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segunda-feira, 2 de março de 2009

O fim da música

Crônica de Nelson Motta (via e-mail)

Assim como Fukuyama proclamou o "fim da história", pode-se dizer que estamos vivendo o "fim da música". Não no sentido apocalíptico ou de extinção, mas de saturação. Já temos música demais, há muito tempo, antes mesmo de todas estarem disponíveis na internet. Imagine que, no tempo em que você lê esta crônica, milhares de músicas, de todos os gêneros, estão sendo feitas no mundo inteiro e disponibilizadas na rede. Com certeza, apenas uma parte infinitesimal terá, por qualquer critério, alguma qualidade. O resto será puro lixo, apenas poluição sonora.

Desde que a música começou a ser gravada, a humanidade produziu óperas, musicais, canções, de todos os gêneros e ritmos, em todas as línguas, até desembocar na era digital, que acelerou o processo de universalização e banalização da música.

Hoje, com um programa de computador, qualquer um faz música, sem saber música e sem tocar qualquer instrumento. Depois do rap - a forma mais livre de música, porque não exige saber cantar nem tocar, bastam um beat e versos ritmados - nunca foi tão fácil fazer música. Ou pior, lixo musical, porque para fazer música boa, e bom rap, é preciso talento, que raros têm. Depois do rap, o que ainda se pode fazer de menos, em termos musicais?

E no entanto é preciso cantar, como dizia Vinicius, é preciso cantar e alegrar a cidade. O melhor é que nunca houve tanta liberdade e recursos tecnológicos para fazer música. O problema é todo o rock and roll que já foi criado de Elvis para cá. E os gigantes e divas do jazz. O acervo do samba brasileiro. São as óperas, os musicais da Broadway, os filmes. Melhor, é impossível.

Quem pode produzir hoje uma ópera ou um musical da Broadway, não melhor, mas pelo menos no nível dos melhores? Como ousar canções de amor sofisticadas depois de tudo que Cole Porter e Tom Jobim fizeram? Como reinventar o rock, a MPB, a bossa nova, o soul, o folk, o flamenco?

Talvez por isso a produção musical moderna mais interessante seja a derivada da eletrônica e do hip hop, das fusões de ritmos e timbres, principalmente porque nada, melhor ou pior, já foi feito antes.

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