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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Ninguém vê a TV do Chávez

Matéria do El País

Quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, decidiu no último dia 27 de maio não renovar a licença do canal Radio Caracas Televisión (RCTV), o antichavismo perdeu sua voz mais potente, uma emissora com mais de 30% de audiência que chegava a todos os cantos do país. Uma parte dos estudantes realizou mobilizações e a popularidade de Chávez conheceu seus momentos mais baixos nas pesquisas. A RCTV passou a emitir por cabo, com o qual continua atacando o governo, mas só chega à população que pode pagar por esse serviço.

O governo substituiu a RCTV por um canal que seria do povo e para o povo, uma emissora com vocação de serviço público, sem espírito lucrativo, um veículo que não ferisse a sensibilidade das crianças, onde a população se visse refletida e que primasse pela independência. Esse veículo se chama Teves (Fundación Televisora Venezolana Social). Transmite 24 horas por dia e chega a cada canto da Venezuela, como antes fazia a RCTV com suas telenovelas e sua informação antichavista.

Mas a televisão revolucionária quase não é vista. É de serviço público, mas sem público. E isso apesar de nos meses de junho e julho ter-se beneficiado dos direitos de transmissão da Copa América de futebol. Nesses meses a audiência foi de 8,9% e 8,3%, respectivamente, segundo a AGB Panamericana, única empresa de aferição da Venezuela. Mas em agosto a audiência baixou para 6%, em setembro para 4,6% e em outubro está em 3,6%.

"A Teves é puro enlatado, é como uma colcha fabricada com muitos retalhos que pegaram de diversos lugares e colaram", afirma Enrique Alvarado, vice-presidente do canal privado Televen. Alvarado reconhece que seu canal e a outra grande emissora privada, Venevisión, captaram a enxurrada de espectadores que a RCTV deixou.

Na Teves podem-se ver reportagens sobre escolas comunitárias, programas sobre artesanato, um espaço de saúde em que uma mulher, num canto da tela, traduz para surdos-mudos as palavras do médico, programas sobre música caribenha (a diretora da Teves é especialista nessa área). Os intervalos publicitários são aproveitados pelo governo para anunciar seu programa de troca da moeda, do bolívar para o bolívar forte. E ultimamente se aproveita para homenagear Che Guevara, com frases dele entre os programas... Mas nada disso teve eco na sociedade. Não há nenhum programa realmente popular.

O pesquisador grego Dimitris Pantoulas, professor de ciências políticas na Universidade de Bath, na Grã-Bretanha, e atualmente residente na Venezuela, escreveu na época a favor da "não-renovação da RCTV porque acreditava que qualquer país tem direito a regular seu espaço radioelétrico". Mas agora está um pouco decepcionado.

"A Teves se apresentou como um canal que ia elevar a cultura da população, ser um bom exemplo para o resto dos canais, respeitar a pluralidade, seria congestionado pelo público; a população decidiria o que quer ver. O canal não imporia como a população devia ser informada. Mas depois de cinco meses ele está abaixo das expectativas de muitos. Ainda não tem uma orientação clara. Está em fase de improvisação e o resultado, bom ou mau, vai demorar para aparecer."

Publicado no UOL Mídia Global.

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