Os 'Pequenos Milagres' de Will Eisner
Do UOL Crianças
"É difícil falar sobre milagres. Ou você acredita neles, ou não. Eu acredito". É assim que Will Eisner (1917-2005) começa o prefácio de "Pequenos Milagres", recém lançado no Brasil pela Devir. No álbum (110 páginas, R$ 27,00), ele recupera os "causos" de sua juventude em um bairro de Nova York e os mistura com contos dos folclores judeu e alemão.
Will Eisner ficou famoso nos anos 40, quando criou o personagem "Spirit". Em 1978, ele publicou aquela que é considerada a primeira "graphic novel" (novela gráfica) da história: "Contrato com Deus", que fala sobre a vida nos cortiços do Bronx durante a Grande Depressão. Este álbum foi seguido de uma série de graphic novels de certa forma autobiográficas, como "O Edifício" e "Avenida Dropsie", que consolidaram Eisner como um dos mais influentes artistas dos quadrinhos.
"Pequeno Milagres" traz quatro histórias sobre coincidências tão incríveis, que só é possível acreditar nelas como se fossem aquilo que Will Eisner diz que elas são - milagres.
A primeira história, "O Milagre da Dignidade", é sobre Tio Amos. Considerado um parasita por algumas pessoas da família e um exemplo de dignidade por outras, ele consegue ir da ruína à riqueza e desta de volta à ruína num passe de mágica, caindo em armadilhas que ele mesmo cria.
"Mágica de Rua", segunda história do livro, fala sobre a sabedoria necessária para sobreviver no "território hostil" da vizinhança. Espécie de parábola, ela mostra como o Primo Mersh consegue vencer três valentões do bairro usando sua esperteza. "Mágica de Rua" fez parte do repertório da peça "Avenida Dropsie", adaptada no Brasil pela Sutil Companhia, de Felipe Hirsch.
"Um Novo Garoto no Quarteirão", terceira parte de "Pequenos Milagres", busca inspiração em Caspar Hauser - citado por Eisner no prefácio do livro. Um garoto "selvagem" aparece do nada e muda a rotina do bairro, harmonizando as relações entre todos, até que o egoísmo de um dos moradores faz com que ele fuja e todas as desgraças voltem a fazer parte do cotidiano da vizinhança.
Will Eisner termina sua série de "meinsas" (como se chamam os contos da tradição oral judaica) com uma história de amor. "O Anel de Casamento" é sobre a união, por conveniência, de uma muda e um deficiente físico. Trata-se de um conto melancólico sobre egoísmo, traição e perdão.
São quatro histórias simples, que poderiam ter se passado com qualquer pessoa, em qualquer lugar. O que chama a atenção no álbum - e talvez em toda a obra de Will Eisner - é a maneira como ele transforma personagens e situação ordinários em "Pequenos Milagres". É como se, apesar das páginas em sépia, Eisner de repente "colorisse" o cenário desbotado e em preto-e-branco que estamos acostumados a ver todos os dias.
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