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terça-feira, 11 de outubro de 2005

Corrupção no futebol reflete a política brasileira

Por Jonathan Wheatley, correspondente do Financial Times

Apesar de dizer que detesta a corrupção na vida pública, a maioria dos brasileiros comuns não considera que isso tenha um impacto direto em suas vidas. Mas outro escândalo causou ofensa pessoal a milhões de pessoas.

"Fiquei arrasada", diz Catarina Pedroso, uma estudante de psicologia de 18 anos e torcedora fiel do Palmeiras, um dos maiores times de São Paulo. "Nos jogos todo mundo grita 'juiz ladrão', mas você não acredita que seja realmente verdade."

É triste e irônico que os brasileiros tenham sua fé na paixão nacional posta à prova neste momento, quatro meses após o início de um escândalo sobre compra de votos e financiamento ilegal de campanhas eleitorais envolvendo líderes do Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os paralelos não são muito evidentes. O PT costumava ser indicado como símbolo de probidade na paisagem política brasileira, notoriamente corrupta. Sabe-se que a direção do futebol é podre há anos. Antigos apoiadores do PT, incluindo muitos membros do Congresso, choraram abertamente quando surgiu a notícia do escândalo político. Os torcedores de futebol pareciam, na maioria, apenas enojados.

Mas existem paralelos preocupantes na maneira como ambos os escândalos estão se desenrolando. Quando ficou claro que havia substância nas denúncias de corrupção política, Lula disse que o governo "cortaria na própria carne" para obter a verdade: os culpados seriam punidos, fossem quem fossem.

Mas depois de aconselhar as três comissões de inquérito do Congresso que examinam o caso a não fazer nada que pudesse prejudicar o crescimento econômico do Brasil (o qual, incrivelmente, parece não sofrer riscos), o presidente disse mais recentemente que os inquéritos pareciam incapazes de revelar provas. Ele comparou a situação atual com outras do passado, quando "as acusações aparecem mas não se concretizam".

As reações ao escândalo no futebol também parecem estar mudando. A revolta geral foi seguida por uma revolta seletiva dos times que agora enfrentarão novas partidas. Os que perderam na primeira vez estão contentes, os que ganharam não estão.

Juca Kfouri, um comentarista de futebol ultrajado, escreveu: "Que os certos e errados sejam punidos... Queremos tirar vantagem em tudo o que pudermos, sem preocupação pela justiça ou injustiça, o ético ou o antiético, seja na política (preciso explicar?), no esporte ou na vida".

Talvez mais representativa da reação pública seja Catarina Pedroso, a torcedora de 18 anos. "Acho que podemos confiar nos juízes em geral", ela disse. "Bem, acho que podemos... Não sei. Essa é difícil."

Trecho de matéria publicada no UOL Mídia Global

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