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domingo, 9 de abril de 2006

O Dalai Enlameado

Sebastião Nery, na Tribuna da Imprensa

Com seu trágico rosto basco, como se feito a canivete, filho de Bilbao, capital da Viyzcaya, o País Basco, Miguel de Unamuno, cuja morte faz agora 70 anos, foi muitos anos o líder espiritual da nação espanhola.

Poeta, romancista, pensador, filósofo, jornalista, reitor vitalício da Universidade de Salamanca, quando se instalou a ditadura do general Primo de Rivera, líder espiritual do general Franco, em 1923, ele resistiu, foi desterrado para as Ilhas Canárias, fugiu para a França, lutou de lá até 30 e com a República voltou para a sua Salamanca e foi deputado socialista. Disse:

"Eu não dou idéias, não dou conhecimentos. Dou pedaços da alma".

Universidade

O maior e mais dramático crime do PT não foi a traição de Lula, entregando-se senzalamente, e entregando o País, aos banqueiros. Como não foi só a institucionalização da corrupção bandida e da mentira sistemática como forma de governo, com todos os seus sujos negócios domésticos.

O crime imperdoável do PT foi ter ferido a alma da tão frágil Universidade brasileira. A partir de 80, o PT ocupou a Universidade, toda a Universidade, de Norte a Sul do País, como coisa sua. E lhe vendeu a chama da esperança Lula-lá, que viria dar ao País novos caminhos e novos tempos.

Durante 20 anos, professores e estudantes, se não eram PT, tiveram que sair da frente e abrir caminho para a marcha mussolínica do PT chegar ao poder com a Universidade. E chegaram. E se apresentaram como a elite da elite da Universidade. Os melhores e os que melhor pensavam o País.

Lula

Quem não era PT era no mínimo um bastardo cultural. Fora do PT não havia Universidade, não havia salvação. Era aderir ou sumir de fininho. Chegaram, ocuparam, usaram e abusaram. De repente, bastaram três anos do governo Lula, do governo do PT, do governo deles, para sumirem.

A juventude percebeu que eles eram uma enganação estrelada. Uma propaganda reles de intervalo de "Big brother". Escafederam-se. Desapareceram. E deixaram a alma da Universidade na porta do Instituto Médico Legal.

Onde está o PT da Universidade? Onde estão aquelas dezenas, centenas de santos e gênios que, só eles, podiam ir aos seminários, participar dos encontros culturais, porque estavam sendo preparados, como monges tibetanos, para assumirem o governo com o Dalai Enlameado Lula?

Onde estão os intelectuais, os sábios, os quadros de Lula, aqueles senhores posudos da campanha de Lula, na televisão, os pares do Reino petista que iriam governar com Lula? Sumiram alijados ou com vergonha. Procurem hoje um deles na Universidade. Vai marcar encontro na cantina, disfarçado.

Ocidente

É uma pena. Não há país sem Universidade. Não há governo sem Universidade. E não há Universidade sem alma. Mesmo que fosse a alma do PT, para ser discutida, questionada. É uma maldade tanto maior quanto o Brasil nunca foi bom de Universidade. É nossa imensa mancha histórica.

Os povos nasceram, se desenvolveram, se formaram, a partir da Universidade. Não falemos da Grécia, Roma, Egito. O Ocidente é filho da Universidade. Na Itália, em Salerno, no século 11, "surgiu um novo tipo de instituição no mundo medieval, suprindo a deficiência das escolas catedrais e monásticas, que só preparavam os alunos para a carreira religiosa".

E veio a Universidade de Bolonha em 1088, Paris 1150, Nápoles 1224, Oxford e Cambridge na Inglaterra no século 12, Praga século 13, e Barcelona na Espanha, Cracóvia na Polônia, Viena na Áustria, Heidelberg na Alemanha, todas no século 14, Lisboa (depois Coimbra) em Portugal no século l6.

Mas eles são povos antigos. E os das Américas, jovens como nós?

América e Brasil

A Universidade de Lima (Peru) é de 1551, México 1553, Bogotá (Colômbia) 1622, Havana (Cuba) 1728, Santiago do Chile 1738. Até o final do século 16, a América Espanhola tinha 6 universidades e, na Independência, cerca de 19.

E o Brasil? O Brasil não teve nenhuma Universidade como colônia de Portugal e, até a Independência, formou menos de 3 mil jovens, sobretudo em Coimbra.

As principais escolas de nível superior, no Brasil, só começaram a funcionar a partir do século 19. Na República, só existiam no País 5 faculdades: duas de Direito (São Paulo e Olinda), duas de Medicina (Bahia e Rio) e uma Politécnica (no Rio). Em 1875, a Escola de Minas de Ouro Preto.

Farol

Dom Pedro II, com todo aquele charme barbudo de intelectual francês, passou 50 anos de Monarquia e não criou uma só Universidade no País. A primeira Universidade brasileira é de 1920, a Universidade do Rio de Janeiro, que, em 1931, virou a Universidade do Brasil. Tudo muito tarde demais.

De qualquer modo, no século passado, a Universidade brasileira, principalmente no Rio, São Paulo, Minas, Bahia, Pernambuco, foi o grande coração cultural do País, liderou os principais debates e movimentos públicos.

Em 45 e 85, saímos de duas ditaduras nos braços da Universidade. E nela o PT se proclamou o farol do amanhã. E nos deu o Dalai Enlameado.

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