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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Balas perdidas na Rocinha

Clóvis Rossi, na Folha.com

Entenda-se o "balas" do título não no sentido literal, físico, mas como oportunidade perdida para discutir questões de fundo a respeito do narcotráfico, crime organizado etc, que foram, afinal, os motivos que impulsionaram a retomada da Rocinha.

Surpreende que a maior parte dos jornais do mundo que noticiaram a operação se surpreenderam com o fato de que não foi disparado um único tiro. Pudera: dez dias antes, as autoridades avisaram da reocupação, o que deu tempo aos traficantes de fugir tranquilamente.

Posto de outra forma: o objetivo da operação era recuperar território. Ponto. Não era desarticular as quadrilhas instaladas nas três comunidades invadidas. É óbvio que, nessas circunstâncias, o narcotráfico continuará vivinho da silva, até porque o consumo está longe de diminuir.

O segundo ponto que se deveria discutir (nota do RA: o primeiro ponto está na íntegra da coluna, que pode ser lida aqui) é o papel das Forças Armadas no combate ao crime organizado. Ficou patente, acho eu, tanto no episódio da Rocinha como, antes, no Complexo do Alemão, que a polícia por si só não tem capacidade bélica para defenestrar os traficantes.

Recorre, então, aos fuzileiros navais e fica-se no limiar da violação constitucional, que veda às Forças Armadas desempenhar o papel de polícia.

É outra discussão delicada mas que tem que ser encarada se é para restabelecer o controle do Estado sobre todo o território nacional e não apenas nas zonas sul e centro do Rio de Janeiro - o que não deixa, em absoluto, de ter seus méritos, mas é pouco, muito pouco.

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".

Editado e publicado no Resende Afora.

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