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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A volta do touro indomável



Da Folha Online (em Nova York)

"A Troca" ainda nem entrou em cartaz no Brasil, e Clint Eastwood já lança nos EUA um novo longa: "Gran Torino" estreou aqui neste último final de semana e confirma a ótima fase do diretor. Desde "Sobre Meninos e Lobos", Clint só fez filmaços.

"Gran Torino" não é diferente e, atrativo a mais, tem Clint como protagonista. Ele interpreta Walt Kowalski, veterano da Guerra da Coréia (1950-53) e ex-funcionário da fábrica da Ford em Detroit. Recém-viúvo, passa seus dias na entrada de sua casa, bebendo cerveja, mascando fumo e praguejando contra a invasão de imigrantes em sua vizinhança, um típico subúrbio americano.

Kowalski é um homem escroto, rancoroso e agressivo, e sua velhice solitária simboliza a falência do "american way of life", do qual só o que resta é o carrão que ele mantém na garagem: um Gran Torino 1972, em perfeitas condições, motivo de cobiça no bairro e em sua própria família.

No roteiro de Nick Schenk, o ex-metalúrgico passará por um processo de redenção, iniciado pela convivência como seus novos vizinhos chineses. O cotidiano de Kowalski é invadido pelos adolescentes da família do lado, Sue e Thao, que tentam escapar do assédio de uma gangue local. Ao se afeiçoar pelos dois e fazer de Thao seu aprendiz, o velho racista aos poucos perceberá que nem todo asiático merece o desprezo que ele cultiva.

A vertente cômica de "Gran Torino" também se baseia nessa relação inter-racial. O caricatural Kowalski criado por Clint rosna quando contrariado e dispara sobre Thao e seus parentes um arsenal de piadas politicamente incorretas. Mas o humor é apenas momentâneo, e o filme toma um rumo soturno (e surpreendente) quando Kowalski entra no caminho da tal gangue, em defesa de seu protegido.

Em seu 29º longa-metragem como diretor, Clint Eastwood mostra um país decadente, moral e economicamente. E o faz da forma mais crua e direta possível, rosnando como o racista Kowalski.

"Gran Torino" deve estrear no Brasil em 6 de fevereiro. O também ótimo "A Troca" entra em cartaz um pouco antes, em 9 de janeiro.

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