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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Viola é o 'maluco beleza' do Resende


Viola em entrevista coletiva

Luciano Paiva, especial para o Pele.Net

Ser lembrado como um dos destaques da final de Copa do Mundo contra a Itália, em 1994, fazer inúmeros gols decisivos e tornar-se símbolo de uma geração de torcedores do Corinthians, a segunda maior do futebol brasileiro. Seria fácil para qualquer jogador, já com os seus 40 anos completos, se aposentar e curtir os louros de dedicação à vida esportiva ao lado da família e dos amigos, certo? Não se o atleta em questão for o folclórico atacante Viola, que se considera o mais novo "maluco beleza" do futebol do Rio de Janeiro.

Contratado para ser a estrela maior do Resende no Campeonato Carioca deste ano, o artilheiro assegura que ainda tem muito a dar para o futebol. Em um bate-papo muito descontraído com a equipe de reportagem do UOL Esporte, Viola fala sobre o passado, o presente, mas recusa-se a querer imaginar o seu futuro fora das quatro linhas. "Pode ser que de repente eu me torne um técnico. Só que acho que estou muito novinho para pensar sobre isso", diz rindo.

Com a mesma astúcia da época do seu auge de matador corintiano, Viola bem que tentou driblar os mais atentos. Ao ser questionado sobre o que motiva um jogador de 40 anos a continuar atuando em uma equipe de menor investimento, ele respondeu assim: "Pode parar. Eu tenho 38 anos, com carinha de 30 e corpinho de 25. Não sou gato. Eu ainda não cheguei na casa dos 40", afirma o centroavante, que se esquece que nos registros oficiais da Confederação Brasileiro de Futebol (CBF) e da Fifa, já tem tempo que ele saiu dos 30.

Se depender de confiança, o Resende está mais do que pronto para aparecer como a grande surpresa do Campeonato Carioca. Dono de um estilo inconfundível, Viola aproveita a oportunidade para mandar um recado para as jovens promessas do futebol nacional e fala sobre o que mais gostaria de ver no esporte que o apaixonou à primeira vista nos campinhos de terra de São Paulo... "A arte e a irreverência deveriam prevalecer sempre. É por isso que jogadores como o Romário, o Túlio, o Bebeto, o Zico e entre outros não deveriam parar de jogar nunca", disse.


Viola e o técnico Roy, do Resende

Pele.Net: O que faz um atleta vitorioso como você optar por continuar jogando em um clube de menor investimento?

Viola: Eu gosto de atuar, gosto muito de estar em campo, de treinar, de concentrar. Nunca fui de fazer corpo mole. Me amarro nessa rotina. O futebol é um vício que não te deixa escapar. Mas acima de tudo, e ao contrário do que muitos pensam, eu me sinto cada vez melhor para poder jogar. Estou com saúde, sempre me cuidei, não bebo e não fumo. Ou seja, a máquina está em pleno funcionamento (risos). Eu sou um jogador de 38 anos, com rostinho de 30 e corpinho de 25. Além do mais, eu me tornei um carioca. O Rio de Janeiro não quer me deixar ir embora, e eu não quero ir também.

Pele.Net: É complicado deixar o futebol?

Viola: Claro que é. A gente joga porque gosta, pois é a nossa vida. Passamos a maior parte do nosso tempo lidando com isso. Poucos são aqueles que pensam que um dia terão de parar, terão de arrumar alguma outra coisa para fazer no tempo livre. Mas um dia a aposentadoria chega para todo mundo. Mas posso dizer que ainda estou longe disso. Nada de me aparecerem com o papo de colocar a viola no saco.

Pele.Net: Você faz parte de um estilo diferente de atacante, daquele que promete gol, que promove os jogos, que faz o marketing. Isso está falta no futebol atual?

Viola: Olha, eu sou a favor de uma coisa no futebol. Para mim, jogadores como Romário, Edmundo, Bebeto, Túlio, Zico, Maradona, Garrincha, Pelé e entre muitos outros, jamais poderiam deixar de jogar. São símbolos como esses que fazem a alegria do esporte. Não sei dizer se o futebol de hoje em dia é mais chato, acho apenas que a molecada que está aparecendo tem pensado em diversas outras coisas. Você vê a maioria deles fazendo dois, três ou quatro jogos pelo profissional, mas logo em seguida são vendidos. Quando não saem cedo do Brasil querem comprar carrões de luxo e cordões de ouro. Assim não dá.

Pele.Net: Qual é o seu objetivo hoje em dia? Fazer um determinado número de gols?

Viola: Meu objetivo é o de apenas continuar jogando, e jogando bem. Tenho 999 gols na minha carreira. Escolhi o Resende para fazer o milésimo (risos). Agora sério, tenho cerca de uns 450 gols como profissional. Mas esse número é apenas como profissional, não conto campeonato de botão, de várzea, nada disso. Mas a minha meta maior é desempenhar um bom papel aqui no Resende. Acho que isso é mais importante neste momento.

Pele.Net: O papel do Resende no Campeonato Carioca vai ser o de mero coadjuvante?

Viola: Muita gente vai achar engraçado, mas o Resende vai entrar na competição para ser campeão. Eu digo isso sempre para os mais jovens daqui, pois eles têm de acreditar sempre. Eu acredito. Se fosse diferente, eu não estaria aqui realizando a pire-temporada desde o dia 3 de janeiro. Para mim, o Resende é como se fosse a seleção brasileira. A estrutura é sensacional, estamos treinando no Centro de Treinamento da Confederação Brasileira de Vôlei e temos todas as condições de aprontarmos algumas surpresas. Nos últimos anos os exemplos dos clubes de menores investimentos estão aí para quem quiser ver.

Pele.Net: Você já pensa no que fazer quando decidir mesmo que vai deixar o futebol?

Viola: Acho que estarei mesmo do lado de fora dos gramados. A tendência natural de boa parcela dos jogadores que deixam de atuar profissionalmente é essa. Só me resta saber se serei um bom técnico. Quem sabe?

Pele.Net: E como você analisa a situação do Edmundo? Em um primeiro momento, ele disse que iria parar após o Campeonato Brasileiro de 2008. Depois voltou atrás em sua decisão

Viola: Cara, cada um pensa e decide aquilo que é o melhor para a sua vida pessoal. Foi como já disse: os ídolos jamais poderiam parar de jogar. No meu caso, eu pararia num boa se o momento fosse esse. Não vou me remoer por causa disso, mas acho que até mesmo as pessoas fazem uma certa pressão para que os atletas com mais de 30 anos se aposentem.

Pele.Net: Passava pela sua cabeça que o Vasco seria rebaixado?

Viola: Eu adoro o Vasco, tenho um carinho enorme pelas pessoas de lá, mas o clube está pagando pela administração ruim que teve por lá durante muito tempo. Um clube de futebol precisa muito ser organizado, mas ali isso não aconteceu. Torço muito para que o Roberto Dinamite consiga recolocar o Vasco em seu devido lugar, que é na elite do nosso futebol.

Pele.Net: Quantos por cento o Viola contribuiu para o futebol brasileiro?

Viola: Posso te dizer que 100% de serviços prestados. Não digo nem pelo título da Copa do Mundo de 94. Digo mais pelos gols, pelas partidas, e, principalmente, pelo fato de eu sempre ter sido uma pessoa muito correta na vida. Isso será sempre de fundamental importância para qualquer jogador. Muitas pessoas têm uma idéia errada do Viola, me chamam de maluco e tudo mais. Eu até sou maluco mesmo, mas um maluco beleza do Resende de agora em diante.

Pele.Net: O que você achou da contratação do Ronaldo pelo Corinthians? Ele traiu o Flamengo na sua opinião?

Viola: Achei sensacional. Quem não gostaria de contratar o Ronaldo? Aposto que ele vai fazer gols e muito sucesso em São Paulo, pois quem sabe jamais desaprende da noite para o dia. Ele só precisa mesmo entrar na melhor forma física para que possa ter uma seqüência de partidas. Sobre o Flamengo, apesar de não saber ao certo o que aconteceu, acho que o Ronaldo decidiu pelo melhor mesmo. Ele estava ali e nunca apresentaram nenhum projeto, nada. Vai fazer o que, ficar parado? De maneira alguma mesmo.

Pele.Net: Qual é a mensagem para aqueles que querem seguir no mundo do futebol?

Viola: Conselho? Rapaz, se eu for tentar dar um conselho em um garoto desse, além de ser xingado, ainda corro o risco de levar uns tapas. Você já viu o tamanho desses garotos nas divisões de base? (risos). Bom, eu acho que todos eles devem antes de mais nada respeitar os familiares sempre, isso sem contar com o fato de que todos devem ser o mais honesto possível.

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