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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Velho Pirata em crise



O cartunista Laerte, 56, lança dois livros ligados a seu passado, prepara uma animação dos "Piratas do Tietê" e se diz em "crise"

Da Folha Online

Laerte Coutinho tem olhado para trás nos últimos tempos. Com dois livros ligados a seu passado chegando às livrarias, o cartunista, colaborador da Folha, diz se sentir velho, aos 56 anos. Os lançamentos são "Laertevisão", uma coletânea dos cartuns que publica aos sábados na Ilustrada, baseados nas memórias de sua infância, e o primeiro dos três volumes de "Piratas do Tietê - A Saga Completa", que reeditam sua criação mais célebre.

Mas Laerte tem mirado o futuro também. Quem o vê falar dos projetos em que está envolvido - uma animação dos Piratas, um filme da personagem Suriá, um desenho dos Tres Amigos para a TV, um livro inédito - fica intrigado com a fase de crise que diz atravessar.

A verdade é que a vida do cartunista tem passado por drásticas mudanças. Foi para ouvi-lo sobre tudo isso que a Folha foi até sua casa, em São Paulo. Veja a seguir o resultado.

FOLHA - Nos últimos anos suas tirinhas mudaram radicalmente.
LAERTE - É, porque eu perdi o jeito de um monte de coisas, de modos de fazer humor que eu tinha, de usar personagens. Tudo isso ficou esquisito, então passei a outros procedimentos. Em busca disso, passei dois anos fazendo uma tira absolutamente sem norte.

FOLHA - E por que você perdeu o jeito, como diz?
LAERTE - Cansou, por um monte de motivos, ficou... (pausa) Bom, é uma explicação que tem de passar pela morte do meu filho também (em um acidente de carro, em 2005), isso foi um divisor. Passei a ver e pensar as coisas de outro jeito, uma série de procedimentos começou a perder o sentido ou ganhar outros. Muito do que consistia a natureza das minhas tiras era um tipo de prestação de contas, como se eu as estivesse fazendo para algum juiz, era um modo extenuante de trabalhar. Passei a não achar mais graça no tipo de humor que fazia, não me identificava mais com aquele modo de fazer, então resolvi deixar de lado os personagens.

FOLHA - Para sempre?
LAERTE - Não, não quer dizer que eu os matei, só que fui atrás de outra coisa, fui buscar um modo de fazer que eu tinha aos 17 anos, algo bastante livre, indagativo, experimental, porra-louca. Fui atrás desse espírito.

FOLHA - Porque nessa fase você ainda não tinha o tal "juiz", é isso?
LAERTE - Sim, claramente foi começar a trabalhar que desenvolveu isso. Quando eu comecei a desenhar, não tinha muito claro que seria humorista, desenhista. Eu queria ser músico, jogador de futebol, fazer teatro, tudo isso de uma maneira muito aberta e sem expectativa. Eu tentei ir atrás disso, trabalhar a linguagem de tiras em outro contexto, fazer pequenos contos, cada tira sendo uma peça autônoma. Abandonei padrões gráficos, procedimentos humorísticos que eu tinha e parti em busca de outras narrativas.

FOLHA - Tornou-se mais fácil, então, criar as tiras?
LAERTE - Não, não facilitou. Abriu possibilidades, mas era muito mais complicado, eu demorava mais para fazer as tirinhas. Aí, no fim do ano passado, cansei, fiquei sem rumo novamente e passei a republicar o material do Classifolha, os cartuns livres, achei que dava para tirar um ano sabático. Não que isso seja livre de trabalho, eu pego as tiras e reorganizo num tamanho diferente, o que às vezes implica em construções diferentes.

FOLHA - Por que esse novo estalo?
LAERTE - Porque até essa linguagem nova chegou a um ponto em que eu não sabia bem o que fazer. A isso, somou-se meu acerto com a editora Desiderata para produzir uma história longa, de 96 páginas, e inédita. Passei seis meses fazendo um roteiro e concluí que ele não funcionava, voltei à estaca zero, vamos ver se um dia frutifica.

FOLHA - Em que fase você está atualmente?
LAERTE - Estou "Laerte em crise". Mas não é o fim do mundo, é um momento. Estou trabalhando nesse roteiro, acho que o resultado dele vai ser informativo para mim. Talvez eu volte a fazer as tiras como eu fazia, dentro do conceito aberto de pequenos contos.

FOLHA - Você já teve uma crise anterior, quando largou um casamento, um emprego formal e foi fazer quadrinhos. Elas se assemelham?
LAERTE - Sim. Na verdade, um pouco antes do acidente com meu filho, eu já estava mudando de rumo, já apontava o esgotamento da linguagem. Nesses momentos, é muito legal estar num jornal como a Folha, dois outros deixaram de publicar a tira porque ela ficou estranha, não tiveram paciência.

FOLHA - Alguns leitores reclamaram da mudança de estilo.
LAERTE - Teve desde a perplexidade positiva, uma curiosidade com vontade de ver mais, até gente que achou que não era mais a praia deles, além de leitores que se revoltaram contra algumas tiras específicas, como a que o personagem jogava golfe com a cabeça de um poodle.

FOLHA - Com essa mudança de foco, você passou a se importar menos com o julgamento dos leitores?
LAERTE - Sim, um pouco menos. Não tenho nenhum desprezo pelo leitor, mas passou a ter um peso diferente. É uma opinião, não quer ler, não quer renovar o contrato, tudo bem, acontece.

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2 Comments:

At 4/9/07 19:40, Blogger odontogen said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 4/9/07 19:42, Blogger odontogen said...

http://www.sisdera.com/radio

conforme combinado,é so escolher a estação ,abraços.
Parabens pelo blog

 

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