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segunda-feira, 21 de julho de 2008

Meu bem, meu mal


Trincheira policial na entrada do Morro do Alemão

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Muito da graça e da beleza do Rio se devem à peculiar geografia desta cidade à beira mar, cercada por montanhas e colinas verdejantes. Hoje, essa qualidade rara é a sua trágica contradição poética: do alto das 600 favelas, dominadas pelo crime organizado, é que melhor se vê a beleza da cidade partida.

Essa bênção/maldição topográfica certamente faz diferença no confronto com metrópoles como São Paulo, Nova York e Bogotá, que reduziram a criminalidade drasticamente, mesmo com comércio de drogas muito maior. Mas nessas cidades as quadrilhas de traficantes não têm o poder do “movimento” carioca - nem as suas bases e posições privilegiadas. E, claro, elas têm forças policiais mais preparadas, mais honestas e mais eficientes, e um Judiciário que põe e mantém os bandidos na cadeia.

Uma ínfima parcela da população dos morros vive do crime, as agências bancárias da Rocinha são as que registram as menores taxas de inadimplência da cidade, o comércio popular floresce, postos de saúde e escolas funcionam melhor do que em outras áreas.

Não é preciso ser um estrategista militar para saber que há poucas missões mais ingratas do que desalojar tropas bem armadas do alto de um morro, protegidas pelo silêncio da população intimidada. O custo econômico, social e político dessas ações, o preço inestimável de vidas de policiais e de inocentes, é infinitamente maior do que os lucros do tráfico. Mas o crime tem que ser combatido, a polícia tem que proteger os cidadãos que lhes pagam os salários, como em São Paulo, Nova York e Bogotá.

O que fazer? Não tenho a pretensão de saber, mas também não pedi nenhum mandato eletivo nem cargo administrativo dizendo que sabia e podia resolver. Só paguei meus impostos e votei.

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