Dos 50 anos de Brasília, três são meus

Na foto acima, feita numa das últimas vezes que estive em Brasília (anos 1990), a Esplanada dos Ministérios, tendo à frente o Conjunto Nacional, um dos primeiros shopping centers do país.

Lá, eu comprava discos e livros, assistia filmes (vi quase tudo do Bergman nas últimas sessões noturnas), namorava as vitrines e tomava, de vez em quando, uma cerveja solitária. Depois, voltava pra casa a pé (morava a duas superquadras de distância), cheio de sonhos na cabeça.

Descobria a vida no Planalto Central, cursava economia na UnB, inglês no Brasas, um futuro aparentemente risonho pela frente. Naquele tempo, minha única preocupação era levantar cedo para não chegar atrasado à faculdade, onde passava o dia inteiro assistindo aulas e estudando na biblioteca, uma das maiores e melhores que já vi.

No começo da noite, pegava o ônibus que me deixava na Rodoviária que, por acaso, ficava em frente ao Conjunto Nacional. E aí, ao invés de ir direto para casa, acabava entrando em algum cinema ou discoteca, que é como se chamavam as lojas de discos antigamente.

Sem dúvida, foi ali no Conjunto Nacional, assistindo Bergman e folheando livros e revistas do mundo inteiro, que começou a nascer o fotógrafo/jornalista/blogueiro que sou hoje. O curioso é que nenhum dos meus sonhos da época apontou o caminho certo. E a fotografia só entrou na minha vida depois de ter completado o curso de Economia, aqui na UFRJ.

O diploma, que levei muitos anos para buscar na faculdade, está bem guardado no mesmo arquivo de aço onde ficam as fotos (slides) que fiz nos mais diversos lugares (inclusive Brasília) quando trabalhava para o saudoso Caderno de Turismo de O Globo. E parecem conviver bem, o diploma e as fotos. O passado que ficou no passado e o passado que virou presente.

Parabéns, Brasília, pelos 50 anos hoje. Depois de tanto tempo distante, é difícil acreditar que vivi uma vida aí. Uma vida inteira em apenas três anos.