Bastardos gloriosos
Bastardos inglórios não se limita a usar o cinema para conceder uma retribuição fantasiosa às vítimas da história. Em Bastardos Inglórios, é também no cinema, espaço físico de destinos alternativos, que se constrói um desfecho histórico alternativo.
Não sabemos o que teria sucedido à Alemanha se Hitler tivesse sido eliminado em 1939, ou em 1943, ou em 1944: três datas, três tentativas sérias. Provavelmente, o Reich teria desabado mais cedo. Mas sabemos que, em Bastardos Inglórios, Hitler e seus gângsteres são eliminados na sala de cinema. Como se a sala de cinema fosse também um tribunal último, capaz de repor um simulacro de Justiça num mundo tão radicalmente injusto.
Existe humor em Tarantino. Existe violência. Existe, palavra essencial, extravagância. Mas o amor ao cinema, como arte e possibilidade, é provavelmente maior do que a soma das três partes.
Disse humor, disse violência, disse extravagância - exatamente por essa ordem. Reitero. Esse trio explica a minha estima literária por Tarantino, um diretor que, antes de pensar com imagens, pensa com palavras. Haverá algum diretor vivo que escreva diálogos como Tarantino?
Sim, Woody Allen seria um nome válido. Mas Woody Allen é um mestre do "punch line", essa procura desesperada da piada inesperada. Tarantino é um mestre dos preliminares. Ele sabe que a piada está no adiamento da piada. Por isso os diálogos de Tarantino nos parecem tão luminosos, no sentido espiritual do termo: eles são a última exibição de racionalidade antes da carnificina irracional.
Para ler esta crônica na íntegra, entre aqui.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home