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domingo, 14 de outubro de 2007

Rolex nascem no luxo e 'morrem' no asfalto

Daniel Bergamasco, da Folha Online

Em seu único mês no pulso da dona, o Rolex Oyster Perpetual da joalheira Natasha Pinheiro (ele, R$ 10 mil; ela, 26 anos) foi testemunha do lado mais doce do Brasil. Comprado na butique Daslu "em oito prestações", banhou-se no mar de Angra dos Reis - "biquíni com relógio é chique", informa Natasha -, passeou pelas vitrines grifadas dos Jardins e refletiu em seu vidro à prova d'água algumas das melhores festas da cidade.

As aventuras pelo mundo do luxo tiveram fim em um semáforo, como acontece com a maioria dos relógios de grifes roubados na cidade, segundo o Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado). Também foi assim com o Rolex do apresentador Luciano Huck, que, após ter sido assaltado, contou a história em artigo sobre violência publicado na Folha, há duas semanas.

Projetado em Genebra, na Suíça, feito com pulseira de aço, o relógio de Natasha era do mesmo modelo usado pelo James Bond de Sean Connery, mas com fundo de ouro rosa. Está desaparecido. O roubo aconteceu em uma esquina próxima ao shopping Iguatemi, de onde Natasha havia saído com a irmã após uma tarde de compras. Ela havia escondido o acessório. "Eu sei que "tá" no bolso, me dá o relógio!", gritou o assaltante, na garupa de uma moto, de capacete, com uma pistola na mão.

Vida na periferia

E lá se foi o Rolex de Natasha. Mas para onde? Segundo o Deic, o fim mais comum é o pulso de receptadores também endinheirados, que pagam alguns milhares de reais pela máquina roubada.

"Se custou R$ 10 mil na loja, sai por R$ 2.000, bem mais caro que meu Citizen", brinca o delegado Edson Santi.

E quem rouba? "São ladrões que vêm de moto da periferia e de cidades como Francisco Morato", ele diz. Para Santi, a ousadia dos ladrões aumentou. "Como os relógios têm um número de registro que permite o reconhecimento, era comum, até há cinco anos, que fossem vendidos longe dos donos, em países como Argentina e Uruguai. Hoje em dia estão ficando em São Paulo mesmo." Entre os motivos, ladrões apreenderam a adulterar esse "chassi".

"Na capital paulista - diz Santi - são revendidos em 'bocas de ouro', em escritoriozinhos da periferia. Ou então entregues aos compradores em locais públicos, como em lanchonetes de shopping center."

"Peguei trauma de Rolex. Prefiro usar um Cartier de ouro, que também é legal e passa mais despercebido. Qualquer bandido, hoje, reconhece um Rolex", diz Natasha, que ainda combina os relógios com biquíni quando vai a Angra.

Rolex de sobremesa

O roubo do relógio de Natasha é típico, segundo as informações do Deic. Os ladrões caça-Rolex costumam agir perto de lojas e restaurantes de luxo e ficam à espera das presas no semáforo. Muitas vezes, têm funcionários como informantes.

Há cerca de um ano, o restaurante "A Figueira Rubayat", um dos mais chiques e caros de São Paulo, detectou o problema: seus clientes acabavam de almoçar ou jantar e eram abordados alguns quarteirões à frente. Não houve indícios da participação de nenhum empregado, mas, segundo o Deic, o problema só acabou depois que o restaurante vetou o uso de celular por funcionários.

Belarmino Iglesias, o proprietário, diz que não foi bem assim: "Desde a abertura do Figueira, nunca permitimos durante o serviço e nas dependências do restaurante o uso de celulares pelos funcionários. Acho que o que realmente resolveu essa questão foi que a polícia na região dos Jardins passou a atuar diferentemente, abordando e revistando motos, colocando mais carros em ronda nessa região." Ele - que diz saber de apenas dois roubos - também conta que reforçou a vigilância no local.

Lá fora, tudo bem

O piloto de Stock Car Luciano Burti teve um Rolex roubado, segundo ele, pelo filho da faxineira. Em São Paulo? "Não, foi na Inglaterra. A empregada era de confiança, mas o filho dela era viciado (em droga)."

Apesar de ter levado o prejuízo na Europa, Burti só costuma circular com sua coleção de relógios (Chopard, Bulgari, IWC, entre outros) por lá. No Brasil, se sente "inseguro".

"Em São Paulo acabo usando um modelo simples ou vejo horas no celular. Olha, cara, a gente sabe que o perigo existe, não dá para ficar na neura pensando no relógio", diz o piloto.

E o Rolex Oyster Perpetual de Natasha? Voltará, um dia, a enfeitar o pulso da dona? "Tem gente que recupera o relógio. Acontece de o receptador levar na assistência técnica e o roubo ser descoberto, por exemplo. Mas não é muito provável", conclui o delegado do Deic.

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