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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Os erros da imprensa no caso 'Paulo O.'


Da Época Online

Aparentemente, a história tinha tudo para ser um grande escândalo que transbordaria os modestos limites geográficos da Suíça: um brutal ataque xenófobo cometido por três skinheads contra uma indefesa brasileira grávida de gêmeos, com detalhes gráficos saborosos – corpo retalhado de cortes com a inscrição SVP, sigla alemã para Partido do Povo Suíço – e um aborto como consequência. Só que era tudo mentira, e o caso real, se deixado nas mãos das autoridades locais, provavelmente mereceria não mais que uma matéria de fait-divers assim que os fatos tivessem sido devidamente apurados.

Mas não. O caso Paula Oliveira (ou Paula O., como preferiu chamar a imprensa local, cuidadosa em manter a privacidade da suposta vítima, procedimento desconhecido da imprensa brasileira) assumiu dimensões de ópera bufa, ou quase uma comédia, não fossem as consequências da farsa tão trágicas para Paula e sua família. Que também têm sua parcela de culpa na armação desse circo midiático o qual, se não chegou a provocar um incidente diplomático de fato, em muito contribuiu para atiçar os sentimentos xenófobos da população, encorajando os mais exaltados a expressar livremente pela internet, blogs e comunidades virtuais, seus sentimentos mais obtusos.

Pouco depois de acionar a polícia e dar queixa do incidente supostamente ocorrido na estação de trem do subúrbio zuriquenho de Stettbach, Paula Oliveira comunicou a família. O pai, Paulo Oliveira, pediu ao namorado da filha que fotografasse as marcas pelo corpo, e, na qualidade de bem-relacionado assessor parlamentar, não hesitou em enviá-las aos seus contatos privilegiados na mídia e no governo.

Pode-se entender a atitude de Paulo Oliveira. Afinal, antes de mais nada, ele é pai, e é perfeitamente cabível que acreditasse piamente na versão da filha. A mídia, no entanto, não é pai (Deus é Pai), mas supostamente – advérbio mais frequente na história toda, também riscado dos manuais de redação nacionais – um corpo profissional dotado de regras de procedimento básicos, como por exemplo, critérios de apuração. Ou assim deveria ser.

Passando por cima de todas as regras éticas e de conduta que qualquer estudante de jornalismo supostamente aprende em seu primeiro ano de faculdade, a imprensa brasileira em poucas horas criou todo um circo de histeria e sensacionalismo. O cuidado da polícia zuriquenha, buscando resguardar a privacidade da vítima e o sigilo das investigações, foi considerado no Brasil como evidência de incompetência e, mais grave, de racismo da própria instituição. Afinal, os policiais ousaram até questionar a versão da pobre Paula. Quanta falta de sensibilidade...

Para ler toda a matéria, clique aqui.

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