O começo de tudo
Quem primeiro deu a notícia da suposta agressão à brasileira Paula Oliveira na Suíça foi o jornalista Ricardo Noblat. Em seu blog - um dos mais lidos do Brasil -, Noblat postou na última segunda-feira (dia 11/02), em primeira mão, a manchete reproduzida acima.
Em seguida, a TV Globo, baseada apenas nas informações recebidas por Noblat do pai de Paula (inclusive fotos dela grávida e com as marcas da suposta agressão), noticiou o caso no Jornal Nacional sem contar com o indispensável apoio de um repórter em Zurique que pudesse entrevistar, além do pai, o noivo da brasileira, os policiais que a socorreram, os médicos que a atenderam e, principalmente, a própria Paula.
Na esteira da Globo, a imprensa brasileira em geral - jornais, revistas, televisões, sites e blogs - passou a divulgar o impressionante caso da brasileira torturada por neonazistas suíços, levando nossas autoridades a cometer atos e declarações que prenunciavam um sério incidente diplomático com a Suíça.
O ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, convocou o embaixador suíco para exigir explicações e orientou a embaixadora brasileira a manifestar ao governo suíço a repulsa do governo brasileiro ao que aconteceu com Paula. Houve quem afirmasse que o governo brasileiro levaria o caso ao Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas. Lula declarou:
- Eu acho que nós não podemos aceitar e não podemos ficar calados diante de tamanha violência contra uma brasileira no exterior.
Depois das declarações do diretor do Instituto de Medicina Forense da Universidade de Zurique, Walter Bär, desmentindo a gravidez da brasileira e apostando na tese da autoflagelação, Noblat contou (em postagem do dia 13/02, sexta-feira) como recebeu a notícia do pai de Paula:
"Às 12h02 da última quarta-feira meu celular deu o sinal de que recebera uma mensagem. Abri e li:
'Caro Noblat: minha filha sofreu um ataque de neonazistas na Suíça onde trabalha oficialmente. Teve o corpo retalhado a faca com a sigla de um partido de extrema direita. Grávida de gêmos, abortou-os. Você me conhece do bairro de São José, no Recife. Nós nos reencontranos no aniversário de 80 anos de Armando Monteiro Filho. Trabalho com Roberto Magalhães. Assinado: Paulo Oliveira'.
Lembrei de Paulo. Imediatamente tentei falar com ele. Consegui seu celular por meio do deputado Roberto Magalhães (DEM-PE), que sabia do que acontecera.
Magalhães e o senador Marco Maciel (DEM-PE) haviam acionado o Ministério das Relações Exteriores, como me contaria depois Paulo.
Liguei e falei com Paulo em Zurique, onde ele chegara na véspera. Paulo me contou o que publiquei neste blog às 15h52 daquele mesmo dia.
Trocamos pelo menos meia dúzia de telefonemas antes que eu postasse a notícia. Pedi-lhe fotos de Paula grávida. Ele acionou Jussara, sua mulher, que estava no Recife, e as fotos vieram por e-mail - três. Em todas, Paula exibe a barriga crescidinha.
Pedi fotos que comprovassem a agressão sofrida por Paula. Quem as remeteu por e-mail foi o economista suíço Marco Trepp, companheiro de Paula.
Os dois pretendiam se casar. Foi o que a própria Paula me disse por telefone. 'Providenciei os papéis brasileiros que provam que eu sou solteira. Mas eles ainda terão de ser traduzidos oficialmente aqui para que possam ter validade'.
Perguntei como ela se sentia. 'Mal', respondeu. E não quis mais falar. Devolveu o celular ao pai."
A postagem continua com algumas considerações do Noblat (reproduzidas aqui no RA) sobre as suspeitas de autoflagelação. Numa delas, ele pergunta:
"Uma pessoa descontrolada emocionalmente, a ponto de retalhar o próprio corpo, seria capaz de desenhar com um estilete a sigla de um partido político nas coxas e na barriga só para conferir credibilidade à história de que fora atacada por três neonazistas?"
O que eu acho disso tudo? Em primeiro lugar, não sei se resistiria a publicar aqui no RA, em primeira mão, uma notícia como essa, tendo como fonte declarações e fotos enviadas pelo noivo e pelo próprio pai da vítima, um assessor parlamentar acima de qualquer suspeita.
Quanto à Globo, que colocou em risco a credibilidade do Jornal Nacional ao não enviar para Zurique um de seus correspondentes na Europa - as ótimas Sônia Bridi e Ilze Scamparini estão bem ali, na França e na Itália - para checar os fatos em sua origem, acho que a emissora pode, sim (como disse o Rui Martins em excelente artigo reproduzido aqui no RA), entrar para a história como a autora da maior barriga do jornalismo brasileiro.
No entanto, a palavra final sobre esse caso ainda não foi dita. Fatos novos ainda poderão surgir e toda cautela é pouco quando tratamos de vidas humanas. Afinal, problemas todos temos e a maioria deles só interessa a nós mesmos.
1 Comments:
Caro Rezende: você só esqueceu de dizer que no meu texto sobre como a notícia me chegou acrescentei que ouvi também a embaixadora, consul-geral do Brasil em Zurique. E que ela me disse que a polícia lhe negara com grosseria informações a respeito do assunto. Noblat
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