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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Folha privilegia 'erros' dos pilotos americanos

A edição de hoje do jornal Folha de São Paulo publica mais uma reportagem de capa sobre o acidente com o avião da Gol, que matou 154 pessoas em setembro do ano passado e é considerado o maior desastre aéreo do país.

Assinada pela colunista Eliane Catanhêde, a matéria divulga os principais trechos (de acordo com a Folha) das conversas entre os pilotos americanos que conduziam o jatinho Legacy rumo aos Estados Unidos e os controladores de vôo de São José dos Campos (ponto de partida do Legacy) e de Brasília, e, também, entre os controladores de Brasília, Recife e Manaus.

Fica claro desde o início que o acidente teve como causa principal uma informação equivocada da torre de Brasília - que é a responsável pelo controle do tráfego aéreo na rota seguida pelo Legacy - para a torre de São José dos Campos, que simplesmente repassou as coordenadas para os pilotos americanos.

Ainda taxiando na pista de São José dos Campos, Joe Lepore e Jan Paladino pedem a confirmação, por três vezes, da altitude que deveriam manter depois da decolagem, ouvindo do controlador a resposta fatídica: nível de vôo 370 (que significa 37 mil pés). Só que os controladores de Brasília ignoravam que nessa mesma altitude - e voando em sentido contrário - vinha o Boeing da Gol. Este é o x da questão.

A tragédia não teria ocorrido se os controladores brasileiros tivessem cumprido o seu papel de informar, orientar, alertar e, assim, garantir uma viagem segura para os passageiros e tripulantes dos dois aviões. Tudo o mais nessa história tem papel secundário, como os diálogos entre os pilotos americanos recheados de palavrões, coisa mais que normal para a maioria dos colegas de profissão em seu ambiente de trabalho (sobretudo os mais jovens), ou as "dificuldades" que eles tiveram para operar alguns instrumentos do jatinho (em determinado trecho, um pergunta ao outro como se faz para o computador informar o tempo total do vôo).

Nada disso poderia ocasionar o acidente. Nem o fato de o transponder do Legacy estar supostamente desligado, por si só, causaria o acidente. Nada teria acontecido se os dois aviões estivessem voando nas altitudes corretas. Ponto final.

No entanto, a matéria da Folha prefere trilhar o caminho sensacionalista, reinvindicando um furo de reportagem ao apontar as supostas falhas dos verdadeiros culpados pela tragédia, desde a manchete da primeira página até o amplo espaço destinado à transcrição das conversas dos pilotos americanos, que ganhou até um fundo azul para destacar as chamadas em vermelho.

Enquanto isso, os diálogos dos controladores brasileiros aparecem na parte, digamos, menos nobre (canto inferior direito) das duas páginas, sem direito a fundo colorido. E é justamente lá que estão as respostas para as causas do desastre, é justamente lá que estão as verdadeiras manchetes que a Folha deveria ter utilizado na sua matéria, sem correr o risco de parecer parcial e tendenciosa. Afinal, patriotismo também tem limite. O limite da verdade.

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