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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Uma questão de piso








Fotos feitas ontem entre 11:22 e 12:32

A radical reforma da avenida Nova Resende não se resume ao asfalto que já cobre a pista destinada ao trânsito de veículos. A outra metade da avenida está sendo - desde ontem - transformada em um espaçoso calçadão formado por blocretes (blocos de concreto intertravados), que alguns engenheiros e ambientalistas consideram o piso ideal para as cidades, já que não impede a passagem da água da chuva para o solo.

No entanto, o piso intertravado, mesmo com suas vantagens ecológicas, não costuma ser utilizado nas chamadas vias expressas, onde o trânsito de veículos é constante. Nesse caso, as melhores opções ainda são o asfalto e o concreto, materiais mais resistentes a depressões, ondulações e rachaduras, sendo o primeiro mais indicado para áreas urbanas e estradas com movimento médio de veículos, e o segundo restrito a rodovias com grande volume de tráfego, principalmente de veículos pesados.

Já os blocos de concreto (intertravados) e os blocos de pedra (paralelepípedos) são recomendados para ruas de pouco movimento de veículos, pátios de manobra, estacionamentos e também - no caso dos intertravados - para a pavimentação de praças e calçadões. Jamais, portanto, para vias urbanas como a avenida Nova Resende, uma das mais movimentadas da cidade que lhe empresta o nome. Isso serve para a maioria das ruas do bairro de Campos Elíseos, que abriga o principal centro comercial e financeiro de Resende.

Do outro lado do rio Paraíba do Sul, o centro histórico, por sua vez, é o exemplo típico de área urbana onde os paralelepípedos continuam sendo a melhor opção, mais até por razões estéticas do que propriamente ecológicas. Afinal, os poucos casarões centenários que ainda restam por lá combinam perfeitamente com os rústicos blocos de pedra quase tão antigos quanto eles.

Se temos em Resende este bom exemplo de piso certo no lugar certo, temos também um caso que mostra claramente o que acontece quando a escolha do material é, no mínimo, equivocada. Trata-se da avenida Riachuelo, no bairro Nova Liberdade, calçada com blocos de concreto e considerada uma das vias mais acidentadas da cidade. Será que o responsável pela obra não levou em conta o grande volume de tráfego que, com o passar dos anos, acabaria deformando inteiramente o piso? Ou será que se imaginava na época que o intertravado era uma alternativa mais moderna, mais duradoura e mais barata do que o asfalto?

Como responder a essas perguntas é tarefa para quem entende do riscado, "convoco" para o debate o arquiteto e urbanista Pedro P. Palazzo - formado na Universidade de Maryland (EUA) e mestre pela Universidade de Brasília, onde leciona Teoria e História da Arquitetura - que considera "infames os blocos intertravados de concreto, vulgos 'blocretes' ou 'paralelepípedos de concreto'. No site Ábaco Arquitetura e Design Ambiental, ele afirma:

- Blocretes são caros para instalar, caros para manter (apesar do argumento de que "é só substituir o bloco quebrado"), e a própria viabilidade da sua manutenção é questionável, já que se trata de modelos comerciais que podem sair de linha ou estar indisponíveis quando mais se precisa deles. Isso sem falar que, assim como o asfalto, o concreto é um material altamente industrializado, cuja fabricação é muito poluente e dependente de recursos não-renováveis. Se for para usar blocos intertravados, que seja só em estacionamentos ou vias residencias com volume de trânsito desprezível.

Em relação aos paralelepípedos, Palazzo - que é membro do International Network for Traditional Building, Architecture and Urbanism e do Instituto de Arquitetos do Brasil (confira aqui) - tem os blocos de pedra em alto conceito:

- O calçamento com paralelepípedos é mais adequado sempre que a intenção for aumentar a segurança do pedestre, restringindo a velocidade dos carros, desestimulando a direção perigosa, bem como desviar o tráfego de longa distância e de veículos pesados para outras áreas da cidade. Também é preferível o calçamento com paralelepípedos sempre que não houver previsão de monitoramento constante do estado de conservação da pista, já que a durabilidade dos paralelepípedos é incomparavelmente maior.

A bem da verdade, o que Palazzo diz sobre o calçamento com paralelepípedos confirma a minha citação do centro histórico de Resende como o local perfeito para esse tipo de material, ou seja, pouco tráfego de veículos, restrição de velocidade e obras de manutenção esporádicas. Aos outros bairros da cidade que não preenchem esses requisitos, só resta, a meu ver, uma única opção: o asfalto. O mesmo asfalto que, aliás, cobre as principais ruas e avenidas das principais cidades do mundo.

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