello, crítico e historiador de música, explicando que o artista baiano de 76 anos está longe das parafernálias que os artistas usam em suas apresentações.
De fato, basta um banquinho e um violão, praticamente sinônimos de bossa nova, para o cenário de um "recital" de João Gilberto.
"Ele prescinde de tudo o que é efeito. Prescinde de tudo o que é necessário para mascarar a essência do espetáculo que é a música propriamente dita. O deslumbramento de suas platéias sempre lotadas vem em grande parte das sutilezas e detalhes com que ele cria e recria, de forma obsessiva, canções que o acompanharam por toda sua carreira, como "Doralice", "Corcovado", "Insensatez", "O pato" e "Samba de uma nota só".
Notícia do ano
Para o crítico e produtor Nelson Motta (acima, na AEDB em Resende), o anúncio dos shows de João Gilberto "é a melhor notícia para a música brasileira neste ano".
"Ele é um grande mestre, continua insuperável. Nesse gênero que ele inventou, ele é único, nunca houve nada melhor", disse Motta, autor do best-seller "Noites tropicais".
Apesar das diversas contribuições para o gênero que refinou a música popular brasileira, incluindo o maestro Tom Jobim e o poeta Vinicius de Moraes, nada superou a "grande novidade" que João Gilberto trouxe com seu samba sincopado no violão e jeito único de cantar.
"Ele inventou um novo gênero musical. Não existe bossa nova sem a batida de violão do João Gilberto. Ele criou todo um mundo de possibilidades musicais", disse Motta.
Para o especialista, a prova da genialidade de João Gilberto está nas regravações dos sucessos "Chega de saudade" e "Desafinado" que ele fez em seu último disco de estúdio, "João voz e violão" (2000), que seriam muito superiores às suas primeiras versões, "sob todos os aspectos, incluindo voz".
Excêntrico
A fama de gênio vem junto com a de excêntrico. É perfeccionista nas gravações e shows, além de viver recluso no Rio de Janeiro, sem nunca dar entrevistas ou frequentar a cena musical da cidade. É como um ermitão, nas palavras de Zuza.
Embora solitário, João Gilberto mantém contato com os amigos por telefone, "e está perfeitamente ciente de tudo o que acontece, lê jornal, vê TV", diz Motta.
O primeiro show do ano será em 22 de junho no Carnegie Hall, em Nova York. Depois, João Gilberto se apresenta nos dias 14 e 15 de agosto no Auditório Ibirapuera, em São Paulo; dia 24 de agosto, no Teatro Municipal do Rio; e dia 5 de setembro, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Haverá ainda três shows no Japão.
Matéria editada pelo RA.
Marcadores: bossa nova, João Gilberto, Nelson Motta
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